Os livros recomendados pelo ministério da Educação de Israel e
utilizados nas escolas do país, apresentam uma imagem "distorcida e
desumanizada" dos palestinos. Esta é a opinião da professora de
Pedagogia da Universidade Hebraica de Jerusalem, Nurit Peled Elhanan.
Depois de cinco anos de pesquisa em que examinou dezenas de livros
escolares, principalmente nas áreas de História, Geografia e Educação
Cívica, a pedagoga chegou à conclusão de que os conteúdos ensinados nas
escolas israelenses "disseminam racismo" contra os palestinos em
particular e os árabes em geral.
A pesquisa, publicada no livro Palestine in Israeli School Books - Ideology and Propaganda in Education
(A Palestina nos livros escolares israelenses - ideologia e propaganda
em educação, em tradução livre), inclui duras criticas ao sistema de
Educação de Israel, que, segundo a autora, "prepara soldados para a
guerra".
Seres primitivos
Em entrevista ao Terra, Peled Elhanan expôs mapas, fotos e
ilustrações que encontrou nos livros e afirmou que os palestinos não são
representados como pessoas comuns, mas sim como "problema, ameaça ou
seres primitivos".
De acordo com Elhanan, não consta nos mapas dos livros a fronteira
entre Israel e os territórios ocupados durante a guerra de 1967. "Os
alunos nem sabem que existe ocupação. O ensino os leva a pensar que os
palestinos são intrusos neste país, os assentamentos (construidos na
Cisjordânia) são chamados de povoados e os alunos pensam que não existe
diferença entre Ariel (assentamento no norte da Cisjordânia) e Tel
Aviv", afirmou a pedagoga.
"O ministério da Educação aboliu a fronteira entre Israel e a
Cisjordânia, não só nos livros, mas também em atos", disse, mencionando a
recente decisão do ministro da Educação, Gideon Saar, de instruir as
escolas do país a levarem os alunos para um passeio na cidade de Hebron,
na Cisjordânia. Segundo o ministro, o passeio pode contribuir para que
os alunos "entendam melhor suas raízes, já que em Hebron se encontram os
túmulos de nossos patriarcas e matriarcas".
Lavagem cerebral
NMs ultimos meses, centenas de alunos já foram levados a Hebron para
visitar o local denominado Mearat Hamachpela em hebraico, e Mesquita de
Ibrahim em árabe. Os passeios despertaram protestos de pais e
professores que se opõem à ocupação dos territórios palestinos e acusam o
ministério da Educação de "fazer lavagem cerebral" aos alunos.
Elhanan também afirma que as fotos e ilustrações graficas que
aparecem nos livros escolares representam os palestinos "sempre como
terroristas ou primitivos ou nômades com camelos". Segundo a pedagoga,
os textos dos livros escolares reproduzem um "discurso racista classico"
em relação aos palestinos.
"Os alunos não entendem o que os palestinos querem, não sabem que
suas terras foram ocupadas e nem que os palestinos reivindicam os
territórios ocupados em 1967 para construir seu Estado independente,
pensam que lutam contra Israel por 'puro ódio'".
"Os alunos saem das escolas sem saber coisa alguma sobre seus
vizinhos, que são apresentados como seres ameaçadores e amedrontadores. A
combinação de ignorância e medo gera racismo.", afirmou a pedagoga.
"Esse ensino racista é particularmente perigoso pois logo que terminam a
escola secundária os alunos são alistados no Exército", acrescentou.
Em Israel o serviço militar, tanto para homens como para mulheres, é
obrigatório e todos os jovens são alistados ao completar 18 anos de
idade.
"Interpretação política"
A reportagem do Terra pediu a reação do ministério da Educação.
De acordo com a porta-voz do ministério, Michal Tzadoki, a avaliação dos
livros escolares de Nurit Peled Elhanan "não é uma avaliação
profissional mas sim uma interpretação politica".
A porta-voz também disse que "os mapas não são produzidos pelo
ministério da Educação mas sim pelo Mapi (Centro de Mapeamento de
Israel)". O Mapi é uma instituição governamental que cede os mapas para
as editoras que produzem os livros escolares.