Guila Flint
De Tel Aviv
Centenas de manifestantes israelenses depredaram lojas e veículos em Tel Aviv e atacaram imigrantes africanos originários do Sudão e da Eritreia após um comício contra a presença desses imigrantes na cidade.
O comício, organizado por moradores de Tel Aviv contrários à presença dos africanos, contou com a participação de deputados do partido governista Likud, e de outros partido da aliança de governo.
![]() |
Israelis protest against African migrant workers in south Tel Aviv, May 23, 2012. |
Durante o evento, a deputada do Likud, Miri Regev, chamou os imigrantes africanos de "câncer em nosso corpo" e outros oradores exigiram a "expulsão imediata dos sudaneses".
Os discursos inflamaram a multidão e ao final da manifestação ocorreram ataques a locais identificados com os imigrantes, como uma mercearia que vende produtos da Eritreia.
A policia tentou conter a violência e 12 pessoas foram presas.
"Os líderes do governo, que chamam os refugiados de 'infiltradores de trabalho' e incitam os moradores contra eles, são os responsáveis pela violência", disse Rozen à BBC Brasil.
De acordo com as estimativas da prefeitura de Tel Aviv cerca de 10% dos habitantes da cidade são imigrantes ilegais da Eritreia e do Sudão.
Sem assistência do Estado, muitos deles dormem em parques ou alugam quartos, sobrecarregando a já precária infraestrutura da região, às vezes com 20 pessoas por quarto.
De acordo com Rozen, o governo "se esquiva" de verificar a situação dos africanos, "para não ser obrigado a conceder-lhes o status e os direitos de refugiados".
O ministro do Interior, Eli Ishai, chamou os imigrantes africanos de "criminosos" e disse que "todos devem ser presos e expulsos".
O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que a "inundação" do país pelos imigrantes africanos representa uma "ameaça à segurança e ao caráter judaico e democrático de Israel".
Israel é signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados e, segundo as leis internacionais, está impedido de repatriar os imigrantes vindos da Eritreia e do Sudão, pois estes correriam risco de vida ao regressar a seus países.
De acordo com o ministério do Interior, apenas 157 imigrantes são reconhecidos como refugiados.
Até o momento, as autoridades não realizaram uma triagem entre os imigrantes para verificar a situação deles e determinar se têm ou não o direito de receber status de refugiados.
O imigrante da Eritréia, Gabriel Tekle, que já se encontra em Israel há 5 anos, disse à BBC Brasil que "até agora nenhum representante do governo israelense falou comigo. Se ouvissem a minha história saberiam que mereço receber o status de refugiado".