O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse nesta quarta-feira para o chanceler francês, Alain Juppé, que a "propaganda contra Israel e os judeus" é a causa de ataques como o realizado nesta segunda-feira em Toulouse. "Acho que devemos lutar contra essa enorme propaganda contra Israel e os judeus em qualquer lugar, propaganda contra inocentes, que leva a realização de atos bárbaros", afirmou no início de seu encontro com Juppé, logo após o enterro em Jerusalém das quatro vítimas do atentado contra uma escola judaica na França.
Netanyahu voltou a criticar as declarações da chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, que nesta terça-feira lamentou casos como o atentado de Toulouse e a situação na Faixa de Gaza, onde "jovens foram assassinados em todo tipo de terríveis circunstâncias". O primeiro-ministro israelense disse que "há uma diferença essencial entre ataques deliberados contra civis e crianças e ataques não propositais contra civis que são parte de ações legítimas de luta contra o terrorismo". "Se fizermos esta distinção moral, teremos derrotado o terrorismo", mas "se permitimos uma analogia tão mentirosa, então eles terão ganhado".
O primeiro-ministro israelense acrescentou que "a luta contra o terrorismo requer maior clareza" e parabenizou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, por sua "postura clara e decisiva" diante do atentado que matou o professor e rabino Jonathan Sandler, 30 anos, seus dois filhos, Arieh e Gabriel, 5 e 4 anos respectivamente, e Miriam Monsonego, 7 anos.
Série de ataques
No dia 11 de março, um homem matou um soldado de origem magrebina em Toulouse. No dia 15, atirou em três soldados do regimento de paraquedistas na cidade vizinha de Montauban - dois de origem magrebina e o terceiro de origem caribenha - matando dois e ferindo um gravemente.
As autoridades francesas deflagraram na terça-feira uma corrida contra o relógio para deter o assassino, a partir de informações preliminares obtidas através de vídeos de vigilância, testemunhos de sobreviventes e de contatos entre o assassino e sua primeira vítima, de 11 de março. Os investigadores foram capazes de reconstituir parte do percurso do assassino desde o dia 6 de março, quando roubou a scooter que foi utilizada até o último ataque, na segunda-feira.
No período de 14 dias, o homem agiu a cada quatro dias e a cada vez utilizou uma scooter e duas armas calibre 9mm e 11.43, além de um capacete para evitar ser reconhecido. A cada assassinato, o criminoso disparou na cabeça "à queima roupa", destacou o promotor de Paris Francois Molins, responsável por esta investigação de terrorismo classificado.
No início da operação desta quarta-feira, três policiais ficaram feridos sem gravidade, um no joelho, outro no ombro e um terceiro atingido por disparo contra o colete a prova de balas.
O suspeito
Fontes ligadas à investigação afirmaram que o suspeito é Mohammed Merah, de nacionalidade francesa e de origem argelina. Ele já teria sido detido em Kandahar, reduto dos talibãs no Afeganistão, por crimes comuns, segundo outra fonte ligada ao caso.
Segundo Guéant, o homem cercado pela polícia "tem vínculos com salafistas e jihadistas e viajou ao Paquistão e ao Afeganistão". "Ele afirma pertencer à Al-Qaeda e que quer vingar as crianças palestinas e castigar o Exército francês", diz o ministro. O irmão e a irmã do jovem participavam do mesmo movimento, mas são menos violentos e não viajaram à fronteira entre Paquistão e Afeganistão.
"A polícia está certa de que ele é o autor do massacre: um jovem de 23 anos conhecido pelos serviços de informação franceses, que comprovaram seu envolvimento na série de assassinatos em Toulouse", destacou o ministro.
O suspeito "faz parte deste pessoal que volta das zonas de combate e que sempre é fonte de preocupação para os serviços de inteligência", revelou uma fonte ligada à investigação. O ministro Guéant afirmou que o homem era investigado pela inteligência francesa há "vários anos".
Os serviços de informação ocidentais estavam em alerta sobre uma dezena de jovens procedentes das zonas conflitivas da fronteira entre Paquistão e Afeganistão, incluindo alguns que seguiram para a França. O jovem era investigado pela DCRI (Direção Central de Informação Interna), junto a outros, desde os primeiros ataques, em Toulouse e Montauban.
Guéant confirmou que o suspeito foi encontrado graças à internet e às conexões que manteve com sua primeira vítima, um soldado que postara uma mensagem na rede para vender uma motocicleta. A emissora de televisão francesa BFM indicou que o jovem utilizou o computador de seu irmão para entrar em contato com o militar. Guéant, por sua vez, assinalou que o irmão foi detido na madrugada desta quarta-feira.