EXPLICAÇÃO
No caso concreto do conflito entre a entidade palestina e o Estado de Israel, pouco ou nada servem os antecedentes, ou melhor dizendo, a cronologia dos fatos, pois em ambas partes aninha a serpente do unilateralismo mais inflexível. Impossível e improdutivo mencionar qualquer fato anterior ao dia de hoje, porque os contrincantes já decidiram que a culpa de tudo é do outro. De tudo. De absolutamente tudo.
O pragmatismo, tão necessário para a solução de conflitos bélicos; de quaisquer rencilhas familiares; de tantas brigas entre amigos; de enormes diferenças na forma de olhar o mundo, de pesar os fatos, de radiografar a realidade, tão necessário e vital no caso do conflito entre deuses (que disso se trata); da procura de soluções onde ambas partes deverão ceder parcialmente ante os argumentos do oponente (que disso se trata); onde uma das partes alega ser titular de “direitos divinos” (deus como garante do contrato entre o povo judeu e a terra de Israel); onde a outra parte manipula com aleivosa má intenção a palavra do profeta (convidando a matar judeus em nome de Alá); sim, esse pragmatismo indispensável não está presente nem se espera a sua chegada.
O quadro geral mostra – para aqueles que não fazemos parte do jogo – um beco sem saída onde se encontram aqueles que foram eleitos para achar soluções e não para aumentar o tamanho e profundidde dos problemas, mas que na verdade desejam perpetuar o statu quo, pois dele se beneficiam eleitoralmente (o medo vota sempre à direita e ao fundamentalilsmo, seja medo do Irã ou medo de Alá). Senão vejamos:
A OCUPAÇÃO
Muita água rolou desde que Moshé Dayan definiu as terras ocupadas como moeda de troca que Israel devolveria quando se assinasse um tratado de Paz. Desde 1977, os governos de Israel se desentenderam dessa premissa e investiram tempo, gente, verbas descomunais, em transformar a ocupação transitória em anexação de facto. E isso custou vidas de muitos inocentes, assim como a degradação ética da força ocupante (invasão de casas com chutes nas portas ao estilo nazista; arrancando oliveiras dos palestinos; roubando, a ponta de metralhadora, terras e casas; expulsando de vilarejos palestinos pela força das armas a populações inteiras, etc.)
Hoje, o número de invasores supera o meio milhão, e o governo de turno diga o que diga, prometa o que prometa, seguirá investindo nessas áreas ocupadas, usurpadas, verbas imensas, e construindo mais e mais para usufruto apenas do “povo escolhido”.
OS ASSENTAMENTOS
Criados para serem trocados por Paz, com o tempo e com a ajuda da direita no Poder transformaram-se na explicitação da “vontade divina”. Para estes governos de direita/extrema direita, esse messianismo intolerante é condição sine qua non para qualquer solução.
Difícil não enquadrar essas atividades dentro da definição de crimes contra a humanidade (do povo palestino). Difícil não perder a esperança.
A POLÍTICA
Como sempre ocorre, Israel não poderia ser uma exceção.
Lembro quando há décadas constatava uma verdade difícil de entender. No Brasil, país de grandes contrastes, onde há ricos e muito ricos, pobres e miseráveis, não havia eleição em que os pobres e miseráveis não dessem a vitória aos candidatos ricos ou muito ricos, deixando fora da contenda aos candidatos que propunham defender os direitos dos pobres e dos miseráveis.
Por analogia, o quadro político de Israel também mostra essa incongruência: gente com medo da guerra vota nos artífices da guerra. Assim de simples.
Até no partido Kadima, até agora sob a direção de uma pessoa da direita “light”, passou agora para o comando de um general de extrema direita, originário do Likud, que declara que é contra a retirada dos territórios ocupados. E, não esqueçamos, Kadima, partido considerado de centro-esquerda, agora defende a ideologia da direita/extrema-direita.
Infelizmente, não existe hoje uma alternativa ao militarismo tão de moda no Estado de Israel e que pouco a pouco está conduzindo o país a um precipício nada metafórico.
No campo palestino, a situação não é melhor. Abbas, a serviço dos Estados Unidos (vinculado por empréstimos milionários a seu filho, oriundos do país do norte) perdeu credibilidade e peso dentro da facção que lidera.
É possñivel que isso tenha começado quando se prestou a uma infâmia que ficará registrada nos livros de História. Sim, quando Hammas ganhou as eleições nos territórios ocupados, Abbas aceitou a pressão de Israel e dos Estados Unidos e deu um golpe, revertendo o resultado do voto popular e assumindo o poder, que havia sido conquistado por Hammas. Aí nasceu a divisão entre Gaza e a margem ocidental do Jordão. E também a perda de credibilidade de Mahmud Abbas.
Não existe hoje uma alternativa real ao desencontro entre a ANP e Hammas.
RESUMO DA ÓPERA
O até aqui escrito é um resumo resumidíssimo do que poderia dizer sobre o tema (daria para um livro ou dois ou mais). Um pequeno capítulo de uma enorme tragédia evitável. Voltarei ao assunto.
Bruno Kampel