Hoje se comemora o Dia da Imigração Judaica. Com 45 sinagogas, 180
rabinos e 60 mil judeus, São Paulo tem a maior comunidade do Brasil, a
segunda maior da América Latina - perde só para Buenos Aires. Em alusão à
reinauguração ocorrida em 18 de março de 2002 daquela que é a primeira
sinagoga das Américas, fundada em 1630 no Recife, a data existe desde
2009, quando o então presidente em exercício José Alencar sancionou lei
do deputado Marcelo Itagiba.
Se ainda não é tradicional, a data já serve para provocar reflexão sobre o papel do cidadão judeu na história da metrópole.
De acordo com a Confederação Israelita do Brasil (Conib), uma das
maiores riquezas da capital paulista é a possibilidade de convivência
pacífica entre todas as comunidades, religiões e raças. "Agradeço a Deus
por ter nascido em São Paulo, que recebeu e integrou todas as etnias",
diz o professor e ativista cultural José Luiz Goldfarb, de 54 anos, cuja
família paterna trocou a Polônia pelo Brasil nos anos 1920.
O acolhimento é um dos motivos para que São Paulo tenha sido destino
de milhares de judeus desde o início do século 19. "Ser judeu aqui é
poder viver livremente, expressando cultura, gastronomia e religião",
afirma a relações públicas Deborah Vaidergorn, de 48 anos, filha de
romeno e neta de poloneses.
Quando os judeus deixaram para trás as más condições de vida, muitos
vitimados por antissemitismo e perseguições, quantidade significativa
escolheu São Paulo. "Temos sorte de poder ser judeus aqui, podendo
manifestar a nossa fé", diz a advogada Andrea Mifano Korn, de 29 anos,
cuja família veio do Egito nos anos 1950.
Segundo a Federação Israelita do Estado de São Paulo, no início da
década de 1930 havia em São Paulo de 15 mil a 20 mil judeus. Boa parte
se estabeleceu no Bom Retiro, no centro, e atuou no comércio e na
fabricação de roupas.
Tradição. Historicamente ligados à cultura letrada, os judeus
recriaram aqui intensa vida cultural e política. Aqui fundaram jornais,
bibliotecas e escolas.
"Ser judia em São Paulo é verdadeiramente um privilégio", diz a
ativista comunitária Iza Mansur, de 46 anos, cuja família trocou a
antiga Bessarábia, hoje Moldávia, pelo Brasil pouco antes da Segunda
Guerra. Mas, apesar do cenário pacífico, muitos relatam sentir
preconceito no dia a dia. "De maneira velada existe. Posso citar amigos
que já foram hostilizados simplesmente porque tinham alguma referência
ao judaísmo ou a Israel", diz Andrea.