Em Konskie, uma pequena cidade de 20.000 habitantes localizada a 130 quilômetros ao sul de Varsóvia, um estacionamento e um supermercado ocupam o local de uma sinagoga destruída pelos nazistas. Outras oito casas de oração judaicas também foram destruídas e o cemitério judaico é agora um terreno baldio.
Antes da guerra, metade da população de Konskie era composta de judeus. Uma humilde e discreta placa afixada numa casa humilde foi colocada em memória de 22 judeus lá fuzilados pelos alemães em setembro de 1939, e é o único vestígio visível da comunidade, que lá estava profundamente enraizada e as raízes da sua história remontavam ao século 16.
"Nós não sabíamos nada sobre a história judaica de Konskie. Não sabíamos que os judeus foram fundamentais na criação desta cidade" observou Agnieszka Maszczyk, uma estudante de 15 anos de idade. "Pessoalmente, eu nunca conheci um judeu" ela acrescentou.
Juntamente com 20 de seus colegas, Agnieszka decidiu mergulhar no esquecido passado judaico como parte de um projeto encabeçado pelo Fórum para o Diálogo Entre as Nações, uma associação destinada a promover o diálogo judaico-polonês.
"Nós gostaríamos que eles se interessassem pela história judaica. É um assunto difícil de abordar, é muito interessante, porém não é parte da memória da comunidade" relatou Anna Desponds, uma ativista do Fórum. O Fórum já realizou projetos semelhantes em mais de 60 escolas de ensino médio por toda a Polônia, incluindo mais de duas dezenas de comunidades que foram "shtetls", ou pequenas cidades e aldeias judaicas antes do Holocausto.
Vivendo na Polônia, pelo menos desde o século 10, os judeus compunham 10% da população da Polônia antes da Segunda Guerra Mundial – o que a tornava a maior comunidade judaica da Europa. Metade dos cidadãos poloneses que morreram sob a ocupação nazista entre 1939 e 1945 era composta de judeus. Hoje, a comunidade judaica na Polônia é estimada entre 40.000 a 50.000 num total de 38 milhões de habitantes.
O grupo percorreu o antigo gueto, do qual 9.000 judeus foram deportados pelos nazistas para o campo de extermínio de Treblinka. Visitaram um prédio que já abrigou uma loja de sapatos de propriedade de um comerciante judeu, e terminou no local onde ficava uma sinagoga.
Na volta à escola, os alunos construíram um "dia-in-the-vida" de David, um menino imaginário judeu, que já morou em Konskie.
Para estes adolescentes, o projeto é também uma oportunidade para romper com os estereótipos anti-semitas que ainda estão vivos em algumas partes da sociedade polonesa. "Vivemos em um mundo de estereótipos. Hoje, abrimos uma porta para outro mundo. Descobrimos livros que haviam sido escondidos de nós", disse a estudante Karolina Kubis, de 16 anos.
"A próxima geração é uma grande esperança", afirmou Krzysztof Wozniak, um historiador amador, sentado em sua sala repleta de documentos e fotos detalhando a história da Konskie. Durante o pós-guerra da era comunista, que terminou em 1989, ninguém estava interessado na história judaica, disse ele."Era um assunto embaraçoso para alguns. Para mim, é um vazio que deve ser preenchido", disse Wozniak, que participou com entusiasmo neste projeto para o ensino médio.
Jovens historiadores da cidade estão planejando para o final deste ano outra caminhada pelo passado judaico de Konskie. Desta vez, o evento será aberto ao público com a esperança de promover uma maior conscientização da comunidade judaica que esta cidade perdeu.
"Aqueles que ignoram a história, não têm identidade", falou Kubis.