A decisão de Mahmoud Abbas de apresentar, na próxima sexta-feira, o pedido de reconhecimento da Palestina como um Estado soberano e país membro da (ONU) Organização das Nações Unidas, provoca reações e controvérsias no Oriente Médio, na União Europeia, nos Estados Unidos e no Conselho de Segurança da ONU.
Chefe da Organização de Liberação da Palestina (OLP) e presidente da Autoridade Palestina (AP) – entidade governamental que representa os habitantes árabes da Cisjordânia e da Banda Gaza – Abbas conta com o apoio da maioria dos palestinos.
Segundo o diário parisiense "Le Figaro", uma sondagem recentemente realizada na Cisjôrdania e na Faixa de Gaza mostrou que 83% dos palestinos apoiam a iniciativa, mesmo temendo as represálias que venham a ser exercidas por Israel. Sem ilusões sobre as dificuldades suscitadas por sua iniciativa, Abbas declarou: “as coisas serão muito difíceis após o dia 23 de setembro”.
O presidente palestino pensa certamente nas consequências econômicas de um agravamento das relações com Israel e os Estados Unidos. Considerando que qualquer avanço palestino no contexto internacional é prejudicial a seus interesses, o governo de Netanyahu ameaça sustar diversas formas de colaboração econômica entre Israel e a AP.
Segundo o diário "Haaretz", porta-voz da esquerda israelense, Netanyahu sofre forte pressão de membros de seu governo pertencendo à direita radical, como o chanceler Avigdor Lieberman, para acentuar a pressão sobre os palestinos.
- O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu
Da mesma forma, os Estados Unidos, que forneceram US$ 600 milhões à AP em 2010, podem suspender a ajuda aos palestinos. Alguns parlamentares republicanos sugerem medidas ainda mais coercitivas, ameaçando suspender o pagamento da cota americana à ONU, caso a solicitação palestina seja aprovada pelas Nações Unidas.
No entanto, a posição americana sobre a questão palestina variou bastante nos últimos tempos. Há exatamente um ano, discursando na Assembleia Geral da ONU, o presidente Obama surpreendeu o governo de Israel e seus aliados ao exprimir sua esperança de que as Nações Unidas acolheriam este ano “um Estado soberano da Palestina vivendo em paz com Israel”.
Depois disso, a diplomacia americana multiplicou advertências, prevenindo que a declaração de Obama na ONU pressupunha negociações prévias entre Israel e Autoridade Palestina, sobre a questão das fronteiras, da troca de territórios e dos refugiados palestinos. Não obstante, algumas declarações em favor do Estado Palestino proferidas no mês de abril mostraram que o presidente Sarkozy, assim como a maioria dos países da União Europeia, parecem apoiar a atitude mais prudente defendida pelos Estados Unidos.
No meio tempo, a intensificação da campanha presidencial americana limitou ainda mais a margem de manobra de Washington no dossiê palestino. De fato, sob a acusação de ter abandonado a política de apoio a Israel, Obama tomou mais distância da Autoridade Palestina. Parte das críticas veio também do eleitorado ligado ao forte lobby pró-israelense, tradicionalmente afiliado ao Partido Democrata.
Um reflexo destas críticas ocorreu no dia 13 de setembro, numa eleição parcial para o posto de deputado federal ocorrida na nona circunscrição eleitoral de Nova York. Embora se trate de uma circunscrição conhecida como um bastião democrata, onde os eleitores democratas são três vezes mais numerosos que os republicanos, o vencedor da eleição foi o republicano Bob Turner.
Para a maioria dos observadores, este resultado surpreendente retrata o protesto eleitoral da numerosa comunidade judaica da região, descontente com a política alegadamente pró-palestina do presidente Obama. Com uma campanha presidencial difícil pela frente, é certo que o Obama já abandonou sua esperança de ver “um Estado soberano da Palestina” membro da ONU.
