Barbara Heliodora: Encantamento Universal
maio 25th, 2011
Já se torna repetitivo afirmar que Claudio Botelho e Charles Möeller estão apresentando um musical de alta qualidade em um espetáculo de excepcionais beleza e acabamento. No entanto, "Um violinista no telhado" é perfeitamente apto a ser apresentado como superior a tudo o que a dupla tinha feito até hoje. O musical em si é produto de 1965, quando o gênero já havia atingido a maturidade e se apresentava como capaz de tratar com sucesso qualquer tipo de assunto.
Libreto comovente, letras lindas
Com base em histórias de Sholom Aleichem, autor mais que consagrado, principalmente pelo que conta das tradições e dos sofrimentos judaicos em tempos idos, Joseph Stein escreveu um comovente libreto, que a música de Jerry Bock e a coreografia de Jerome Robbins expressam com perfeição, sem falar das letras de Sheldon Harnick, todas elas lindas, que Claudio Botelho traduziu de forma impecável. Expressados em termos estritamente judaicos, todos os sentimentos e situações do "Violinista" alcançam a todos, por sua humanidade, sua emoção, seu encantador riso na dor. O espetáculo envolve a plateia de forma total, e não é à toa que ele continua sendo montado mundo afora ao longo dos anos.
A montagem é exemplar. Os cenários por vezes oníricos de Rogério Falcão evocam a época tanto quanto a pobreza do universo da aldeia, assim como os verdadeiros e harmônicos figurinos de Marcelo Pies são irretocáveis na criação do ambiente da ação, com suas cores sóbrias e tecidos escolhidos para durar. A luz de Paulo Cesar Medeiros dá impecável apoio ao clima de cada cena, enquanto o som de Marcelo Claret dá o devido apoio às vozes, na fala e no canto. A supervisão musical de Claudio Botelho é, como sempre, impecável, e a direção de Charles Möeller o mostra cada vez mais senhor da vida do palco. Marcelo Castro é o responsável pela alta qualidade de rendimento da orquestra. É preciso notar que a difícil coreografia de Jerome Robbins é belamente executada.
O elenco de mais de 40 atores tem um rendimento conjunto exemplar. É impossível destacar todos os que merecem nossa atenção, mas os três casais jovens — Rachel Rennhack e André Lodi, Malu Rodrigues e Nicola Lama, e Julia Bernat e Cirillo Luna — se saem muito bem, como estão muito bem todos os outros atores. Temos de reconhecer, no entanto, a excepcional qualidade do trabalho de Soraya Ravenle como Golda e, ainda mais, a de José Mayer, que debuta no teatro musical com uma atuação inesquecível. A emoção do casal em torno de sua unidade familiar é comovente, e "Um violinista no telhado" tem, no Brasil, uma produção em tudo e por tudo da mesma qualidade de suas montagens originais. Podemos sentir orgulho de um trabalho tão bem feito, tanto técnica quanto esteticamente.
Fonte: O Globo – 25/05/11.