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Os dois Davids Camerons


Mesmo entre observadores mais astutos da política externa britânica, as visões do primeiro-ministro sobre Israel permanecem um mistério. Olhe mais atentamente e será quase possível ver dois Davids Camerons. A explicação pode estar na complexa triangulação da diplomacia anglo-americana-israelense.

Primeiramente, há Cameron, o típico líder europeu, pressionando Israel para que o país faça concessões aos palestinos e resolvendo suas diferenças com o maior parceiro de Israel, os Estados Unidos. Essa postura foi vista durante a visita de Cameron à Turquia, em julho de 2010, quando ele comparou a Faixa de Gaza a um campo de concentração, e criticou o ataque israelense a uma embarcação de ativistas que seguia para a região. No mês passado, em uma visita aos Estados do Golfo Pérsico, esse Cameron deixou o protocolo de lado ao destacar o voto britânico condenando as ocupações israelenses em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU – resolução essa, que os Estados Unidos vetaram. Cameron disse a um grupo de estudantes do Qatar que, nessa questão, o Reino Unido discorda de seus aliados norte-americanos.

O outro Cameron é o amigo leal de Israel, que se manifestou no dia 2 de março, quando o primeiro-ministro falou a membros do Community Security Trust, um grupo anglo-judaico. Ele declarou que “sua crença em Israel” era “indestrutível”; e, ao discutir as necessidades de segurança de Israel, Cameron se afastou do consenso europeu, e apresentou um discurso mais alinhado com Washington, afirmando que Israel estava “agindo dentro do seu direito de revistar embarcações que levam cargas à Faixa de Gaza”.

Seria o caso de um primeiro-ministro dizendo a cada público aquilo que a plateia quer ouvir – e talvez tentando novamente posicionar seu país como uma ponte na política transatlântica do Golfo? Não inteiramente, pelo menos de acordo com uma (contestada) versão da recente história diplomática.

Se Cameron passa mensagens contraditórias a Israel, ele o faz com a bênção do presidente norte-americano, dizem fontes confiáveis. Obrigados a lidar com o que é encarado como intransigência por parte do governo israelense de Binyamin Netanyahu, os Estados Unidos e os grandes países europeus estão se assemelhando, dizem as fontes. Antes da votação nas Nações Unidas, no dia 18 de fevereiro, Barack Obama teria encorajado Cameron e outros líderes a adotarem uma postura mais dura em relação a Israel. Em telefonemas para seus aliados europeus, Obama teria expressado frustração com a abordagem de Netanyahu em relação à questão dos assentamentos, mas teria alegado que “vários incêndios domésticos a serem controlados” o teriam impedido de criar um atrito com Israel.

A Casa Branca nega essas alegações veementemente, e o gabinete de Cameron apenas confirma que o primeiro-ministro e Obama têm mantido um “contato regular” para tratar do processo de paz no Oriente Médio. Com se trata de conversas particulares é difícil saber o que exatamente foi dito, mas privadamente, membros de governos europeus já confessaram que a pressão que exercem sobre Israel é cuidadosamente coreografada pelos Estados Unidos.

Esse cenário, ao invés de hipocrisia, pode ser um retrato real das relações israelenses com o Reino Unido e o resto do mundo. A impaciência com Netanyahu parece distorcer as fronteiras entre os amigos e os críticos de Israel. E as divergências entre Cameron e Obama podem, na verdade, ser uma forma de cooperação diplomática.

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