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Curaçao: a "Comunidade-mãe das Américas"


Chamada de Ilha dos Gigantes por Américo Vespúcio, Curaçao foi incorporada, assim como as ilhas adjacentes, pelo império espanhol. 

A origem do nome Curaçao permanece confusa, sendo ainda várias as teorias que circulam. Segundo alguns cartógrafos, a denominação viria do formato de coração da ilha, sendo uma corruptela desta palavra em espanhol, corázon. Diz uma lenda, no entanto, que um dos marinheiros que viajava com Ojeda foi deixado doente na ilha e, quando um navio voltou para buscá-lo, ele estava curado - o que explicaria o nome Curaçao, o lugar da cura. A história dos judeus em Curaçao está diretamente ligada à atuação dos holandeses na região. O interesse destes pela ilha se iniciou por volta de 1606. Na época, navios holandeses zarpavam rumo às costas hispano-americanas, para atacar e capturar barcos espanhóis. Rapidamente viu-se a necessidade de uma base segura para esses navios, no Caribe. Curaçao pareceu ser o lugar mais propício para desfechar ataques contra os seus inimigos - ou seja, os espanhóis. 

Em 1634, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, levada pela necessidade de estabelecer uma base no Caribe para suas atividades comerciais, também se interessou pela ilha. Em Curaçao seus navios poderiam ser reabastecidos e obter sal, madeira e outros produtos. Não tardou a decisão de conquistar a ilha, sendo Johannes van Walbeck e Pierre Le Grand incumbidos de comandar tal incursão.

Ao ser invadida pelos holandeses, a ilha possuía uma população de 32 espanhóis e aproximadamente 500 índios. Não foi preciso muito esforço dos holandeses para se apossar da mesma. Curaçao foi transformada pela Companhia das Índias Ocidentais em uma fortaleza. Em 1642, Peter Stuyvesant foi nomeado governador de Curaçao. Sob sua liderança, a ilha viveu um período de estabilidade e segurança. Tornou-se uma espécie de depósito de escravos e um porto estratégico para este comércio que rendia lucrativos dividendos às colônias francesas, inglesas e hispânicas na América. 
Um povoado judaico 

O primeiro judeu a chegar a Curaçao foi Samuel Coheño (Cohen). Nascido em Portugal, participou da conquista holandesa de Pernambuco. Na viagem de volta a Amsterdã, integrou-se à expedição de Johanes van Walbeck, que então rumava em direção a Curaçao. Fluente em dialetos indígenas, trabalhava como tradutor, sendo posteriormente promovido por van Walbeck a responsável pelas populações nativas da ilha.

Nomeado governador da Nova Amsterdã, na América do Norte (a futura Nova York), e das ilhas de Curaçao, Peter Stuyvesant era uma figura controvertida. Considerado por muitos um “tirano brutal” e por outros um “homem determinado”, estava cada vez mais disposto a tornar a ilha um grande centro fornecedor de escravos. Uma de suas primeiras ações foi estimular o aumento da população permanente como forma de conseguir estabilizar a economia. Assim, em 1648, a Companhia das Índias Ocidentais divulgou um edital para incentivar a vinda de novos colonos para Curaçao. Um dos interessados foi João de Yllan, um marrano também conhecido como Yeoyada, Jeudá, Yohanan e Ulia. Nascido em Portugal, em 1609, ao se mudar para Amsterdã voltou às suas raízes, convertendo-se ao judaísmo e se tornando um membro influente da comunidade portuguesa local.

Segundo os termos contratuais, Yllan se compro-metia a trazer aproximadamente 50 pessoas para se estabelecer na região e trabalhar na agricultura. Dez famílias fizeram a perigosa viagem de Amsterdã até Curaçao.

Stuyvesant foi informado pela Companhia sobre o contrato feito com Yllan, em março de 1651. Mas, não recebeu muito bem a notícia da vinda de judeus. Sua grande animosidade e desconfiança em relação ao povo judeu se torna clara em várias cartas endereçadas à Companhia das Índias, nas quais protestava sobre o tratamento “favorável” dado a eles. Sob seu governo, a população judaica de Curaçao sofreu várias restrições.

O chazan Joseph Corcos, que viveu em Curaçao no século XIX, descreve este primeiro assentamento em seu livro, Sinopse da História dos Judeus de Curaçao. Fora concedida aos judeus uma faixa de terra a duas milhas de distância da fortaleza, conhecida até hoje como o Bairro Judeu. Relata ainda Corcos que os judeus eram vistos sempre como estrangeiros e apesar de desfrutarem de direitos iguais aos de outros cidadãos da Holanda, certas restrições lhes foram impostas em Curaçao. Segundo Corcos “isto era fruto do ‘grande fanatismo’ que existia na época contra nosso povo, do qual nem mesmo Curaçao estava livre”.

A expulsão dos holandeses do Brasil provocou um êxodo imediato dos judeus do Brasil Holandês, por temerem ser perseguidos pela Inquisição. Mais uma vez, a Companhia das Índias Ocidentais incentivou a imigração judaica para a ilha. Em seu livro, Corcos menciona alguns dos privilégios concedidos aos judeus pelo então governador Mathias Beck. Por exemplo, o direito de possuir cavalos, terras e a autorização para a compra de escravos para as plantações. 

Assim, acredita-se que cerca de 70 judeus vindos do Brasil sob a liderança de Isaac da Costa, um dos homens mais proeminentes do Brasil Holandês, foram para Curaçao em março de 1659, estabelecendo-se no Bairro Judeu. Costa levou consigo um Sefer Torá doado pela comunidade judaica de Amsterdã que, ainda hoje, é usado na Sinagoga Mikvé Israel-Emanuel. O documento que lhes foi concedido pela Companhia garantia-lhes amplas extensões de terra ao longo da costa, isenção de impostos, proteção das autoridades, isenção dos serviços de vigilância durante o Shabat nos períodos de guerra, além da liberdade de credo. Este possivelmente foi o primeiro documento legal garantindo liberdade religiosa no Novo Mundo.

À medida que os judeus iam tendo mais sucesso nas plantações, aumentavam o ressentimento e inveja em relação a eles. Em 1702, o governador van Beck informou à Companhia que os judeus possuíam “a melhor terra para o cultivo”. 

Como decorrência da seca dos anos 1711-1722, os judeus começaram a se dedicar também à navegação e ao comércio com as colônias inglesas e francesas, mas seus principais mercados eram as costas venezuelanas e colombianas. 

Apesar das adversidades, os judeus continuavam a chegar ao Novo Mundo e a Curaçao, à procura de um lugar seguro longe das garras da Inquisição. Na metade do século XVIII, representavam cerca de 50% da população branca local. 

Evolução da comunidade

Foi em 1659, com a chegada do grupo organizado por Isaac da Costa, que a comunidade foi oficialmente fundada. Era uma comunidade essencialmente sefaradita. Em meados de 1670 foram redigidos os seus primeiros regulamentos. Com o crescimento da comunidade, tornou-se necessária a presença de um líder espiritual. O primeiro rabino de Curaçao foi Joshiau Pardo, descendente de uma família de chachamim de Salônica. A chegada do rabino Pardo coincidiu com a construção da primeira sinagoga. Em 1679 foi erguida a segunda. Em 1692, a terceira, e, em 1703, uma quarta. Esta última tinha 200 cadeiras para homens e 80 para mulheres. A sinagoga que funciona atualmente, Mikvé Israel-Emanuel, foi inaugurada na véspera de Pessach de 1732, substituindo a que fora construída em 1703. Esta belíssima sinagoga é a mais antiga do Hemisfério Ocidental, em contínuo funcionamento desde sua fundação. Com a inauguração do novo local de preces, novas organizações judaicas floresceram, juntando-se às já existentes. O prédio foi construído nos moldes da famosa Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, em proporções menores. 

O cemitério judaico de Curaçao, conhecido como Beit Hayim (a Casa dos Vivos), foi fundado no Bairro Judeu e consagrado em 1659, apesar de o túmulo mais antigo encontrado, pertencente a Judith Nunes da Fonseca, datar de 1668. O cemitério está localizado a duas milhas do centro de Willens-taad, a capital de Curaçao, tem 2.500 túmulos e há vestí-gios de outros 2.500. A exemplo da sinagoga, este cemitério murado é possivelmente o mais antigo das Américas. Foi utilizado até meados do século XIX. Em junho de 2001 passou a ser considerado patrimônio histórico e cultural de Curaçao. 

Através das informações contidas nos túmulos do cemitério é possível traçar-se parte da história e dos costumes da comunidade. As famílias de Curaçao aderiram ao costume sefaradita de dar os nomes dos pais aos primogênitos; os mais comuns são Mordechai, Rafael ou Benjamin. Os nomes das famí-lias eram de origem hebraica, árabe ou hispano-portuguesa. No caso dos marranos, havia também aqueles que preservavam os dois nomes: o de antes e depois da volta ao judaísmo. 

A comunidade judaica e as autoridades

O fundador da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, William Usseliux, era conhecido por seu anti-semitismo. Acreditava ser seu dever sagrado levar o calvinismo à América. A Companhia propriamente dita não adotara suas idéias em relação aos judeus. Pelo contrário, considerava os elementos colonizadores positivos para o processo de colonização da terra. Por isso, apesar de a religião da Igreja Reformista Holandesa ser a única permitida nas colônias, os judeus tinham o direito de seguir a própria crença.

Variava muito a atitude dos inúmeros governadores em relação à comunidade judaica. Em muitos casos, eram obrigados a apelar à matriz da Companhia ou à comunidade judaica de Amsterdã para ter seus interesses defendidos.

Um dos oficiais mais anti-semitas foi o irmão do governador Mathias Beck, o Juiz Balthazar Beck, que demonstrava ódio ferrenho aos judeus. Beck acabou sendo despedido em decorrência de queixas de um dos acionistas da Companhia, Jerônimo Nunes da Costa (Moisés Curiel).

A comunidade judaica empenhava-se em se integrar, cada vez mais, à vida da ilha. Assim, quando Curaçao foi ameaçada pelas esquadras espanholas, os judeus se prontificaram a participar do esquema de vigilância da fortaleza – se fosse necessário, mesmo durante o Shabat. Em 1713, quando o comandante francês, Jacques Cassard, aproximava-se de Curaçao, o governador Jeremias van Collen chamou os residentes para a defesa da ilha e o Rabino Lopez permitiu aos judeus participar do esquema organizado, ainda que fosse Shabat. Assim que a situação se acalmou, pediram para que seu turno fosse transferido para o domingo, mas o pedido lhes foi negado e eles foram multados por não comparecer a seus postos durante o Shabat.

De modo geral, durante o século XVIII, foram cordiais as relações entre as autoridades e a comunidade judaica. A Companhia estava satisfeita com a renda gerada pela comunidade no comércio. Os governadores eram instruídos a proteger os judeus e a preservar seus direitos. Os atos de cunho anti-semita porventura ocorridos foram casos individuais e isolados. A regra adotada era respeitá-los, pois eram de grande utilidade. A facilidade que tinham em lidar com os espanhóis fez com que, em várias ocasiões, fossem convidados a integrar as missões oficiais do governador de Curaçao e a negociar com as colônias hispânicas. O governador van Liebergen até enviou seus funcionários para ajudar na construção da nova sinagoga.

Houve, no entanto, uma exceção a esse relacionamento harmônico: o governador Juan Pedro van Collen. Em 1731, envolvido em sua própria companhia de comércio, levado pelo ódio aos judeus e enciumado pelo sucesso da comunidade, van Collen e seu sócio, Peterson, tomaram uma série de medidas antijudaicas. Tentaram embargar a construção da sinagoga, negando a posse do terreno comprado pelos judeus. Ele teve que se demitir após as críticas que lhe foram feitas pelos habitantes de Curaçao - não apenas os judeus.

Atividades econômicas

Apesar das dificuldades, a agricultura fazia parte das atividades dos judeus até o século XX. Inicialmente cultivaram cana-de-açúcar e tabaco, depois frutas, legumes e algodão. No fim do século XVIII, permitiu-se aos judeus o comércio de produtos oriundos da pecuária. Foram tão bem-sucedidos nesse setor que, posteriormente, a Companhia lhes vendeu suas terras agrícolas para serem usadas como pasto. 

Gradativamente os judeus foram aumentando sua participação nas atividades comerciais. Seus principais mercados eram colônias espanholas instaladas na América do Sul, em especial na Colômbia e na Venezuela. Muitos eram donos de seus navios e souberam aproveitar os benefícios da localização privilegiada de Curaçao em relação às ilhas inglesas e francesas do Caribe. Registros mostram que, entre 1670 e 1900, os judeus de Curaçao tinham mais de mil embarcações. A família Jesurum, que viveu no século XIX, tinha cem navios. Excelentes comerciantes, os judeus dominavam vários idiomas o inglês, o espanhol e o português e pos-suíam relações com a Europa, América do Norte e do Sul, mantendo contatos e agentes - às vezes parentes - em Amsterdã, Bordeaux, Londres e Nova Amsterdã (Nova York). Importavam da Europa equipamentos, máquinas, materiais de construção, livros, armas e munições. Exportavam das colônias para a Europa tabaco, suco de limão, baunilha, algodão, café, açúcar, prata, ouro e outras mercadorias. 

Relata-se que os navegantes judeus levavam a bordo talitot e shochetim (para abater os animais para o consumo, de acordo com o ritual judaico) e pintavam nas embarcações inscrições em hebraico, encimadas pelos brasões das tribos judaicas, que diziam, entre várias outras, “Sob a proteção do Todo Poderoso”. Os mares eram perigosos para os navegadores judeus, pois, se capturados pelos espanhóis, eram levados a julgamento na Espanha. A comunidade judaica de Amsterdã pagava o resgate dos presos (pidyion sheviim), mas isso só era possível se os presos fossem judeus de nascimento e não marranos que haviam retornado ao judaísmo. Estes poderiam ser levados aos temíveis tribunais da Inquisição. Os judeus de Curaçao viajavam com certificados emitidos pelo governo da ilha, atestando seu nascimento na ilha, de pais judeus, desde o início dos tempos.

No final do século XVII e início do XIX, a comunidade de Curaçao se tornou tão próspera que passou a ajudar várias comunidades no Caribe e em toda a América, além de colaborar para a construção de inúmeras sinagogas sefaraditas, passando a ser chamada de “Comunidade-mãe das Américas”. Entre as entidades que receberam auxílio estão a sinagoga de Mill Street, em Nova York, em 1729; e as de Newport e Rhode Island, em 1764. Ajudaram também a erguer sinagogas nas cidades de Filadélfia e Charleston. Foram enviadas doações também para a Ilha de São Tomé, Ilhas Virgens, Suriname, Panamá, além de subsídios para os núcleos judaicos em Caracas (Venezuela) e Rio Hacha (Colômbia), para a construção de seus cemitérios. Até hoje, em Yom Kipur, a congregação da cidade de Newport dedica uma prece especial em agradecimento à generosidade da comunidade de Curaçao. 

Acompanhando as transformações da época, na virada do século XX, os empresários judeus da ilha modernizaram a maneira de conduzir suas atividades, formando grandes corporações. Destacam-se a Maduro Holidays, fundada por Salomon Elian Levy Maduro, e o Banco Maduro e Curiel, um dos mais fortes do Caribe.

Escravidão 

O comércio de escravos, monopólio da Companhia das Índias, faz parte da história da ilha, que, durante séculos, foi um celeiro escravagista. Os judeus só obtiveram o direito de possuir escravos depois de 1674. Documentos indicam que, em 1744, havia 2.098 escravos na ilha e os judeus, que contavam quase metade da população, só possuíam 310. Os escravos não trabalhavam tanto no Shabat quanto nos domingos. Como bem lembrou o rabino Emanuel, havia uma expressão comum entre os escravos: “Quem entra em uma casa judaica é abençoado por D’us”. Era uma referência ao tratamento mais humano que recebiam. Desta forma, mesmo após a emancipação, em 1863, muitos preferiram permanecer com seus antigos amos. 

O defensor do sufrágio universal foi o brilhante advogado judeu Abraham Mendes Chumaceiro. Nascido em Amsterdã, foi considerado o melhor advogado de Curaçao de todo o século XIX. Chumaceiro se opôs ao historiador protestante J.H.J. Hamel-berg, que considerava os negros inferiores aos brancos e, portanto, não deveriam ter direito ao voto. O sistema de voto universal preconizado por Chumaceiro foi adotado em Curacao a partir de 1948. 

Crescimento da comunidade

Gradativamente, a comunidade foi deixando o Bairro Judeu, transferindo-se para a área da capital, Willemstad, chamada “Punda” (o ponto). Com a alta dos preços nessa região, muitos foram morar do outro lado do porto, denominado “Otrabanda” (o outro lado). Em função da distância e das dificuldades de acesso à sinagoga, localizada no Bairro Judeu, surgiu a necessidade de um novo local de orações e, em 1732, iniciou-se a construção da Sinagoga Neve Shalom, que funciona até os dias de hoje. Nessa época, Curaçao já era considerado um centro de apoio aos judeus sefaraditas no Novo Mundo, até mais importante do que Amsterdã.

Em 1817, diminuiu o número de judeus que viviam em Otrabanda e os serviços religiosos foram interrompidos. Em 1864 a propriedade foi vendida. Com a chegada dos judeus ashquenazitas, do centro e do leste da Europa Central, fundou-se a comunidade Shaarê Tze-dek (Portões da Justiça) e construiu-se mais uma sinagoga. 

Foi em Curaçao também que Simon Bolívar encontrou refúgio, após ser derrotado pelos espanhóis na desastrosa batalha de Puerto Cabello. Ele foi hospedado por um judeu, Abraham de Meza, em Otrabanda. Para a comunidade judaica, em geral, Bolívar era o herói que lutava contra a odiosa opressão espanhola. O seu maior aliado era o mestre e advogado judeu, Mordechay Ricardo. Em 1812, quando Bolívar saiu de Curaçao para continuar a luta contra os espanhóis, Ricardo cedeu a casa de sua sogra, onde as duas irmãs do revolucionário se refugiaram durante dois anos. Esta casa transformou-se no Museu Bolívar de Curaçao.

A comunidade no século XX 

No dia 10 de maio de 1940, diante das notícias da invasão da Holanda pelas forças da Alemanha, as autoridades de Curaçao agiram rápida e organi-zadamente, porém sem alarde. Todos os navios alemães foram confiscados e suas tripulações - um total de aproximadamente 500 homens - foram presas e detidas em um campo em Bonaire até o final da 2ª Guerra Mundial. 

Durante o conflito, a comunidade judaica de Curaçao empenhou-se também em acolher refugiados das perseguições nazistas. Libertaram 23 judeus alemães e austríacos, detidos em Bonaire, em um campo de refugiados, e outros na Jamaica. O jovem advogado, George Levy Maduro, juntou-se ao exército holandês para lutar contra os alemães. Foi preso, morrendo em Dachau, em fevereiro de 1945.

Apesar de, ao longo da história, a vida dos judeus em Curaçao ser marcada pela prosperidade e expansão, esta não é a situação atual da comunidade. Em decorrência do número reduzido de famílias, das oportunidades melhores no exterior e dos casamentos mistos ocorridos na primeira metade do século XX, o número de judeus que, em 1790, chegava a dois mil, diminuiu para cerca 350 na década de 90, em meio a uma população de 125 mil habitantes. Muitos são descendentes diretos dos marranos que, há mais de quatro séculos, fugiram da Península Ibérica em busca de liberdade.

Contudo, a despeito do reduzido número de judeus que vive, atualmente, em Cura-çao, os séculos da presença judaica na ilha são claramente percebidos, especialmente na linda sinagoga Mikve Israel-Emanuel. Sua arquitetura e seu interior foram quase totalmente preservados desde sua construção, há 265 anos. É indubitavelmente a mais antiga em funcionamento ininterrupto no Novo Mundo. Atualmente, possui 18 rolos da Torá com mais de 300 anos. Alguns devem ter sido trazidos pelos mesmos homens que fugiram da Inquisição, no final de 1400, e fundaram a comunidade em Curaçao. Esta sinagoga, inaugurada em 1732, é um dos grandes marcos da presença judaica nas Américas. 

Além dessa, as outras duas sinagogas erguidas e ainda intactas são, também, digno exemplo das majestosas edificações religiosas judaicas. Muitos estabelecimentos comerciais, prédios e lindas casas dos membros da colônia ainda permanecem em mãos de famílias judias descendentes dos marranos lá refugiados. O famoso licor Curaçao Senior, enriquecido com o sabor de cascas secas de laranjas ácidas, ainda é produzido pela mesma família judia que o lançou ao mercado os Senior.

O Museu Histórico e Cultural Judaico faz parte da sinagoga Mikve Israel-Emanuel. Vários objetos religiosos que remontam aos primeiros anos da comunidade estão expostos no local, incluindo um par de cadeiras para circuncisão, uma mesa preparada para o Seder de Pessach, roupas para as cerimônias de nomear uma criança e para a circuncisão, caixas de bessamim, candelabros e até ruínas de uma mikvê de 1728.

Sem dúvida, Curaçao merece ser incluída no roteiro dos turistas judeus.

Bibliografia:
• Arbell, Mordechai, The Jewish Nation of the Caribbean
• Oldest Synagogue in the Americas, Jewish Chronicle, 15 de junho de 2001
• Curaçao Sandy Attraction,The Jerusalem Report, 13 de janeiro de 2003
• Los Muestros, nº 42, março 2001 “A Brief history of Sephardim of 
Curaçao”, Charles Gomes Casseris.

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2 Comentários
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  1. Na verdade a primeira Comunidade Judaica e a primeira sinagoga das Américas foi a Kahal Zur Israel (Congregação Rochedo de Israel) em Recife.Funcionou em Pernambuco durante o período de dominação holandesa (1630 a 1657). não a de Curaçao onde a primeira foi construída por volta de 1660 coincidindo com a chegada do do primeiro Rabino da comunidade e esta foi desmanchada assim como outras duas e só a quarta construída em 1703 é a que funciona nos dias atuais.Concordo que a comunidade, muitos saídos de Recife, criaram essa comunidade. Claro que depende do critério a de Curação é a mais antiga em funcionamento mas considerando a primeira implantada nas Américas, foi a
    Tzur Israel de Recife com o primeiro Rabino das Américas Isaac Aboab da Fonseca natural de Portugal. De Sergio Mota e Silva, Porto Alegre, Brasil.

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  2. A informação de que a sinagoga de Curaçao foi a Sinagoga-Mãe de todas as outras na América está totalmente incorreta. A Sinagoga Kahal Zur Israel é a mais antiga, pois foi fundada com judeus hispano-portugueses que vieram com os holandeses para conquistar e ocupar aquela então Capitania. Por sua vez, sinagoga de Curaçao foi fundada por judeus expulsos de Recife após a Insurreição Pernambucana, que derrotou militarmente os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais. Há uma diferença de cerca de 30 anos entre a fundação das duas.
    Cabe lembrar que judeus oriundos de Recife participaram na fundação da colônia de Nova Amsterdã, que mais tarde foi renomeada para Nova York.

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