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Toldot

O trabalho próprio, o bem próprio e os demais

Muitas vezes ouvimos e lemos que para que um ganhe é preciso que alguém perca, que normalmente aquele que tem sucesso o consegue através do fracasso de outros. A Torá não acredita que deva ser sempre assim. Na parashá, o segundo patriarca, Itschac, mora numa terra seca e resolve escavar um poço para conseguir água. Ao voltar para usá-lo descobre que outros habitantes o expropriaram. 

Nesse momento resolve escavar mais um poço e logo acontece o mesmo que ocorrera com o primeiro. Assim, várias vezes Itschac trabalha e outros também se beneficiam; e só quando toda a região tem poços o suficiente é que Itschac consegue desfrutar de seu próprio poço - talvez, na verdade, de todos os poços que escavou. O bem próprio pode beneficiar outros. O benefício pessoal é muito maior e mais seguro quando beneficia outros também; acaba nos beneficiando mais ainda. 

 Os grandes economistas sabem que os ricos precisam que os pobres não sejam muito pobres, pois sem poder aquisitivo na maioria da população também eles não prosperarão. Se não pelo valor moral e pelo interesse humanitário, no mínimo pelo interesse pessoal precisamos do bem de todos para termos nosso bem pessoal. Esse é o fundamento do conceito de sustentabilidade. Todos somos parte desse todo que nos  cerca.

Homem e mulher rezam juntos na Bíblia

Muito discutimos sobre o family seating. Sabemos que todos têm boas intenções. Os que querem dividir momentos significativos perto da família, os que acreditam que se concentram melhor assim na reza e os que acreditam que não. Na parashá acontece uma das primeiras rezas que conhecemos na Torá: Itschac reza para que sua esposa Rivca, que era estéril, possa engravidar. 

O texto faz questão de nos contar que a reza foi dita “lenôchach ishtô”, ou seja, na presença de sua mulher. Os sábios explicam que o vínculo entre eles era tão especial que se Deus estava em algum lugar nessa hora, este lugar era entre eles, no encontro entre Itschac e Rivca. Por isso podiam rezar juntos.

As mãos e a voz

Iaacov se disfarça de seu irmão Essav para receber a benção do pai dirigida ao primogênito. O pai Itschac estava cego na velhice e não iria reconhecê-lo. Ao chegar ao encontro, depois de uns minutos de conversa e de tato, Itschac, o pai cego, sentenciou: “A voz é a voz de Iaacov, mas as mãos são as mãos de Essav”. 

Essa frase permaneceu na tradição judaica até nossos dias como uma metáfora através da qual muitos valores são transmitidos. Alguns interpretam que as mãos de Essav representam a violência, a força bruta, enquanto a voz de Iaacov expressa nossa capacidade para sermos suaves, para ponderar, para refletir e para fazer a paz. 

Outros dizem que Essav era quem trabalhava a terra, quem transformava, quem fazia e fazia acontecer; enquanto Iaacov apenas contemplava e explicava o que outros faziam. Alguns tentam ver a complementaridade entre os dois modelos. 

Quem faz com ações e quem traz os significados do que fazemos percebe intenções, emoções e outros sentimentos. Precisamos do tempo de pensar, ponderar, planejar, mas também do momento de executar com decisão e energia. O primeiro sozinho não realiza. O segundo sozinho não compreende nem se projeta.

O valor da palavra

Quando Essav chega, o pai, assustado, conta para ele que já deu a melhor benção para Iaacov. Essav, triste, pergunta: “Pai, não ficou nenhuma benção para mim? Apenas uma benção você tem?” O leitor de nossos dias não consegue entender Itschac nessa hora. 

Qualquer pai teria repetido a mesma benção para Essav ou teria improvisado qualquer outra fala. Só que naquela época, segundo parece, a palavra dita tinha um valor inatingível hoje. Nos nossos dias a palavra dita vale tão pouco, muitas vezes, que precisamos de documentos escritos para tudo. 

Mesmo assim não temos certeza de que serão cumpridos. De qualquer modo a reclamação de Essav continua em pé: quantas e quais bênçãos somos capazes de gerar para quem nos procura?

Shabat shalom,
Rabino Ruben Sternschein




*A parashá da semana é acompanhada por uma ilustração da aquarelista
 Rosália Lerner.
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