Para Netanyahu, 'infiltradores ilegais' ameaçam empregos dos israelenses.
O governo de Israel aprovou neste domingo a construção de um campo de detenção que deverá comportar cerca de 10 mil refugiados africanos, a ser erguido no sul do país.
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, defendeu a construção do campo, afirmando que 'há uma onda crescente de infiltradores ilegais que ameaça os empregos dos israelenses'.
De acordo com o premiê, o governo tem a obrigação de impedir a entrada dos africanos 'para preservar o caráter do Estado'.
Segundo dados oficiais, cerca de 1,2 mil africanos entram em Israel todo mês. Já se encontram no país 35 mil pessoas originárias da África, principalmente do Sudão e da Eritreia. Boa parte delas atravessou o deserto egípcio do Sinai, cruzando a fronteira a pé.
O gabinete de Netanyahu emitiu um comunicado afirmando que o 'centro de moradia servirá para abrigar infiltradores que entram ilegalmente em Israel e não podem ser deportados - nesta etapa - para seus países de origem'.
'O centro fornecerá moradia, comida, bebida e assistência medica para os infiltradores', diz o comunicado oficial.
Críticas a 'gueto'
ONGs israelenses de direitos humanos criticam a decisão do governo e advertem que o campo se transformará em um 'gueto'.
O medico Ido Luria, da ONG Médicos pelos Direitos Humanos, disse ao site de noticias Ynet que 'a construção do campo de detenção para os refugiados é uma decisão ruim'.
'A prisão é um trauma que pode ser ainda mais difícil para pessoas que já passaram por traumas anteriores. A maioria daqueles que chegam em Israel foram perseguidos em seus paises de origem, e grande parte deles já passou por traumas como torturas e estupro', afirmou.
'O Estado de Israel foi criado por refugiados e imigrantes e não pode se comportar de forma moralmente cega com outras pessoas, independentemente da cor da sua pele', declarou o médico.
Luria também citou a resolução da ONU para a questão dos refugiados, assinada por Israel, que determina que os países têm a obrigação de preservar a saúde e os direitos dos refugiados, inclusive o direito de ir e vir, de adquirir documentação e de trabalhar.
'Maioria judaica'
Já o ministro do Interior, Eli Ishai, do partido ultraortodoxo Shas, criticou as ONGs que defendem os refugiados e afirmou que 'eles querem aparecer bonitinhos, mas dentro de dez anos uma comissão de inquerito irá investigar como perdemos a maioria judaica em Israel'.
O ministro da Segurança Publica, Itzhak Aharonovitz, se opôs à decisão e disse que o sistema penitenciário não poderá arcar com a responsabilidade pelo campo de detenção.
'O sistema penitenciário não tem experiência ou conhecimento para lidar com a detenção de uma população civil e, portanto, não tem os instrumentos para cumprir essa missão', afirmou Aharonovitz.
A ONG Centro de Apoio para os Trabalhadores Estrangeiros informou que desde a decisão do governo tem recebido um numero crescente de chamadas de africanos que moram em Tel Aviv, preocupados com a possibilidade de serem levados para o campo de detenção.
Na semana passada, o governo israelense decidiu construir uma barreira na fronteira com o Egito para impedir a entrada de refugiados e imigrantes ilegais da África.