Alguns dos assuntos mais relevantes da parashá
O fim e os meios
Muitas vezes realizamos o bem através de atos errados. Erramos na escolha dos meios ou mesmo quando não nos propomos a um bom objetivo, no fim atingimos um bem.
Um não é suficiente para justificar plenamente o outro. Devemos ter a melhor intenção e também a melhor ação. Os melhores meios e os melhores resultados.
Quem olha apenas para os resultados
perde a intenção do coração e a integridade da pessoa. Quem ficar apenas com os meios e as intenções perderá a realidade concreta.
perde a intenção do coração e a integridade da pessoa. Quem ficar apenas com os meios e as intenções perderá a realidade concreta.
Rigidez e dinamismo na Torá
O judaísmo procura fazer ao pé da letra? A parashá fala a respeito com uma frase ambivalente, com sentido duplo, duas respostas, sim e não: “Não te afastes do que te indicam nem à direita nem à esquerda”. A tradição interpreta que a resposta à pergunta inicial é sim, pois não podemos nos afastar nem à direita nem à esquerda; mas por outro lado a resposta é não, pois a Torá não diz quem são esses que nos indicam.
Não se fala nem da Torá como indicador. Daí a tradição entendeu que a própria Torá espera que as gerações desenvolvam autoridades, sábios, rabinos, que façam a interpretação dinâmica e indiquem a aplicação correta. Ou seja, existe dinamismo na Torá para transformar e ser transformado, mas apenas com critérios e autoridades, com método e consciência. Com liderança responsável.
Formas de governo na Torá
Na parashá fala-se pela primeira vez das regulamentações sobre a nomeação de um rei. O rei deve ser do povo, deve se limitar à lei da Torá mais ainda do que qualquer outro para evitar todo tipo de arbitrariedade ou despotismo, e deverá ter limites claros quanto ao uso do patrimônio, uma vez que este é reconhecido como pertencente ao povo e não a ele.
Na tradição interpretativa talmúdica e midráshica surge a discussão sobre se é uma mitsvá ou não nomear um rei; se é necessário ter um rei ou se a Torá apenas está regulamentando como fazê-lo caso queiramos um rei.
A partir daí desenvolveram-se dois grandes modelos, tanto na Idade Média quanto na Modernidade. Um modelo centralista, que acredita na necessidade de poder − idéia de Maimônides na Idade Média e de Spinoza na Modernidade.
O outro, que via no governo uma fraqueza passageira até que a humanidade evoluísse o suficiente para não precisar mais de governadores nem de governados. Esta é a ideia da anarquia religiosa de Abarbanel na Idade Média e de Buber na Modernidade: o ser humano desenvolverá sua razão, sua aética, sua moral e seu coração a ponto de ser afinado com o bem e não precisar de leis, polícia, exército, juízes nem presidentes.
Autenticidade
Nesta parashá aparece um mandamento maravilhoso por ser ao mesmo tempo óbvio e ao mesmo tempo, infelizmente, sempre relevante e pendente: seja autêntico com Deus. O próprio Deus, que é sempre visto como a consciência, a onisciência (que tudo sabe), a onipresença (que está em todo lado e vê tudo), espera que sejamos sinceros com Ele. Como se pudéssemos enganá-lo. Será que isso é possível? A Torá parece acreditar que tanto quanto enganarmos a nós mesmos. Ou talvez acredite que se trate de um mesmo ato: nós a nós mesmos.
Ecologia
Por último, nesta parashá estabelecem-se algumas regras mínimas para a situação inevitável de guerra. Diferente de outras religiões que têm guerra santa, no judaísmo a guerra é sempre um mal e, portanto, o último e o pior recurso.
Uma vez que se esgotaram todos os demais e estamos numa guerra, pede-se para não acabar com as árvores que estiverem no front de batalha. Os sábios explicam que isso se deve a várias razões: as árvores não são culpadas, não têm a escolha de fugir do homem; ao matá-las, mata-se a si mesmo também, o próprio vencedor, pois este não poderá viver sem elas na terra conquistada.
Shabat Shalom,
Rabino Ruben Sternschein