Aberto há três meses, o complexo na região montanhosa de Mleeta é uma incomum demonstração de exibicionismo do grupo xiita Hezbollah, conhecido pelo sigilo e pela clandestinidade.
Os visitantes são conduzidos por guias que contam com indisfarçável orgulho a história do bastião estratégico dos militantes xiitas até 2000, quando a montanha estava na linha de frente da área ocupada por Israel.
"É um programa para toda a família, queremos que nossas crianças aprendam desde cedo a história da resistência", diz Rami Hasan, administrador do parque.
Segundo ele, 580 mil pessoas já estiveram no parque desde a inauguração. A maioria é de xiitas da região, mas o local também atrai sunitas, cristãos e até estrangeiros, que podem reservar guias em inglês, alemão, italiano, francês e espanhol.
"HEZBOLLÂNDIA"
A "Hizbollândia", como foi apelidada por adversários do grupo, lembra outros parques temáticos na intenção de dar ao visitante a sensação de estar no lugar dos personagens que viveram e vivem a história contada.
O trecho que mais faz sucesso é o labirinto de trincheiras e túneis cavados na pedra pelos combatentes do grupo nos anos 80, e que hoje é exibido como legado da luta que levou à "liberação" do sul do Líbano, com a retirada de Israel, há dez anos.
Terrorista para Israel e para alguns países do Ocidente, o Hezbollah se consolidou como a principal força militar do Líbano e ganhou aura mítica no mundo árabe por sobreviver à devastadora ofensiva israelense de 2006.
Crianças são levadas a admirar a caverna em que pregava Abbas Musawi, o líder do grupo morto num bombardeio israelense em 1992. Além do Corão e de dois fuzis, a gravação de suas pregações completa o cenário.
"Alá é grande! Alá é grande", grita o libanês Khalil, de calça de ginástica e chinelos, enquanto estimula os dois filhos a repetir a frase. "É importante eles verem que não temos medo de Israel", diz.
O passeio começa com um filme de sete minutos que narra num tom épico e com música em volumes ensurdecedores a história do grupo, com direito a fartas cenas de tanques israelenses sendo explodidos e soldados inimigos chorando nos funerais de colegas mortos.
Logo na entrada, uma cratera chamada de "abismo" exibe a réplica de um tanque israelense com um nó no cano, ao lado de covas com letras em hebraico.
ARMA DE PROPAGANDA
Construído a um custo de US$ 4 milhões, o parque de Mleeta é mais uma arma no arsenal de propaganda do Hizbollah, que tem um canal de TV, uma rádio e um batalhão de porta-vozes.
Na guerra de nervos com Israel, a "Hezbollândia" não usa meias palavras. No hall de exibição das armas capturadas do inimigo, um grande painel mostra os alvos preferenciais do grupo xiita em Israel, incluindo Tel Aviv e o reator nuclear de Dimona, no distante deserto do Neguev.
No fim, o visitante pode levar um souvenir, como chaveiros com o rosto do líder do grupo, Hassan Nasrallah, camisas com o logo do parque ou vídeos com operações de "martírio" contra Israel.
Os idealizadores da "Hezbollândia" já anunciam para breve a ampliação do complexo turístico, com a construção de um hotel de luxo, piscinas, área de camping e um teleférico. Diversão garantida para a família exercitar junta a aversão a Israel.