©Jane Bichmacher de Glasman**
Quando pensamos no mês de Av, nossa primeira associação é com Tishá beAv, um dos mais sombrios dias do calendário, no qual ocorreram e relembramos grandes tragédias da história judaica como a destruição dos dois Templos de Jerusalém, a queda de Betar, de Bar Kokhba, do massacre à resistência judaica aos romanos, dos decretos de expulsão dos judeus da Inglaterra e da Espanha, entre outras.
Quando pensamos que o vocábulo Av, em hebraico, também significa pai e, associando à imagem de um D-us paternal, podemos questionar quase "hereticamente": Que pai é este?
A resposta, no calendário judaico, vem seis dias depois, em Tu beAv (15 de Av): um pai que nos recebe com alegria, que se volta para nós ao retornarmos a ele.
Embora seja uma data menos conhecida, é uma das mais expressivas, a meu ver. No Talmud (Taanit 26,2), Tu beAv e Iom Kipur são considerados "os dias mais significativos para o povo de Israel".
Embora seja uma data menos conhecida, é uma das mais expressivas, a meu ver. No Talmud (Taanit 26,2), Tu beAv e Iom Kipur são considerados "os dias mais significativos para o povo de Israel".

Da mesma forma que em Tishá be Av tantos fatos trágicos aconteceram aos judeus, em Tu beAv foram vários fatos positivos, ao longo da história, marcando o fim de negativos que vinham ocorrendo conosco, como povo.
Alguns Exemplos:
Após o caso dos espiões, quando o povo não quis entrar em Canaã, sua geração foi condenada a uma jornada de 40 anos no deserto, até que todos falecessem e uma nova entraria na Terra. Segundo a agadá, isto ocorreu em Tishá beAv e as mortes ocorriam neste dia; as pessoas cavavam covas para si e dormiam dentro delas; todo ano morriam 15.000.
No último ano no deserto, todos acordaram vivos. A princípio, pensaram que haviam errado a contagem de dias e continuaram a dormir nas covas nas noites seguintes até que no dia 15 viram a lua cheia e tiveram certeza que Tishá beAv havia passado sem ninguém morrer.
No último ano no deserto, todos acordaram vivos. A princípio, pensaram que haviam errado a contagem de dias e continuaram a dormir nas covas nas noites seguintes até que no dia 15 viram a lua cheia e tiveram certeza que Tishá beAv havia passado sem ninguém morrer.
O enterro dos mortos de Betar

Nossos Sábios acrescentaram a bênção Hatov Vehametiv -o "Bom que faz o bem", no Bircat Hamazon, explicando :"O Bom" - pois os corpos não apodreceram enquanto não haviam sido enterrados e "que faz o bem" - pois fez com que acabassem sendo enterrados.
O dia em que terminavam de trazer lenha ao Templo
Este também era o dia da oferenda de madeira quando as pessoas traziam gravetos de madeira para o altar do Templo (Nehemias,10:35). O festival foi instituído pelos Fariseus celebrando a sua vitória sobre os Saduceus neste dia.
Após a reconstrução do Segundo Templo, no tempo de Ezra e Nehemia, era grande a dificuldade de encontrar árvores para utilizar a madeira na queima dos sacrifícios no altar, pois a terra encontrava-se devastada. Quando alguém doava lenha ao Templo, era muito festejado, pois sem lenha o ofício do Templo teria que ser cancelado. Inimigos impediam pessoas de chegar com lenha a Jerusalém.
O última dia de corte para o Templo era 15 de Av. Depois, o calor já não era tão intenso e as madeiras que não estavam secas corriam o risco de serem infestadas por insetos, invalidando sua utilização no altar. Por isso, o último dia de verão era festejado com grande alegria.
O última dia de corte para o Templo era 15 de Av. Depois, o calor já não era tão intenso e as madeiras que não estavam secas corriam o risco de serem infestadas por insetos, invalidando sua utilização no altar. Por isso, o último dia de verão era festejado com grande alegria.
O Talmud dá uma razão adicional e curiosa para a importância deste dia: daí em diante nenhuma madeira mais foi cortada para o Templo porque o sol não era mais bastante forte para secá-la (Bavli:Taanit,30b-31a; Tratado 121a-b; Ierushalmi:Taanit 4:11,69c).
Teria havido uma mudança de clima súbita e drástica? Se o sol não fosse mais forte bastante para secar madeira, uma forte névoa teria se formado, bloqueando os raios do sol? A terra teria esfriado, pelo menos na região? Talvez nunca saibamos a resposta desta intrigante questão.
Teria havido uma mudança de clima súbita e drástica? Se o sol não fosse mais forte bastante para secar madeira, uma forte névoa teria se formado, bloqueando os raios do sol? A terra teria esfriado, pelo menos na região? Talvez nunca saibamos a resposta desta intrigante questão.
Amor fraterno
Há outras razões para a causa e o valor do Feriado do Amor.

Num Tu beAv também, o último rei de Israel, Hoshea ben Elá, removeu as chancelas que Ierovam instalou e declarou: "Quem quiser peregrinar a Jerusalém, pode ir".
A primeira proibição foi transmitida por Moisés, para garantir os direitos sobre a terra de cada tribo. Se uma filha tivesse herdado um terreno de seu pai, ao casar-se com um homem de outra tribo, o terreno passaria a pertencer também ao marido, prejudicando a tribo dela. Quanto à tribo de Benjamin, após o episódio da Pileguesh Baguiva, o povo fez a promessa: "Nenhum de nós dará sua filha a Benjamin por esposa".



Deduzimos que o Feriado do Amor também era um Feriado de Amor Fraterno.

Em tempos bíblicos, o Feriado do Amor era celebrado com tochas e fogueiras. Hoje em dia, em Israel, é costume enviar flores a quem se ama ou para os parentes mais íntimos. A significação e a importância do feriado aumentaram em anos recentes. Canções românticas são tocadas no rádio e festas 'Feriado do Amor' são celebrados à noite, em todo o país.

O amor no judaísmo é essencial. Rabi Haim Vital, cabalista, comparou por guemátria amor em hebraico, ahavá, (valor numérico 13) com o Nome de Deus (26), concluindo que, quando duas pessoas se amam, a combinação de seu amor (13+13) intensifica a presença divina entre eles (Deus=26=13+13). Portanto, procure o amor e ame intensamente! Cônjuges, namorados, amigos, pais, família... Quando duas pessoas compartilham suas existências, com troca e harmonia, Deus se faz presente!
*Publicado em Visão Judaica Ed. 38, agosto de 2005, Rio Total Ed. 641 18 a 25/07/2009 e Semana CIAM nº 136, 29 de julho de 2009.
** Jane Bichmacher de Glasman é Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica - USP,
Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos – UERJ, Professora Coordenadora do Setor de Hebraico-UFRJ (aposentada), escritora