Tu b'Shvat, o 15o dia do mês hebraico de Shvat, 30 de janeiro de 2010, é o ano novo das árvores. Como ensina o Talmud, é um dos quatro Rosh Hashanás - inícios de ano existentes no decorrer de um ano judaico.
O conceito de haver mais de um ano novo não deveria intrigar-nos; pois, no calendário secular, o ano fiscal e o ano escolar não se iniciam em 1º de janeiro, como o ano novo.
Tu b'Shvat é o Ano Novo das árvores no sentido de que é a data legal para o cálculo da formação inicial dos frutos e a decisão de que tipos de dízimos devem ser oferecidos, segundo os mandamentos da Torá. Tais questões eram de importância capital para os agricultores judeus que residiam na Terra de Israel, mas, sem entrar muito no mérito da questão, a celebração deste dia parece tão estranha quanto a do início de um novo ano fiscal - uma data importante, sem dúvida, mas não necessariamente digna de júbilo.
Contudo, Tu b'Shvat é, de fato, um dia festivo, não apenas em Eretz Israel. Foi celebrado durante todo o tempo em que a quase totalidade do Povo Judeu vivia fora de Eretz Israel, sua terra. A lei judaica reza que em Tu b'Shvat, por ser um dia festivo, é proibido recitar o Tachanun - a oração das súplicas, na qual pedimos a D'us perdão por nossas transgressões.
Em Tu b'Shvat, costuma-se comer frutas, especialmente aquelas que a Torá associa com Eretz Israel, como uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras. O dia 15 de Shvat reafirma, portanto, a intrínseca conexão entre o Povo de Israel e a Terra de Israel. Esta conexão é uma parte integral do judaísmo. Pois, se por um lado é inegável que o Povo Judeu passou a maior parte de sua história vivendo na Diáspora, qualquer pessoa familiarizada com a história e a Lei judaica sabe que a Torá e seus mandamentos não podem ser plena e adequadamente cumpridos a não ser que a grande maioria do povo viva em Eretz Israel.
A herança do Povo de Israel
Por que razão a Terra de Israel é guardada com tanto carinho pelo Povo Judeu? Por que Israel - este pequeno país - é o centro de tanta atenção por parte do mundo? Justamente pelo fato de que este pedaço de território, desprovido de petróleo e de água, é o centro espiritual do mundo.
Quando o mundo foi criado, a terra foi imbuída de santidade. E foi justamente o nosso mundo físico, não os Céus nas Alturas, que D'us escolheu como Seu jardim, Sua morada. No entanto isto mudou quando Adão e Eva comeram do fruto proibido e, especialmente, quando Caim matou seu irmão, Abel.
A Cabalá ensina que desde que a terra absorveu o sangue de Abel, ocultando o crime de Caim e, portanto, tornando-se cúmplice do mesmo, a terra perdeu muito de seu poder espiritual. Apenas um pedaço de terra não perdeu sua santidade: a Terra de Israel, que continua sagrada até o dia de hoje. Trata-se de um lugar carregado de energia espiritual; é a terra mais abençoada de todas.
Eretz Israel é tão essencial para o Povo Judeu que a história de nosso povo praticamente começou quando D'us ordenou a Abrahão, o primeiro judeu, que deixasse seu país para trás e emigrasse para uma nova terra - a Terra de Israel. Nossa história está definitivamente ligada a essa terra. De fato, enquanto os judeus eram escravos no Egito, D'us os libertou não apenas para livrá-los de seu sofrimento e para lhes dar a Torá - mas para que eles pudessem herdar a Terra que Ele prometera a nossos patriarcas. A principal narrativa de quase toda a Torá é a jornada do Povo Judeu a caminho da terra que D'us lhes prometera.
Mesmo o primeiro relato do primeiro livro da Torá, Bereshit, refere-se à Terra de Israel. O primeiro comentário escrito por Rashi, o comentarista clássico da Torá, é relacionado à Terra Prometida. Rashi pergunta: se a Torá é, antes de mais nada, um livro de leis, não deveria, pois, começar com uma delas? Por que, então, se inicia com um relato da Criação? Ao que Rashi responde: a Torá assim se inicia para nos ensinar que como foi D'us quem criou o mundo inteiro, este mundo Lhe pertence. Sendo assim, se algum dia alguém acusar o Povo Judeu de roubar a Terra de Israel, nosso povo pode responder que a recebemos como herança d'Aquele que a criou e que é O dono do mundo. Este ensinamento foi repetido pelo Arcebispo de Viena, Cristoph Schorborn, que, em visita a Israel, declarou: "Uma única vez na história da humanidade D'us escolheu um país como legado, e Ele o ofereceu a Seu Povo Eleito".
Mas Eretz Israel representa, para o Povo Judeu, muito mais do que um mero lugar geográfico, ou mesmo do que uma pátria sagrada. A Terra de Israel é um pilar de judaísmo: o ciclo completo do ano judaico se conecta com a mesma e toda oração importante a menciona. Mas durante quase dois milênios, Eretz Israel, mencionada tão freqüentemente nas orações e festas e em praticamente todas as porções da Torá, foi, para os judeus que viviam na Diáspora, um sonho - uma terra lendária- um eldorado espiritual que as pessoas sonhavam alcançar, mas que nunca realmente esperavam conseguir atingir. Mesmo nos poemas de Rabi Yehuda HaLevi, a Terra de Israel era mais um local espiritual do que físico.
E Tu b'Shvat é um dia tão especial e festivo justamente porque nesse dia conectamos a Terra de Israel lendária com a real e as celebramos, em todo o seu concretismo. Por essa razão cumprimos um mandamento sensorial - que nos manda provar os frutos mencionados na Torá como sendo típicos de Eretz Israel. Alguns judeus que vivem na Diáspora dão-se ao trabalho de importar frutos de Israel para reparti-los entre amigos na data de 15 do mês de Shvat.