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Uma mulher de saia




Uma mulher de saia

Não admira que as alunas muçulmanas troquem um tipo de sequestro por outro

João Pereira Coutinho




GOSTEI DE "O Dia da Saia", de Jean-Paul Lilienfeld. Confesso que assisti ao filme por motivos superficiais: Isabelle Adjani. Curiosidade: como estaria a velha musa da adolescência, que despertava no cronista todos os sentimentos hormonais de "A" a "Z"?

Adjani envelheceu; mas o rosto de anjo permanece. Uma condição que perturba, e tragicamente, ante a natureza diabólica da história.

Conto rápido, sem revelar os pormenores fundamentais: Adjani é professora de literatura em liceu problemático e suburbano. "Liceu problemático", no contexto, é eufemismo: com alunos que se comportam como selvagens e atuam como criminosos de gangue, a professora perde a cabeça quando descobre que um deles está armado.

Retirando-lhe a arma em gesto de pânico e a disparando por acidente, a professora cruza o seu pessoalíssimo rubicão. Não há retorno.

Resta-lhe sequestrar toda a turma e fazer uma exigência final: uma câmera de TV para denunciar a desagregação da sociedade francesa. Uma sociedade que, incapaz de fazer cumprir o seu programa laicista, é apenas uma manta de retalhos em que as comunidades imigrantes (leia-se: comunidades imigrantes islâmicas) impõem versões extremistas do seu próprio credo.

O interesse do filme começa dentro da sala de aula: na relação entre a professora e os alunos; mas também nas relações de poder, ou de opressão, que se revelam entre alunos e alunas: na violência verbal, física e até sexual dos primeiros sobre as segundas. Não admira que as alunas, muçulmanas também, passem gradualmente para o lado da professora que as sequestra. Ou, se preferirem, que troquem um tipo de sequestro por outro.

Mas o filme é igualmente notável ao mostrar o mundo "lá fora", que reage ao sucedido dentro da sala. Um mundo de relativismo letal, que na verdade produziu as condições ideais para o desastre.

Um dos colegas da professora, indignado com a "islamofobia" da dita, retira o Corão da sacola e dispara: sempre que um aluno cita o Corão para justificar as suas ações mais "impróprias", ele próprio refuta o aluno com o Corão. Na sapiência medíocre da criatura, "integrar" a comunidade muçulmana na França (mais de 5 milhões) passa por transformar as escolas laicas em puras madrassas.

É contra esse programa "multiculturalista" que se revolta a professora; contra o antissemitismo dos alunos, que usam "judeu" como insulto permanente; contra a forma como eles agridem as suas "irmãs de fé" com brutal misoginia; e como se autoexcluem da sociedade de acolhimento, desenvolvendo narrativas de vitimização que só convidam a infindáveis ciclos de violência.

Um caso patológico de "islamofobia"? Assim seria se a própria professora, em conversa telefônica com os progenitores, não se revelasse aos nossos olhos, e aos olhos dos alunos, como sendo igualmente muçulmana. "Nós não sabíamos que a senhora era...", balbuciam os discentes, escutando a conversa em árabe.

A professora não permite a conclusão da frase. E replica, em gritos de afirmação: "Eu sou a professora de literatura! Aqui, sou apenas a professora de literatura!".

Curioso como, em duas frases, está resumida a diferença política fundamental entre a modernidade e o islã. De um lado, alguém que adere aos valores constitucionais da República, respeitando a separação entre duas esferas de poder distintas.

Do outro, os que permitem que a identidade religiosa se sobreponha a qualquer outra, suprimindo os espaços de liberdade e de tolerância que definem as sociedades liberais do Ocidente.

O filme de Jean-Paul Lilienfeld pode não ser um prodígio cinematográfico. Mas mesmo na sua modéstia de telefilme, ele serve como aviso para a França e para a Europa.

Sempre que o assunto ronda essas matérias polêmicas, os exércitos mais conservadores descem o sarrafo sobre a ameaça da imigração islâmica no velho continente.

Confesso que nunca embarquei nesse pavor: o problema não está na imigração, que aliás pode ser uma necessidade para uma Europa demograficamente suicidária.

O problema está na forma como se recebem esses fluxos migratórios. Sem uma economia capaz de crescer e de integrar socialmente quem chega (como nos Estados Unidos); e pelo contínuo repúdio do patrimônio político e cultural da Europa em nome de um multiculturalismo demencial que tudo autoriza e nada condena, o futuro do continente está personificado no colega da professora. Alguém que jogou heroicamente a Bíblia pela janela; para acabar os dias com o Corão dentro da sacola.

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