Carta de Shimon Peres ao Presidente Russo
1 de abril de 2010
(enviada à comunidade internacional por Steven Plaut)
Prezado Sr. Presidente,
Envio minhas condolências ao Sr. e ao povo russo pelos ataques a Moscou esta semana.
Mas precisamos conversar sobre como lidar com as atrocidades e protestos, inclusive os ataques a Moscou, perpetrados pelos ativistas islâmicos. Senhor Presidente, tenho larga experiência no trato com terroristas e tenho obtido bastante sucesso nesta área, sendo por isto que venho aqui oferecer-lhe auxílio.
Em primeiro lugar, é preciso que o Sr. compreenda que só se pode fazer paz com o inimigo, pois com o amigo não é necessário. Não há solução militar para o problema do terrorismo, portanto o Sr. precisa buscar uma solução diplomática. "Sem justiça não há paz", diz o lema. O Sr. deve convidar os líderes dessa organização de ativistas islâmicos a uma visita no Kremlin e talvez à Praça Vermelha. O Sr. deve aprender a sentir a dor deles e compreender suas necessidades. O Sr. deve oferecer um terço de seu território a eles, de modo que esses muçulmanos sem pátria possam ter o seu Estado. Tenho certeza que o mundo muçulmano aplaudirá sua iniciativa.
Será preciso atender a todas as exigências dos manifestantes chechenos. Além disso, o Sr. deve oferecer-lhes serviços de Internet e hotéis cinco estrelas em troca da promessa deles de abandonar as atividades violentas. Afinal, foi assim que conseguimos transformar Arafat num parceiro de paz! Como pode ver, não há mais lugar para o uso da força militar. É coisa do passado, é arcaico. Hoje em dia, o mundo é dominado por interesses econômicos e os ativistas islâmicos em todo o mundo certamente farão a paz em troca de lucros de participação no mercado global.
A razão para os ataques em Moscou é que o Sr. não foi suficientemente sensível às necessidades dos muçulmanos chechenos. O Sr. interpreta a retórica fundamentalista deles ao pé da letra, ao passo que nós, em Israel, sabemos que isso não passa de retórica vazia e que eles no fundo só querem a paz. Sim, é verdade que os muçulmanos fundamentalistas elogiam Hitler e comemoram as atrocidades que cometem, mas o que eles realmente querem? O Sr. deve negociar mesmo quando sob ataque armado. O Sr. nada ganhará se impuser a condição de que a violência seja interrompida em primeiro lugar. Fazê-lo apenas acarretará mais derramamento de sangue!
O Sr. vem tentando governar sobre outros povos, mas não soube ser sensível ao Outro. O Sr. ainda mantém assentamentos ilegais que devem ser removidos do Cáucaso e da área do Mar Negro. É preciso primeiro pôr a casa em ordem, eliminando a desigualdade e a injustiça na Rússia. Assim fazendo, logo verá que os terroristas não mais o alvejarão.
A chave para solucionar o problema é construir uma nova Eurásia em que todos estejam tão ocupados com o desenvolvimento do turismo, dos investimentos e da alta tecnologia que nem tenham tempo para a violência. A era da guerra acabou.
Ademais, pense que se o Sr. vier a atacar os perpetradores dos protestos e violência em Moscou, bem como seus defensores, o Sr. estará simplesmente estendendo e aumentando o ciclo de violência. As bombas que o Sr. vier a usar com certeza também atingirão algumas crianças e civis inocentes além dos ativistas que serão seu alvo, o que suscitará indignação em todo o mundo e provocará a vingança das vítimas. Os ataques armados que o Sr. vier a fazer contra esses militantes e ativistas farão com que eles odeiem os russos e incitarão os separatistas a abraçar o terrorismo. Lembre que se o Sr. se negar a negociar com os separatistas chechenos, o líder deles cairá e será substituído por um militante realmente violento e fanático. Se isto acontecer, o Sr. terá perdido a preciosa oportunidade de fazer a paz com eles. Comece por declarar um cessar-fogo unilateral!
Sr. Presidente, abençoado seja aquele que faz a paz. Lembre de Tolstoy. O mundo inteiro o apoiará e o parabenizará se o Sr. responder a esse ataque horrível desarmando a Rússia e abrindo um canal de diálogo com os ativistas terroristas. Estamos apenas dizendo para dar uma chance à paz. Itzhak Rabin certamente o aprovaria. Sim, chaver, o que o Sr. precisa é shalom, salam, paz. O Sr. será aplaudido de pé e receberá um prêmio Nobel em reconhecimento a seus esforços. Não se permita descer ao nível da violência. Com violência nunca se alcança nada. A história não ensina nada – é apenas o passado morto.
Interrompa o ciclo de violência. Mostre auto-controle. Não se deixe levar pelo impulso juvenil da vingança.
Siga o meu exemplo! Dê mísseis antiaéreos e antitanque aos militantes chechenos, de modo que possam combater os verdadeiros radicais e fanáticos entre eles. E eles o farão sem o inconveniente das ONGs de direitos humanos ou da Suprema Corte.
Demonstre sua grandeza humanitária pagando pensões a viúvas e órfãos dos terroristas que explodiram o metrô.
Sr. Presidente, o que importa são os resultados. Minhas políticas de paz eliminaram a guerra, o derramamento de sangue e o terror do Oriente Médio. Já não mais temos de lidar com terroristas no Levant, mas somente com parceiros de paz. Se seguir meus passos, o Sr. obterá os mesmos excelentes resultados.
Muita paz,
Shimon Peres, o grande pacifista
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