AS CASAS EM JERUSALÉM ORIENTAL E A HIPOCRISIA
Reinaldo Azevedo
Ao falar no Parlamento israelense — um discurso que, reitero, é doidivanas —, Lula censurou a disposição do governo de Israel de construir 1.600 novas residências em Jerusalém Oriental. Não me posicionei a respeito no texto em que critiquei a fala do presidente brasileiro porque repudio a simples suposição de que estou praticando "isentismo", "outro-ladismo" e "equilibrismo". Prefiro que me odeiem a que me tomem por um tipo assim.
Como disposição não me falta, e o espaço de um blog é ilimitado, esperei para voltar ao assunto. E cá estou. O que eu penso a respeito da construção das casas? Acho nada menos do que uma estupidez. A decisão, ademais, fornece pretexto verossímil — e falso — para declarar a equivalência moral entre Israel e o Irã. Foi o que Lula fez, ainda que por caminhos um tanto oblíquos.
Que benefício a construção das casas pode trazer a Israel? De imediato, já provocou um desgaste nada irrelevante com o seu principal aliado no mundo, os EUA. E no momento em que eles estão empenhados em conseguir apoio para aplicar sanções contra o Irã. A decisão não é moralmente aceitável; não é politicamente oportuna; não é estrategicamente inteligente. Pronto! Acho que não deixo muita margem a dúvidas sobre esse particular.
Mas o que tem a ver a decisão de construir as casas com a "mensagem" que Lula levou a Israel? Digamos que os EUA consigam convencer o governo israelense da inconveniência da decisão. O que muda na política iraniana? Resposta: NADA! E é isso que torna o discurso do presidente brasileiro notavelmente hipócrita. A "causa palestina", para governos como o Irã ou a Síria, é só um botão quente que pode ser acionado a qualquer tempo. E assim é para boa parte do mundo islâmico.
O problema no discurso de Lula não está em censurar, como fez, a construção das casas — até aí, repete a Casa Branca —, mas na condescendência com o Irã, que desenvolve um programa nuclear secreto, que vem demonstrando um comportamento progressivamente beligerante e que financia o terrorismo em pelo menos três países. Aguardemos o discurso que Lula reserva aos aiatolás. Tenho a impressão de que ele não vai nos surpreender — se é que vocês me entendem.
Ora, é claro que reconheço que a questão palestina é importante. Quando menos, aquela população merece viver num estado organizado. MAS É ESTUPIDAMENTE FALSO AFIRMAR, COMO FEZ LULA, por meio de inferências, que está nas mãos de Israel a estabilidade regional e, pois, como ele quer, "a estabilidade de todo o mundo".
Ao fazer esse discurso, o presidente brasileiro transforma Israel no único responsável por aquilo que venha a acontecer com o Irã e… com o mundo!!! Ora, vamos encostar a cabeça no peito dos aiatolás e da elite militar iraniana. O que eles estão pedindo? Um estado palestino? Recue-se na proposta das casas. Teremos um Ahmadinejad menos ameaçador? Foram elas que deflagraram o programa nuclear secreto do país?
E Lula, não nos esquecemos, ofereceu a Israel aquela que considera ser a sua grande solução: que o país abra mão do arsenal atômico; só assim poderia, então, exigir que o Irã mudasse o rumo do seu programa nuclear. Sem isso, nada feito. Estamos no mundo encantado dos países "com direitos iguais". Ora, o Irã não é confiável — e seus satélites terroristas que o digam — tendo apenas armas convencionais…
O Irã não está empenhado em resolver o drama palestino. Ao contrário: ele atua para impedir a solução. Foi quem financiou a guerra civil palestina e armou o Hamas, que deu um golpe em Gaza, na sua luta sangrenta contra a Fatah, de Mahmoud Abbas. Eis o aliado de Lula.