sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Li, no blog do jornalista Ricardo Noblat, artigo postado em 27 de novembro, de autoria de José Dirceu (segue na íntegra abaixo), Nele, a eminência parda petista pretende contestar as posições, também manifestadas em artigo, de José Serra, no qual o governador de São Paulo fazia crítica à presença de Mahmoud Ahmadinejad no Brasil. Dirceu, como sabemos, não fala em nome de si mesmo, mas em nome do PT e, ainda que não oficialmente, em nome do Governo Lula. Primeiro o artigo do capo Zé ( em vermelho). Depois o meu, na cor usual.
Irã e Israel: dois pesos e duas medidas
Sob o título "Visita indesejável", o governador paulista José Serra (PSDB) publicou artigo na edição de segunda-feira (23/12) da Folha de S.Paulo para condenar a visita ao Brasil do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
José Serra enumera fatos e acontecimentos que justificam sua posição. Mas, se acompanharmos seu raciocínio, facilmente concluiremos que também não deveríamos ter convidado o presidente de Israel, Shimon Peres.
Digo isso uma vez que é possível alinhavarmos tantos erros e crimes, políticas não democráticas, agressões e violações aos direitos humanos por parte do governo de Israel e de seus sucessivos primeiros ministros, posicionados cada vez mais à direita e defendendo políticas expansionistas.
São defensores de uma tendência gravíssima do sionismo e responsáveis por vários massacres, verdadeiro genocídio contra os palestinos. Para não falar na política de ocupação territorial por meio de colônias. Veja o nome, que nos lembra a política imperialista do fascismo.
Tanto Israel como o Irã padecem do mal da teocracia e do controle do Estado por partidos religiosos. Os dois países têm mandamentos legais religiosos no mínimo inaceitáveis para nós.
Porém, devemos respeitar sua autodeterminaçã o e procurar entender os processos. E não transformar tais questões em impeditivos para nossas relações de amizade.
Israel tem mais: tem bomba atômica. E, ao tentar esconder esse fato da opinião pública, Serra perde a autoridade para falar em política externa nuclear, campo em que a posição do Brasil é irrepreensível.
Somos signatários do TNP (Tratado de Não-Proliferaçã o Nuclear) e estamos cumprindo todas as suas determinações.
Todas mesmo. Do tratado e da AIEA (Agência Nacional de Energia Atômica). Só não podemos deixar de defender para toda e qualquer nação aquilo que defendemos e queremos para nós: desenvolvimento e controle sobre o ciclo completo nuclear, por razões tecnológicas e energéticas.
Receber Shimon Peres e Ahmadinejad no Brasil não significa apoiá-los ou às suas políticas nucleares. Nem concordar com elas. Simplesmente estamos mantendo relações diplomáticas e políticas com os Estados e nações que tais líderes representam, a partir dos nossos interesses nacionais.
O governador argumenta que não devemos receber o presidente do Irã porque este não cumpre as resoluções da ONU (Organizações das Nações Unidas) e de seu Conselho de Segurança.
Mas Israel é campeão em não cumprir as resoluções da ONU sobre a Palestina e nem por isso o Brasil deixou de receber seus primeiros ministros e presidentes.
É de conhecimento público, inclusive, que o Brasil, o governo do presidente Lula e o PT sempre defenderam a soberania e segurança de Israel, bem como a criação do Estado palestino.
Serra sabe de tudo isso. Então por que escreveu o artigo, visto que, pelo seu raciocínio, o Brasil não deveria manter relações com Israel nem com o Irã?
Acredito que Serra só escreveu o artigo para ter o apoio da comunidade judaica brasileira, visto que nenhum país que se respeite e que tenha alguma influência no mundo de hoje conduz sua política externa por semelhantes argumentos.
Além de parciais, significam, na prática, seguir a política norte-americana, que sustenta e apóia regimes como o da Arábia Saudita e tantos outros, aliados de Washington, mas condena o regime dos aiatolás. Ou seja, faz política externa segundo seus interesses nacionais.
Para nós, o Brasil deve fazer sua política externa segundo os próprios interesses e não, como sempre se pautou o governo de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, segundo os interesses dos EUA.
Parece que José Serra quer voltar no tempo, quando o que era bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil, frase de um ex-chanceler da ditadura que expressou bem um passado que não queremos esquecer para não corrermos o risco de virmos a repetir.
Ladainha anti-sionista e transtorno mental
No artigo, Dirceu defende o pragmatismo de Estado nas relações internacionais e afirma que, consideradas as características dos regimes iraniano e israelense, mais motivo ainda teria a administração Lula para não receber, no Brasil, o presidente Shimon Peres. Dirceu justifica: é possível alinhavarmos tantos erros e crimes, políticas não democráticas, agressões e violações aos direitos humanos por parte do governo de Israel e de seus sucessivos primeiros ministros, posicionados cada vez mais à direita e defendendo políticas expansionistas.
Afirmar, como papagaio, o que Dirceu afirma, é uma coisa. Sua voz é a mesma voz mentirosa da esquerda bolivariano- comunista que orienta a política internacional brasileira Mas provar, papagaio não prova. Nem Zé Dirceu. Quais são os crimes, as políticas não democráticas, agressões e violações aos direitos humanos praticados por Israel? Qual é sua política expansionista? Contra a mentira, argumento com fatos:
Erros Israel comete. Um deles: ter saído da Faixa de Gaza unilateralmente, em 2005, sem negociação prévia e sem assegurar-se que ela não seria apropriada por lunáticos fundamentalistas cujo único objetivo é destruir o Estado Judeu.
Outro erro: ter acreditado que Yasser Arafat estava comprometido com o processo de paz e que, para tanto teria de fazer concessões, com base na resolução 242 da ONU, que afirma: Israel deve retirar-se de territórios ocupados depois da Guerra de 67. A resolução não diz dos territórios. Ou seja, ela implícíta a necessidade de negociação para que se determine qual a extensão dos territórios dos quais Israel deveria retirar-se. Arafat, depois dos Acordos de Oslo e de Taba (1993 e 1995, respectivamente) , afirmou seu compromisso com as negociações, mas na prática, sempre foi inflexível nas suas exigências. Demonstro o porquê:
Na administração Ehud Barak (1999-2001), Israel comprometeu- se, em negociação mediada por Bill Clinton, em 2000 – a chamada Cúpula de Camp David- a entregar imediatamente 73 por cento da Cisjordânia e a Faixa de Gaza aos palestinos. Da proposta, constava a anexação, por parte de Israel, de assentamentos erguidos na Grande Jerusalém, que se encontravam no território que pertencia à Jordânia, antes da Guerra de 67. Ao mesmo tempo, a proposta também previa a entrega de 40 por cento de Jerusalém Oriental (seria a futura capital da Palestina) para que Arafat criasse seu estado.
No prazo de dez a 25 anos, pela proposta israelense, seriam desocupadas áreas correspondentes a 94 por cento da Cisjordânia. Seriam removidas as colônias israelenses dos territórios do futuro Estado Palestino. Arafat recusou, alegando que toda Jerusalém Oriental deveria ser devolvida e que todos os refugiados palestinos deveriam retornar a Israel. Arafat não tinha estado algum (aliás, os palestinos nunca o tiveram) e resolveu ficar sem nenhum, ao tentar impor condições inaceitáveis aos israelenses. O retorno de refugiados, mais de um milhão, pela conta palestina – se aceito- implicaria a inevitável desfiguração do Estado Judeu.
De lá para cá, as negociações congelaram, o Hamas entrou em cena, os palestinos se dividiram. Mas onde está o expansionismo israelense apregoado por Zé Dirceu? Se expansionista fosse, Israel jamais aceitaria propor o que propôs. Há outro "expansionismo" além deste? Israel anexou parte do Líbano? Israel fez guerra contra a OLP, no Líbano, em 1982 e ocupou uma faixa de 1.200 quilômetros quadrados do Sul daquele país, não para anexá-los, mas para impedir atividades bélicas ou de terror contra seu território. Em 2000, Israel retirou-se inteiramente do Líbano. A região passou a ser controlada pelo Hezbollah, braço do Irã, cuja meta é destruir Israel
Bem, aí Dirceu pode tirar uma carta da manga: e quanto às Colinas de Golan?. Zé, Zé, menas, como aconselha o capo di tutti capi. Sob ocupação militar israelense, de 67 a 81, o Golan foi anexado, por decisão do Parlamento de Israel, naquele ano. Cabe questionar. Por que Israel não o anexou logo, depois de tê-lo conquistado numa guerra defensiva? Afinal, pela visão, ainda que embaçada de Zé Dirceu, Israel não é expansionista? Não é não. O Golan esteve sob administração militar, durante 14 anos, para que pudesse ser negociado um acordo de paz com a Síria, com base na resolução 242 da ONU. Negociar significa ceder um pouco aqui, reivindicar um pouco ali, garantir sua segurança e cositas mas. Mesmo depois da anexação, este é o espírito da coisa, porque se a Síria aceitar dialogar com Israel, tudo pode ser negociado, preservadas as garantias de segurança que um futuro acordo estabeleceria. Israel fez assim com o Egito e com a Jordânia.
E com a Síria, por que não faz? Por que a Síria não quer. Desde 1974, depois de entrar novamente em guerra com o Estado Judeu para extirpá-lo do mapa, a Síria vem abrigando, dando suporte e apoio militar, a vários grupos terroristas, que atacam Israel pelo Líbano e, agora, também pela Faixa de Gaza, como o hoje muito conhecido Hezbollah. Mas não só ele: também a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e a Frente Popular para a Libertação da Palestina- Comando Geral (FPLP-CG). A Síria, uma ditadura férrea controlada pela dinastia Assad, continua hostil a Israel, como no passado. O Zé quer que Israel entregue o Golan – região estrategicamente importante - aos seus inimigos, assim, sem mais. O Zé conhece bem estes grupos, porque mantinha contato com eles na década de 70 e depois, de 80, já dentro do PT. É o que chamamos de afinidade ideológica. Mas é de fazer rir a constatação de que Zé Dirceu quer aplicar a lógica do mensalão para explicar o conflito do Oriente Médio. Ele e seus súditos. Não dá para dizer que isto é um pensamento. É mera sinapse de papagaio.
Mas o cardeal Richelieu petista não se contenta com uma única conexão neuronal. Ele quer ser o rei dos papagaios e afirma que sucessivos primeiros-ministros de Israel defendem uma "tendência gravíssima do sionismo", a saber, massacres e genocídio dos palestinos. Se entendi bem, o sionismo tem lá, no seu DNA, uma tendência para massacres e genocídio. Onde está a prova disso? José Dirceu não as apresenta, porque não há nenhuma. Quem tentou exterminar os judeus de Israel foram os árabes, em três guerras que provocaram (1948, 1967, 1973).
Onde e quando foi praticado o genocídio dos palestinos? Onde, eu sei: na cabeça de comunista anti-sionista de José Dirceu. Esta realidade alternativa respalda a ladainha do bando que ele lidera. Vale o mesmo para sua "teoria de ocupação territorial por meio de colônias". Interrompi esta sinapse anteriormente, quando falei da Cúpula de Camp David. Faltava a acusação de "fascismo" e ela veio, por inferência, das anteriores. Como esfacelei aquelas, esta fica suspensa na interpretação delirante do cardeal.
As papagaiadas e delírios não cessam. Pior, elas tornam-se mais hígidas. Zé Dirceu acusa Israel de ser uma teocracia, tal qual o Irã. Deveria chamar um neto de quatro anos para responder a tolice, mas como não tenho um (ainda), cai sobre mim o fardo. Israel é um estado laico, democrático e de direito, no qual é livre a organização política em partidos (inclusive anti-sionistas) e a liberdade de expressão é irrestrita. Na imaginária "teocracia" de Dirceu, os partidos religiosos controlam o estado. Isto não é uma simples sinapse de papagaio, mas uma hecatombe neuronal. Para quem possui quatro neurônios, como me parece ser o caso do papagaião, é o caos cognitivo, é o abandono do senso elementar de realidade, é a fuga metafísica da substância para si mesma. Conviver com uma criatura deste tipo é conviver com a alucinação.
Há, sim, partidos religiosos em Israel, eles estão no parlamento, mas nunca controlaram e não controlam o estado. Há também partidos religiosos aqui e o atual vice-presidente da República pertencia a um deles. Isto faz do Brasil uma teocracia? Tais partidos, lá como aqui, ou mesmo não-partidos, como as instituições religiosas, exercem influência política. Dentro do PT exercem e exerceram. Lembro-me, a propósito, que o presidente da Itália, caracterizou Tarso Genro como catocomunista. Tais influências transformam Dirceu, pelos parâmetros de sua mixórdia emsimesmada, em teocrata. Igualzinho aos aiatolás iranianos.
O restante do artigo segue o mesmo padrão, formula inquietações anti-imperialistas e exalta a política externa não-alinhada de Lula, contrastada com a aquela, dita subserviente, de FHC. Tudo é muito tolo, mas compreensível, se consideramos o tipo de mente que José Dirceu possui. Mente que lança sombra onde há ainda resíduos de algo claro. E que é seguida por milhares de militantes petistas que, parafraseando Lupicínio Rodrigues, temem o céu, por ser escuro e vão para o inferno a procura de luz.
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Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata.
Magal
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