Hot Widget

Type Here to Get Search Results !

Uma forma inadequada de lidar com o mundo

Roger Cohen


Israel é apenas uma nação entre nações? Num nível, é realmente um lugar comum.



As pessoas xingam o trânsito, vão à praia e pagam hipoteca. Em outro nível, não. Mais de 60 anos após a criação do Estado moderno, Israel não tem fronteiras estabelecidas, não tem uma Constituição nem paz. Nascido do horror excepcional, o Holocausto, o país considera a normalidade enganosa.



A ansiedade da diáspora judaica cedeu lugar não à tranquilidade, mas a uma outra ansiedade.



A fuga dos muros ergueu novos muros. A psicose do aniquilamento adotou nova forma. Alguma coisa pode ser feita? Talvez um bom ponto de partida seja observar que Israel não se vê como normal. Vive num perpétuo estado de excepcionalidade.



Eu compreendo: Israel é um país pequeno cujos vizinhos são inimigos ou frios observadores.



Mas eu me preocupo quando Israel transforma em fetiche seu status excepcional. Precisa lidar com o mundo como ele é, não com o mundo de ontem.



O Holocausto representou a quintessência do mal. Mas ele aconteceu há 65 anos. Seus perpetradores estão mortos ou morrendo.



Enxergar por um prisma do Holocausto pode distorcer a imagem.



A História ilumina — e cega.



Essas reflexões evocam o discurso do premier Benjamin Netanyahu no mês passado. Os primeiros 30 parágrafos foram dedicados a uma inflamada confluência da Alemanha nazista, (a palavra nazista aparece cinco vezes), o Irã moderno, a rede al-Qaeda e o terrorismo global, com o solitário e excepcional Israel contra todos eles.



Aqui está o resumo de Netanyahu sobre a batalha de nossa era: "Ela contrapõe civilização a barbarismo, o século XXI ao IX, aqueles que consagram a vida contra os que glorificam a morte." Isso é superficial, ressonante — e de pouca ajuda.



Há outra forma de olhar o conflito no Oriente Médio, menos dramática e mais precisa. Vêlo como uma luta por um diferente equilíbrio de poder — e possivelmente uma estabilidade maior — entre Israel com suas armas nucleares, o orgulhoso e incômodo Irã, e o mundo árabe, cada vez mais sofisticado e atento.



Alguns inimigos de Israel contestam sua existência. Mas o paradigma terroristas que cultuam-a-morte versus israelenses-razoáveis é insuficiente. Há várias civilizações no Oriente Médio cujas atitudes sobre religião e modernismo variam, mas que buscam uma acomodação entre elas.



Uma vítima dessa visão é a excepcionalidade israelense. O Estado judeu torna-se mais parecido com qualquer outra nação lutando por influência. Acredito que o presidente Obama tenta persuadir Israel a adotar uma auto-imagem mais prosaica e realista.



A mudança é perceptível no endosso tácito de décadas ao não-declarado arsenal nuclear israelense. É lógica. Lidar com o programa nuclear do Irã enquanto ignora o status nuclear de Israel é um convite a críticas.



Eu diria que há uma justificativa razoável para Israel suspender seu excepcionalismo nuclear, livrar-se de seu arsenal e juntar-se ao Tratado de Não Proliferação de Armas como parte de um acordo de segurança regional apoiado pelos EUA que detenha o armamento do Irã.



Vale a pena destacar o tom sensato do secretário de Defesa, Robert Gates — num flagrante contraste com Netanyahu. "O único meio de não ter um Irã nuclear é o governo iraniano decidir que sua segurança diminui ao possuir tais armas, em vez de reforçá-la." Em outras palavras, o Irã toma decisões racionais. Em vez de invocar o Holocausto, Israel deveria ver o Irã friamente, entender a hesitação da estratégia nuclear iraniana e observar como pode ganhar com a diplomacia americana.



Cortar a postura e lidar com a realidade. Isso pode ser doloroso — com o relatório da ONU indicando que tanto as forças israelenses quanto os militantes palestinos possivelmente cometeram crimes contra a Humanidade. Mas também é construtivo. A resposta israelense ao relatório me atinge como um exemplo do efeito ofuscante desse excepcionalismo irrestrito. Nações comuns têm falhas.



O Oriente Médio mudou, e Israel também deve mudar. "Nunca mais" é tanto uma forma necessária quanto inadequada de lidar com o mundo moderno.




ROGER COHEN é colunista do New York Times




--
Magal
Leia o Blog http://hebreu.blogspot.com/
http://twitter.com/magal

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Top Post Ad

Below Post Ad

Ads Section