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A vida luminosa de Boaz Gabriel Canhoto

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por Sheila Sacks
Jerusalém é uma cidade de muitas histórias e muitos milagres. Pelas milenares ruelas da cidade velha é comum a visão de jovens estudantes das Yeshivot percorrendo aquele solo sagrado. Para qualquer observador, Boaz Gabriel Canhoto não difere muito da maioria dos estudiosos da Torá. Mas, a realidade não é bem essa.
Com 32 anos, casado com a paulista Nicole Wolf e pai de uma garotinha, Boaz (nascido Gabriel) vem de uma tradicional família católica portuguesa. Graduado em Comunicação Social pela Universidade de Lisboa, hoje ele estuda Talmud e sonha em se tornar rabino. Uma trajetória iluminada que merece ser conhecida por nossos leitores.

Você possui antecedentes judeus?

- Sei que nas últimas gerações da minha família não havia judeus ou gente que se afirmasse como descendente de judeus. Eu venho de uma família tradicional portuguesa, de classe média rural, do centro de Portugal, católica. Não tínhamos qualquer contato com judeus nem nenhuma proximidade com a comunidade judaica.
Fale um pouco de sua vida até o momento em que decidiu ser judeu.
- Fui educado como católico e até certa altura era bem comprometido com o Catolicismo. Até era membro de um grupo de jovens católicos. Por volta dos 15 ou 16 anos, comecei a ter um interesse especial pela história judaica, depois a cultura judaica em geral e a religião. O meu interesse pela cultura judaica me fez sentir uma grande afeição pelo Povo Judeu. Isso coincidiu com uma crise na minha fé cristã. Eu tinha muitas perguntas acerca do Cristianismo, mas as respostas não faziam sentido para mim. Isto durou algum tempo, até que chegou um momento em que me perguntei se faria sentido eu me converter ao Judaísmo. Apesar disso, continuei no grupo de jovens, porque eram meus amigos, e até hoje eles são os meus melhores amigos em Portugal.

Houve algum fato particular que o levou a tomar essa decisão?

- Não creio ter existido um fato. É um processo longo, um conjunto muito grande de fatores. Como eu disse, havia o interesse pela cultura judaica, a simpatia pelo Povo Judeu e ao mesmo tempo a minha crise na fé cristã. Tive sorte de ter crescido e ser educado em um ambiente sem hostilidade aos judeus. Sempre fui uma pessoa com interesse na espiritualidade. Não era propriamente “beato”, mas apreciava a vida religiosa. De todas as perguntas e dúvidas difíceis que eu tive, nunca duvidei da existência de Deus, que Ele é bom e Criador. Acho que essa ideia forte foi a base para me manter uma pessoa espiritual e para continuar a busca das respostas para as minhas perguntas.

Como é ser judeu em Portugal?

- Como judeu mesmo, vivi pouco tempo em Portugal, já que eu fiz a conversão em Israel. Quando tomei a decisão de iniciar o processo, ainda antes de começar a estudar com um rabino na sinagoga, comecei a mudar algumas coisas no meu modo de vida. Quando entrei para a faculdade, em Lisboa, por exemplo, deixei de comer carne, pois não havia carne casher. Nos meus primeiros contatos com a comunidade vi que era em geral pouco religiosa, muito fechada e hostil aos de fora. Não existe escola judaica, as crianças estudam em escolas normais. O nível de Judaísmo é muito básico, mesmo em Lisboa. Só há três ou quatro famílias religiosas. Não existe Chabad – é verdade! – ou Bnei Akiva, por exemplo.

Onde você encontrou mais resistência à sua intenção de se converter ao Judaísmo?
Sem dúvida, na comunidade judaica. Passei alguns episódios nada agradáveis e até humilhantes nos meus primeiros contatos com a comunidade de Lisboa. Eram muito hostis aos de fora, ainda que a maioria não fosse religiosa. Isso só mudou quando chegou a Lisboa um rabino mais receptivo à ideia de conversões. Do lado contrário, recebi todo o apoio da minha família e dos amigos, até no grupo de jovens. Eles se interessavam em saber como estava correndo o meu processo e aceitaram que havia algumas coisas que eu já não podia fazer com eles, como cantar na igreja. A minha mãe foi muito paciente comigo, com as minhas mudanças, quando eu começava a cumprir alguma lei judaica, mesmo que ela não entendesse. Ela sempre me disse: “se achas que esse é o caminho que te faz feliz, continua!”.

O que vem a ser a “Síndrome do Mundo Negativo”, tema de sua tese de graduação em Comunicação Social?

- É engraçado que isso tem a ver com a minha afeição pelos Judeus e Israel. Eu assistia às notícias e via que o Oriente Médio é sempre mostrado como um lugar de guerras. Já tinha passado 2 meses maravilhosos num kibbutz em Israel e a realidade do país era diferente da que eu via na TV. A “Síndrome do Mundo Negativo” existe quando uma pessoa pensa que a realidade de um certo país ou região é apenas negativa, porque só vê coisas ruins sobre esse país nas notícias. Por exemplo: o que pensamos quando pensamos em África? Fome, guerra, desgraça. Não imaginamos que coisas boas podem acontecer lá, porque isso nunca é mostrado nas notícias. Isso NUNCA É notícia! Isso é uma distorção da realidade. Acontece o mesmo no caso do Oriente Médio.

O que levou você a residir em Israel? Fale sobre o que faz, seus estudos e planos.

- Eu vim para Israel em 2005, depois de ter passado um ano de estudos na sinagoga de Lisboa. Não havia forma de terminar o processo em Portugal, por isso vim para um curso de conversão dirigido pela organização Shavei Israel, em Jerusalém. Fiquei seis meses no curso. Também entrei numa yeshivá, o Machon Meir, que tem um programa em língua portuguesa e espanhola. Em 2006 passei para a Yeshivat HaKotel, onde continuo até hoje. Casei há pouco mais de um ano, com uma brasileira de São Paulo. Vivo em Alon Shevut, um colonato religioso perto de Jerusalém, onde vivem muitos brasileiros. Na yeshivá, estudo no kollel. Tenciono estudar para rabino e no futuro, durante algum tempo, fazer shlichut nalgum lugar onde eu seja útil a Am Israel.

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