
A Luz Verde de Obama Para Atacar o Irã
Ventos árticos, vindos de Washington, estão soprando em Jerusalém
neste dias. Enquanto o momento da visita do primeiro ministro Binyamin
Netanyahu em 18 de maio a Washington se aproxima velozmente, o governo
Obama está intensificando sua retórica anti-israelense e trabalhando
febrilmente para encostar Israel na parede.
Servindo-se da conferencia anual da AIPAC (Comitê de Atividade
Política América-Israel) como cenário, nesta semana o governo Obama
lançou o seu mais forte ataque contra Israel desde que foi empossado.
Tudo começou com os relatos da mídia sobre o comentário feito por
James Jones, Assessor de Segurança Nacional, a um primeiro ministro
europeu, de que os EUA estão planejando formar uma coalizão
anti-israelense com os árabes e a Europa, para compelir Israel a ceder
a Judéia (Iehuda), Samaria (Shomron) e Jerusalém aos palestinos.
De acordo com o Haaretz, Jones teria dito em um telegrama secreto ao
seu interlocutor europeu: "O novo governo convencerá Israel a ceder na
questão palestina. Nós não colocaremos Israel sob as rodas de um
ônibus, mas seremos mais impositivos em relação a Israel do que fomos
sob o governo Bush".
Na seqüência ele explicou que os EUA, a União Européia e os estados
árabes moderados deverão determinar a forma que será assumida por "uma
solução definitiva satisfatória".
Se depender de Jones, Israel ficará de fora dessas discussões e será
simplesmente comunicada acerca do fato consumado que não terá outra
alternativa senão aceitar.
Os acontecimentos desta semana mostram que a declaração de Jones
representa uma descrição adequada da política do seu governo.
Primeiramente, o mediador do Quarteto, Tony Blair, anunciou que em
seis semanas os EUA, a União Européia, a ONU e a Rússia estabelecerão
um novo enquadre para criar um estado palestino.
Falando com repórteres palestinos na quarta-feira, Blair disse que
este novo enquadre será uma iniciativa séria porque "está sendo
formulado no nível mais alto do govêrno americano".
Além disso, nesta semana soubemos que o governo está tentando fazer
com que os árabes participem da redação do plano do Quarteto. O jornal
pan-árabe Al-Quds, de Londres, informou terça-feira que, a instâncias
de Obama, o rei da Jordânia Abdullah insistiu para que a Liga Árabe
atualizasse o assim chamado plano árabe de paz de 2002. Esse plano,
que propõe a retirada de Israel de Jerusalém, da Judéia, de Samaria e
do Golan, bem como a aceitação de milhões de árabes estrangeiros como
cidadãos, enquanto parte do denominado "direito de retorno", em troca
de relações "naturais" com o mundo árabe, foi rejeitado por sucessivos
governos israelenses que o descreveram como um subterfúgio diplomático
cuja finalidade é a destruição do país.
Aceitando milhões de assim chamados "refugiados palestinos", Israel
deixaria efetivamente de ser um estado judeu. Encolhendo suas
fronteiras para as linhas do armistício de 1949, Israel seria incapaz
de defender-se contra a invasão estrangeira. E desde que "relações
naturais" é um termo sem qualquer sentido, tanto no discurso legal
internacional como na terminologia diplomática, Israel teria cometido
suicídio nacional em troca de nada.
Para fazer esse plano menos aversivo para Israel, Abdullah
declaramente pediu a seus correligionários árabes para eliminar as
referências aos assim chamados "refugiados árabes" e concordar com
relações "normais" em vez de "naturais" com o estado judeu.
Mas os árabes negaram os dois pedidos. Na quarta-feira, tanto o
secretário geral da Liga Árabe, Amr Moussa, como o líder do Fatah,
Mahmoud Abbas, anunciaram que eles se opõem a essa iniciativa. Na
quinta feira a Síria rejeitou qualquer modificação no documento.
O governo americano não poderia ter sido mais indiferente ao fato. Os
palestinos e árabes não são senão uma parte insignificante de sua
política no Oriente Médio. No que se refere à administração Obama,
Israel é o único obstáculo à paz.
Para certificar-se de que Israel entende esse ponto central, o
vice-presidente Joseph Biden valeu-se de sua apresentação na
conferência do AIPAC para entregar a mensagem a domicílio. Como Biden
deixou claro, os EUA não respeitam ou reconhecem o direito de Israel,
como estado soberano, de determinar uma política própria para garantir
seus interesses nacionais. Nas palavras de Biden, "Israel tem que
trabalhar na direção da solução dos dois estados. Vocês não gostarão
do que vou dizer, mas não construam mais assentamentos, desmantelem os
postos avançados existentes e permitam liberdade de movimento para os
palestinos".
Para Israel, o principal evento da semana deveria ser o encontro do
presidente Shimon Peres com Obama, na terça-feira. Peres tinha a
função de acalmar as águas antes da visita de Netanyahu. Esperava-se
que ele pudesse introduzir um tom mais cooperativo nas relações
EUA-Israel.
O que Israel não esperava era a humilhante recepção que Peres recebeu
de Obama. Impedindo que qualquer veículo da mídia cobrisse o evento,
Obama transformou o que deveria ser uma visita amistosa com um
respeitável e amigável chefe de estado num encontro às escondidas com
um convidado indesejável que foi admitido e expelido da Casa Branca
sem alarde.
A tentativa nua e crua da Casa Branca sob Obama para forçar Israel a
assumir plena responsabilidade pela hostilidade do mundo árabe contra
si não é a única maneira de considerar Israel o bode expiatório dos
males da região. Para favorecer sua intenção de estabelecer relações
diplomáticas diretas com o Irã, Obama e seus assessores estão também
culpando Israel pelo programa nuclear do Irã. Estão fazendo isso tanto
direta como indiretamente.
Como o chefe de gabinete de Obama deixou claro em seu relatório
reservado aos diretores do AIPAC nesta semana, seu governo está
considerando Israel indiretamente responsável pelo programa nuclear do
Irã. O argumento é que, na medida em que Israel recusa-se a ceder sua
terra para os palestinos, está impossibilitando o mundo árabe de
apoiar o esforço para impedir o Irã de adquirir armas nucleares.
Entretanto, de forma algo inconveniente para o governo americano, os
árabes propriamente ditos estão rejeitando essa idéia. Nesta semana o
secretário de defesa norte-americano Robert Gates visitou o Golfo
Pérsico e o Egito para dissipar os temores árabes de que os esforços
desesperados dos EUA para apaziguar os mullahs prejudicarão sua
segurança. Ele tentou igualmente obter apoio para formular um novo
plano de paz destinado a isolar e pressionar Israel.
Depois de encontrar-se com Gates, Amr Moussa — que tem-se destacado
como um dos mais agudos críticos de Israel — declarou enfaticamente:
"A questão do Irã deve ser separada do conflito árabe-israelense".
Visto que o governo americano não dá a mínima importância às
evidências insofismáveis que expõem a insensatez de sua obcecada
adesão à idéia de que Israel é responsável pela ausência de paz no
Oriente Médio, a rejeição árabe acerca da idéia de que Israel é
responsável pelo programa nuclear iraniano resultou numa escalada de
seus ataques contra Israel. Nesta semana teve início uma nova campanha
para culpar Israel diretamente — a partir de seu suposto arsenal
nuclear — pelas ambições nucleares do Irã.
Falando no Fórum da ONU, a Secretária assistente de Estado dos EUA,
Rose Gottemoeller, disse: "A adesão universal ao Pacto de
Não-Proliferação Nuclear propriamente dito, inclusive por parte da
Índia, de Israel, do Paquistão e da Coréia do Norte... permanece um
objetivo fundamental dos Estados Unidos".
Como Eli Lake, do The Washington Times, demonstrou convincentemente,
ao fazer essas declarações Gottemoeller efetivamente revogou um
entendimento de 40 anos entre os EUA e Israel segundo o qual os EUA
não mencionariam o programa nuclear de Israel porque sabem que ele é
defensivo, e não beligerante, por natureza. Agindo dessa maneira,
Gottemoeller legitimou o pleito iraniano de que não se pode esperar
que o Irã suspenda seu esforço para adquirir armas nucleares enquanto
Israel possuí-las. Ela também apagou qualquer distinção entre armas
nucleares nas mãos de aliados dos EUA e de estados democráticos, e
armas nucleares nas mãos dos inimigos dos EUA e de estados
patrocinadores do terror.
A mídia israelense está tendendo a enquadrar a situação de um
crescente e já sem precedente antagonismo dos EUA em relação a Israel
como um desafio diplomático que Netanyahu deverá enfrentar. Para
enfrentar esse desafio argumenta-se que Netanyahu deverá comparecer a
Washington daqui a dez dias com um plano de paz atraente com o qual
tentará obter o apoio da Casa Branca. Trata-se de uma interpretação
falsa do que está acontecendo.
Mesmo Ethan Bronner do The New York Times assinalou esta semana que a
política de Obama para o Oriente Médio não se baseia em fatos. Se
fosse o caso, a assim chamada "solução de dois estados", que tem
falhado repetidamente desde 1993, não seria sua peça central. A
política de Obama para o Oriente Médio baseia-se em ideologia, não
realidade. Consequentemente, é imune a argumentos racionais.
O fato de que se o Irã adquirir armas nucleares, toda e qualquer
chance de paz entre Israel e os palestinos e Israel e o mundo árabe
desaparecerá por completo, não é levado em conta por Obama e seus
assessores. Eles não se importam com o fato de que um dia depois de
que o dirigente terrorista do Hamas, Khaled Mashaal, declarou ao The
New York Times que o Hamas está suspendendo seus ataques contra Israel
desde Gaza, o regime terrorista controlado pelo Irã se responsabilizou
por vários disparos de foguetes feitos desde Gaza contra alvos civis
israelenses. O governo americano ainda pretende doar a Gaza 900
milhões de dólares dos contribuintes norte-americanos, e ainda requer
que Israel dê sua terra a um governo conjunto Fatah-Hamas.
Independentemente da força dos seus argumentos e irrespectivamente da
plausibilidade de qualquer iniciativa diplomática que apresentar a
Obama, Netanyahu não deve esperar qualquer simpatia ou apoio da Casa
Branca.
Em decorrência, a significação operacional das posições do governo
americano contra Israel é a de que Israel não obterá qualquer
benefício por adotar uma posição mais apaziguadora em relação aos
palestinos e ao Irã. Na verdade, e perversamente, o que o tratamento
que o governo Obama tem dado a Israel deveria ter deixado claro para
Netanyahu que Israel não mais deve levar em conta as idéias de
Washington, se é que pretende defender os interesses relacionados à
segurança nacional. E isto é particularmente verdadeiro com relação ao
programa de armas nucleares do Irã.
Falando racionalmente, a única maneira pela qual a administração Obama
pode esperar razoavelmente impedir que Israel ataque as instalações
nucleares iranianas seria tornar as conseqüências desse ataque mais
graves do que se ele não acontecesse. Mas o que o comportamento do
governo Obama está demonstrando é que não há diferença significativa
em relação às conseqüências das duas opões.
Ao culpar Israel pela ausência de paz no Oriente Médio enquanto ignora
a recusa dos palestinos de aceitar a existência de Israel; ao buscar
construir uma coalizão internacional com a Europa e os árabes contra
Israel enquanto pretende ignorar o fato de que pelo menos os árabes
compartilham das preocupações israelenses em relação ao Irã; ao expor
o arsenal nuclear de Israel e pressionar Israel a desarmar-se enquanto
corteja os aiatolás como um noivo apaixonado, o governo Obama está
dizendo a Israel que, independentemente do que faça e de qual for a
realidade objetiva, no que diz respeito à Casa Branca, Israel sempre
será considerada culpada.
Isso, obviamente, não significa que Netanyahu não deva defender seu
ponto de vista perante Obama, quando eles se encontrarem, ou que não
deva apresentá-lo ao povo americano durante a sua visita. O que sim
significa é que Netanyahu não deve alimentar qualquer expectativa de
que a boa vontade israelense possa dissuadir Obama de prosseguir na
direção que escolheu. E, novamente, essa situação nos leva a duas
conclusões: as relações de Israel com os EUA durante o exercício Obama
serão desagradáveis e difíceis bem como os prejuízos causados a esse
relacionamento pela decisão de impedir o Irã de adquirir os meios para
destruir Israel são negligenciáveis.
Escrito por: Caroline Glick. Publicado: Jerusalem Post (07/05).
Tradução: Franklin Goldgrub
Publicado no site em: 18/05/2009
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Magal
A única coisa maior do que aquilo que nos divide, é o sonho que compartilhamos.