O presidente de Israel, Shimon Peres, recebeu nesta quarta-feira os resultados oficiais das eleições parlamentares do último dia 10 e deu início às consultas para definir quem terá o direito de tentar formar uma coalizão para governar o país. Por lei, o presidente deve escolher o líder do partido com a melhor chance de conseguir o apoio da maioria dos deputados para ser premiê.
O centrista e governista Kadima, partido de Peres e da ministra de Relações Exteriores e candidata a premiê, Tzipi Livni conquistou uma vitória apertada, com apenas 28 das 120 cadeiras, apenas uma vaga a mais que o direitista Likud, do ex-premiê Binyamin Netanyahu. Livni apega-se à dianteira nas urnas, enquanto Netanyahu conta com a maioria conservadora no novo Parlamento para montar a coalizão e ser escolhido.
Em um cenário dividido, até a ordem dos encontros foi alvo de interpretações políticas. "O fato de o presidente ter se reunido primeiro com o Kadima fala por si mesmo", disse o ministro dos transportes Shaul Mofaz, membro da delegação partidária que defendeu a candidatura de Livni, em um encontro no início da noite com Peres. "À luz dos desafios que Israel encara atualmente, o Estado precisa de um governo de unidade liderado pelo Kadima, porque tal governo unirá todos os setores do povo e representará os desejos de todos". As declarações foram divulgadas pela versão online do jornal israelense "Yediot Aharonot".
Para os representantes do Likud, a pretensão de Livni esbarra na falta de apoio no novo Knesset. "Não existe possibilidade matemática, mesmo no papel, para Livni formar um governo", disse o deputado Gideon Sa"ar durante o encontro com Peres, de acordo com o jornal "Haaretz". "Há apenas uma pessoa que tem a chance de formar um governo, e ela é Binyamin Netanyahu."
A "matemática" da negociação pode ficar mais clara nesta quinta-feira, quando Peres reúne-se com, Avigdor Lieberman, do partido de extrema direita Yisrael Beitenu, terceiro colocado nas eleições, com 15 cadeiras. Apesar de estar mais próximo ideologicamente do Likud, Lieberman tem feito mistério sobre sua decisão, usando a inédita força de seu partido para ganhar força na nova administração. Seu partido já apoiou governos tanto do Likud quanto do Kadima, no passado.
Analistas políticos apontam que uma indefinição prolongada sobre o novo premiê --os partidos podem optar por não apoiar nenhum dos candidatos-- pode levar à criação de um governo de união nacional, com os dois principais partidos no gabinete, o que poderia acontecer por meio de um acordo de rotação entre Livni e Netanyahu na chefia de governo.
"A palavra "rotação", até onde eu me lembro, não foi mencionada na sala [de reuniões], mas perto do fim da sessão eu disse ao presidente que se nenhuma decisão for tomada até o fim da semana, ele deveria [...] colocar os dois lados dentro de sua sala até que suba a fumaça branca", disse o ministro das finanças Ronny Bar-On, que se reuniu com Peres para defender a escolha de Livni.
Peres continuará as consultas com os demais partidos que estarão representadas no Parlamento até sexta-feira (20), antes de tomar uma decisão final. O líder partidário escolhido por Peres terá até seis semanas para tentar formar o governo.