
O presidente Moshe Katsav demitiu-se depois de acusações de violação e assédio sexual. O primeiro-ministro, Ehud Olmert, é suspeito num escândalo de corrupção e também pediu demissão. Em meio à crise política que vive o país, surge uma liderança ainda desconhecida até mesmo para os israelenses: a “senhora mãos limpas”, Tzipora Malka Livni, para vir a ocupar o número 3 da Rua Kaplan em Jerusalém — sede do governo. A ascensão meteórica colocou Tzipi Livni sob os holofotes da mídia mundial, e já é chamada nos bastidores como a “dama de ferro” da política iraelense.
Tzipi já é considerada a mulher mais poderosa de Israel. Segundo a revista “Time”, “uma das 100 mulheres mais influentes do mundo”.
Pesquisas apontam a nova líder do Kadima como a única capaz de derrotar Benjamin Netanyahu, do Likud, o favorito para as proximas eleições. E é justamente esta popularidade que está incomodando os rivais: Shaul Mofaz (general e ministro dos Transportes), Avi Ditcher (ex-chefe do Shin Bet e ministro da Segurança Interna), membros do seu partido, o Kadima; Ehud Barak (outro general), líder dos trabalhistas. Todos insinuam que ela “não é suficientemente homem” para suceder a Olmert.
A direita, sua antiga família política, acusa Livni de ter “traído” a memória dos pais, combatentes da resistência judaica, ao aceitar uma solução de dois Estados para o conflito com os palestinos.
Como explicar a campanha que está em marcha para desacreditar a filha de Eitan Livni e Sara Rosenberg? Afinal, ela tem todas as credenciais para seguir os passos de Golda Meir, que foi primeira-ministra aos 70 anos, de 1969 a 1974, desafiando o machismo da sociedade bem evidente na célebre frase do “pai da nação”, David Ben-Gurion: “Ela é o único homem do meu governo”.
Cercada de inimigos, a atual ministra das Relações Exteriores não tem como fugir da comparação com Golda, que ela mesma diz não fazer o menor sentido. Tentam denegrir a sua imagem, lembrando o maior fracasso político de Golda Meir, que é tida como responsável pelo ataque-surpresa deflagrado pelos vizinhos árabes na guerra de Yom Kipur, em 1973. Mas na verdade, em comum, Golda e Tzipi têm o fato de serem mulheres e muito corajosas, capazes de desafiar uma sociedade militar e machista. Além disso, ambas foram ministras do Exterior. Mas ideologicamente estão bem distantes uma da outra. Golda assumiu num momento de crescimento e prosperidade para Israel, hoje o país vive um momento de crise constante, que tornam os desafios de Livni muito maiores.
Tzipi Livni tem um invejável “pedigree” nacionalista. O pai, Eitan, foi comandante-chefe do Irgun, o grupo liderado por Menachem Begin que, nos anos 1940 pré-Israel, cometeu ataques terroristas contra alvos britânicos e árabes dentro e fora da Palestina histórica. Um dos piores atentados, quase 100 mortos, foi o que destruiu o Hotel King David, em Jerusalém, em 1946. Neste ano, o polaco Eitan foi capturado após a sabotagem de uma linha férrea e condenado a 15 anos de prisão. Dois anos depois conseguiu fugir da cadeia e passou a organizar ações clandestinas na Europa.
Regressou em 1948 para participar na primeira guerra árabe-israelense e para se unir a Sara Rosenberg, ela tambem combatente do Irgun, famosa por assaltar e fazer explodir comboios. Deles foi o primeiro casamento no recém-criado Estado judaico. Fundador do movimento Herut que deu origem ao partido Likud, Eitan foi também deputado em duas legislaturas na Knesset.
Antes de morrer, em 1991, ordenou que fossem gravados no túmulo um mapa do ´Grande Israel´, seguindo o lema sionista “o rio Jordão tem duas margens e as duas são nossas”, e a inscrição: “Aqui jaz o chefe de operações do Irgun Zvi Leumi” (Organização Militar Nacional). Talvez por ser filha de dois “guerrilheiros”, Livni foi, até agora, o único membro do governo de Israel a distinguir entre ataques palestinos a civis e a militares. “Quem luta contra o exército é um inimigo, e nós revidaremos, mas isto não encaixa na definição de terrorismo”, disse a uma cadeia de televisão americana.
Tzipi Livni, “senhora mãos limpas”, é considerada a mulher mais poderosa de Israel .
Mais tarde, quando explicou ao jornal “New York Times” por que já não lutava pela bíblica Israel dos seus pais — ela que, na década de 1970, se manifestava nas ruas contra a shuttle diplomacy de Henry Kissinger, que queria fazer concessões territoriais ao Egito e à Síria e que se opôs veementemente aos Acordos de Oslo de 1993 —, a direita bradou: “Eitan Livni dá voltas no túmulo”.
Para Tzipi, cujo gabinete só tem um quadro na parede — a fotografia do pai —, a sua transformação assenta num “simples cálculo”. Não é possível conciliar três objetivos ideológicos — Grande Israel, um Estado judaico e uma democracia. O crescimento demográfico nos territórios ocupados obriga a abdicar do “Grande Israel” para que Israel se mantenha uma democracia e um Estado judaico. Em defesa da filha, a ultra-sionista Sara fez uma declaração poucos meses antes da sua morte, em outubro de 2007: “Magoa-me dizer isto, mas nós não lutamos pelo Estado de Israel para a nossa geração e sim para as gerações vindouras. Eu confio na decisão de Tzipi. Ela tem sempre razão”.
Quem também confiava em Livni era Ariel Sharon, o seu mentor. Foi ele que a introduziu na política, colocando-a num lugar elegível para deputada em 1999. Em seis anos, nomeou-a para sete cargos diferentes no governo.
O ex-primeiro-ministro apreciava a sua “capacidade analítica”. Ela fez parte do “gabinete restrito” que preparou a retirada unilateral da Faixa de Gaza e, quando ele saiu do Likud para formar o Kadima, ela foi a primeira a segui-lo, assumindo a responsabilidade de redigir o programa político do novo partido.
Em janeiro de 2006, quando Sharon, herói e vilão de várias guerras, sofreu uma embolia cerebral e mergulhou no estado de coma em que ainda se encontra, Livni foi apontada como a herdeira natural. Mas ela preferiu afastar-se e deixar o cargo para Ehud Olmert.
Tzipi entrou nos serviços secretos aos 22 anos, quando saiu do Exército. Com a patente de tenente, distinguiu-se duas vezes como “a mais brilhante oficial”. A coragem com que enfrentava duros treinos impressionava os companheiros.
Foi Mirla Gal, amiga de infância, que a recrutou. “Era muito boa no que fazia e só deixou a agência [em 1984] por livre iniciativa”, revelou ao “New York Times”. “Poderia ter feito uma carreira de 20 anos. A sua inteligência, frieza, rapidez de análise e retidão eram qualidades muito valiosas para o Mossad.”
Mas a ex-agente secreta optou por ter uma vida “normal”. Quando regressou a Israel depois de trabalhos na península do Sinai, deixou a agência e concluiu o curso de Direito Comercial, que a levou a trabalhar no setor privado, durante uma década, e a coordenar a privatização das empresas do Estado.
Casou-se com Naftali Shpitzer, proprietário de uma agência de publicidade. Tem dois filhos. Gosta de roupas simples e tênis. Não se sente confortável em tailleurs e saltos altos. Adora fazer compras em mercados de rua. Já teve o cabelo escuro e com caracóis antes de o pintar de louro. Gosta de correr pela manhã na praia, toca bateria e detesta que se intrometam em sua vida pessoal. A futura primeira-ministra de Israel é favorável a um acordo com os palestinos, mas não com os sírios. Com relação ao Irã já deixou claro que será implacável: ´Iremos destrui-los antes de nos destruírem”.
No que depender do apoio da população feminina de Israel Tzipi ficará muito tempo no poder. Organizações feministas já declararam que estão com ela “não pelo que ela representa mas pelo que ela é”. Em Israel as feministas se sentiram no dever de “socorrer” Livni, mesmo não comungando a sua filosofia política. Nos Estados Unidos há muito que a protegida de Sharon tem uma grande aliada: Condoleezza Rice. “Tzipi é mais do que colega, tornou-se minha amiga”, escreveu “Condi” no elogio encomendado pela “Time” para a edição das 100 mulheres mais influentes do mundo. “Sentamo-nos durante horas a debater idéias, livre, aberta e por vezes combativamente. Respeito-a profundamente. Gosto de tê-la por perto” [falam ao telefone duas vezes por semana].
É uma amizade que já foi posta à prova. Glenn Kessler, biógrafo de Rice, escreve em “The Confidante”, que Tzipi tentou convencer “Condi” a não encorajar eleições palestinas, em janeiro de 2006, porque o Hamas iria ganhar. “Condi” não lhe deu ouvidos e arrependeu-se. No verão do mesmo ano, foi “Condi” a pedir a Tzipi que Israel não bombardeasse o Líbano. Livni nada podia fazer. Ela quis parar a guerra logo nos primeiros dias, sugerindo uma solução diplomática, mas Olmert recusou. Foi até ao fim, e perdeu.
Tzipi Livni, se assumir o cargo de primeira-ministra, tem um longo e complicado caminho pela frente. Se conseguir atravessá-lo, no próximo ano, talvez não seja eleita apenas uma das cem mulhres mais influentes do mundo. Mas a mulher mais poderosa do Planeta. Segundo a revista “Time”, Tzipi Livni é uma das 100 mulheres mais influentes do mundo
Tzipi já é considerada a mulher mais poderosa de Israel. Segundo a revista “Time”, “uma das 100 mulheres mais influentes do mundo”.

Pesquisas apontam a nova líder do Kadima como a única capaz de derrotar Benjamin Netanyahu, do Likud, o favorito para as proximas eleições. E é justamente esta popularidade que está incomodando os rivais: Shaul Mofaz (general e ministro dos Transportes), Avi Ditcher (ex-chefe do Shin Bet e ministro da Segurança Interna), membros do seu partido, o Kadima; Ehud Barak (outro general), líder dos trabalhistas. Todos insinuam que ela “não é suficientemente homem” para suceder a Olmert.
A direita, sua antiga família política, acusa Livni de ter “traído” a memória dos pais, combatentes da resistência judaica, ao aceitar uma solução de dois Estados para o conflito com os palestinos.
Como explicar a campanha que está em marcha para desacreditar a filha de Eitan Livni e Sara Rosenberg? Afinal, ela tem todas as credenciais para seguir os passos de Golda Meir, que foi primeira-ministra aos 70 anos, de 1969 a 1974, desafiando o machismo da sociedade bem evidente na célebre frase do “pai da nação”, David Ben-Gurion: “Ela é o único homem do meu governo”.

Cercada de inimigos, a atual ministra das Relações Exteriores não tem como fugir da comparação com Golda, que ela mesma diz não fazer o menor sentido. Tentam denegrir a sua imagem, lembrando o maior fracasso político de Golda Meir, que é tida como responsável pelo ataque-surpresa deflagrado pelos vizinhos árabes na guerra de Yom Kipur, em 1973. Mas na verdade, em comum, Golda e Tzipi têm o fato de serem mulheres e muito corajosas, capazes de desafiar uma sociedade militar e machista. Além disso, ambas foram ministras do Exterior. Mas ideologicamente estão bem distantes uma da outra. Golda assumiu num momento de crescimento e prosperidade para Israel, hoje o país vive um momento de crise constante, que tornam os desafios de Livni muito maiores.
Tzipi Livni tem um invejável “pedigree” nacionalista. O pai, Eitan, foi comandante-chefe do Irgun, o grupo liderado por Menachem Begin que, nos anos 1940 pré-Israel, cometeu ataques terroristas contra alvos britânicos e árabes dentro e fora da Palestina histórica. Um dos piores atentados, quase 100 mortos, foi o que destruiu o Hotel King David, em Jerusalém, em 1946. Neste ano, o polaco Eitan foi capturado após a sabotagem de uma linha férrea e condenado a 15 anos de prisão. Dois anos depois conseguiu fugir da cadeia e passou a organizar ações clandestinas na Europa.

Antes de morrer, em 1991, ordenou que fossem gravados no túmulo um mapa do ´Grande Israel´, seguindo o lema sionista “o rio Jordão tem duas margens e as duas são nossas”, e a inscrição: “Aqui jaz o chefe de operações do Irgun Zvi Leumi” (Organização Militar Nacional). Talvez por ser filha de dois “guerrilheiros”, Livni foi, até agora, o único membro do governo de Israel a distinguir entre ataques palestinos a civis e a militares. “Quem luta contra o exército é um inimigo, e nós revidaremos, mas isto não encaixa na definição de terrorismo”, disse a uma cadeia de televisão americana.
Tzipi Livni, “senhora mãos limpas”, é considerada a mulher mais poderosa de Israel .
Mais tarde, quando explicou ao jornal “New York Times” por que já não lutava pela bíblica Israel dos seus pais — ela que, na década de 1970, se manifestava nas ruas contra a shuttle diplomacy de Henry Kissinger, que queria fazer concessões territoriais ao Egito e à Síria e que se opôs veementemente aos Acordos de Oslo de 1993 —, a direita bradou: “Eitan Livni dá voltas no túmulo”.
Para Tzipi, cujo gabinete só tem um quadro na parede — a fotografia do pai —, a sua transformação assenta num “simples cálculo”. Não é possível conciliar três objetivos ideológicos — Grande Israel, um Estado judaico e uma democracia. O crescimento demográfico nos territórios ocupados obriga a abdicar do “Grande Israel” para que Israel se mantenha uma democracia e um Estado judaico. Em defesa da filha, a ultra-sionista Sara fez uma declaração poucos meses antes da sua morte, em outubro de 2007: “Magoa-me dizer isto, mas nós não lutamos pelo Estado de Israel para a nossa geração e sim para as gerações vindouras. Eu confio na decisão de Tzipi. Ela tem sempre razão”.
Quem também confiava em Livni era Ariel Sharon, o seu mentor. Foi ele que a introduziu na política, colocando-a num lugar elegível para deputada em 1999. Em seis anos, nomeou-a para sete cargos diferentes no governo.
O ex-primeiro-ministro apreciava a sua “capacidade analítica”. Ela fez parte do “gabinete restrito” que preparou a retirada unilateral da Faixa de Gaza e, quando ele saiu do Likud para formar o Kadima, ela foi a primeira a segui-lo, assumindo a responsabilidade de redigir o programa político do novo partido.
Em janeiro de 2006, quando Sharon, herói e vilão de várias guerras, sofreu uma embolia cerebral e mergulhou no estado de coma em que ainda se encontra, Livni foi apontada como a herdeira natural. Mas ela preferiu afastar-se e deixar o cargo para Ehud Olmert.
Tzipi entrou nos serviços secretos aos 22 anos, quando saiu do Exército. Com a patente de tenente, distinguiu-se duas vezes como “a mais brilhante oficial”. A coragem com que enfrentava duros treinos impressionava os companheiros.
Foi Mirla Gal, amiga de infância, que a recrutou. “Era muito boa no que fazia e só deixou a agência [em 1984] por livre iniciativa”, revelou ao “New York Times”. “Poderia ter feito uma carreira de 20 anos. A sua inteligência, frieza, rapidez de análise e retidão eram qualidades muito valiosas para o Mossad.”
Mas a ex-agente secreta optou por ter uma vida “normal”. Quando regressou a Israel depois de trabalhos na península do Sinai, deixou a agência e concluiu o curso de Direito Comercial, que a levou a trabalhar no setor privado, durante uma década, e a coordenar a privatização das empresas do Estado.
Casou-se com Naftali Shpitzer, proprietário de uma agência de publicidade. Tem dois filhos. Gosta de roupas simples e tênis. Não se sente confortável em tailleurs e saltos altos. Adora fazer compras em mercados de rua. Já teve o cabelo escuro e com caracóis antes de o pintar de louro. Gosta de correr pela manhã na praia, toca bateria e detesta que se intrometam em sua vida pessoal. A futura primeira-ministra de Israel é favorável a um acordo com os palestinos, mas não com os sírios. Com relação ao Irã já deixou claro que será implacável: ´Iremos destrui-los antes de nos destruírem”.
No que depender do apoio da população feminina de Israel Tzipi ficará muito tempo no poder. Organizações feministas já declararam que estão com ela “não pelo que ela representa mas pelo que ela é”. Em Israel as feministas se sentiram no dever de “socorrer” Livni, mesmo não comungando a sua filosofia política. Nos Estados Unidos há muito que a protegida de Sharon tem uma grande aliada: Condoleezza Rice. “Tzipi é mais do que colega, tornou-se minha amiga”, escreveu “Condi” no elogio encomendado pela “Time” para a edição das 100 mulheres mais influentes do mundo. “Sentamo-nos durante horas a debater idéias, livre, aberta e por vezes combativamente. Respeito-a profundamente. Gosto de tê-la por perto” [falam ao telefone duas vezes por semana].
É uma amizade que já foi posta à prova. Glenn Kessler, biógrafo de Rice, escreve em “The Confidante”, que Tzipi tentou convencer “Condi” a não encorajar eleições palestinas, em janeiro de 2006, porque o Hamas iria ganhar. “Condi” não lhe deu ouvidos e arrependeu-se. No verão do mesmo ano, foi “Condi” a pedir a Tzipi que Israel não bombardeasse o Líbano. Livni nada podia fazer. Ela quis parar a guerra logo nos primeiros dias, sugerindo uma solução diplomática, mas Olmert recusou. Foi até ao fim, e perdeu.
Tzipi Livni, se assumir o cargo de primeira-ministra, tem um longo e complicado caminho pela frente. Se conseguir atravessá-lo, no próximo ano, talvez não seja eleita apenas uma das cem mulhres mais influentes do mundo. Mas a mulher mais poderosa do Planeta. Segundo a revista “Time”, Tzipi Livni é uma das 100 mulheres mais influentes do mundo