O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, tem, adequadamente, procurado manter um perfil discreto no que se refere às relações exteriores, neste período de transição à frente de sua posse em janeiro. No entanto, enquanto Obama estipulou que os EUA só podem ter um presidente de cada vez, seus assessores e conselheiros estão sinalizando que ele tem a intenção de mudar a política externa americana, seguindo uma direção completamente diferente de sua atual trajetória, assim que ele assumir o poder.
E eles estão sinalizando que esta nova direção será aplicada mais imediata e diretamente à política americana para o Oriente Médio.
Anteriormente, na fase primária do Partido Democrático, a campanha de Obama liberou uma lista dos conselheiros para política externa do agora presidente eleito ao jornal The Washington Post. A lista provocou uma grande preocupação em círculos políticos, particularmente entre aqueles que apóiam a aliança EUA-Israel. Ela incluía críticos declarados de Israel, tais como Zbigniew Brzezinski, que serviu como conselheiro nacional de segurança junto ao presidente Jimmy Carter, e Robert Malley, que serviu como auxiliar junior para o Oriente Médio junto ao presidente Bill Clinton. Ambos são profundamente hostis a Israel e ambos têm repetidamente conclamado os EUA a acabar com sua aliança estratégica com Israel.
Nos meses que se seguiram à publicação da lista, a campanha de Obama procurou se distanciar de ambos os homens, uma vez que os conselheiros do presidente eleito trabalhavam para manter Obama como um candidato de centro.
Brzezinski foi posto de lado em fevereiro quando ele encabeçava uma delegação que foi à Síria se encontrar com o Presidente Bashar Assad. O propósito desta missão "para a determinação dos fatos" era castigar a administração Bush por sua recusa em adotar a Síria como aliada, e censurar publicamente o isolamento internacional de Damasco causado pela insurgência no Iraque, sua aliança estratégica com o Irã, seu apoio ao Hizbullah, bem como ao Hamas e à Al-Qaida, seu programa nuclear ilícito e sua subversão do governo libanês pró-Ocidente.
Para a consternação de Brzezinski, sua missão foi atropelada pelos acontecimentos. A profundidade do apoio da Síria ao terrorismo foi exposta claramente durante sua visita, quando o arquiterrorista iraniano-libanês Imad Mughniyeh foi morto em Damasco, no dia seguinte ao que ele visitou Assad.
Embora fosse um membro junior da equipe do Conselho de Segurança Nacional de Clinton, desde 2000, Malley usou suas credenciais da administração Clinton para preparar seu surgimento como um dos apologistas mais declarados do terrorismo palestino contra Israel. Imediatamente após o encontro de paz fracassado de Camp David, em 2000, Malley inventou a "narrativa" palestina dos procedimentos no encontro. Enquanto Clinton, o então primeiro ministro de Israel, Ehud Barak, e o Embaixador Dennis Ross, que servia como negociador chefe de Clinton, concordaram que Yasser Arafat torpedeou as perspectivas de paz, quando ele recusou a oferta de Barak de um estado palestino, Malley alegou, falsamente, que a culpa do fracasso das negociações foi de Israel.
Nos anos seguintes, ele aumentou sua condenação a Israel. Ele insiste que não apenas a agressão palestina, como também os ataques da Síria, do Líbano e do Irã contra Israel são culpa de Israel. A campanha de Obama se distanciou de Malley em maio, depois que o Times de Londres noticiou que ele estava se encontrando regularmente com líderes terroristas do Hamas.
Na medida em que a eleição ficou mais próxima, a campanha de Obama envidou todos os seus esforços para apresentar seu candidato como um moderado em política externa. Conselheiros moderados de política externa, como Ross, foram exibidos perante os repórteres. Tanto Obama quanto seus delegados insistiam que ele apóia uma forte aliança dos EUA com Israel. Obama abandonou sua promessa anterior de retirar todas as forças americanas do Iraque até 2010. Ele tentou moderar e mais tarde negar sua promessa pública de manter negociações diretas com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, sem pré-condições.
Devido em grande parte à credulidade da mídia, a nova imagem de Obama como centrista, foi largamente aceita pelo público. E é provável que ele deva uma parte significativa do apoio na comunidade judaica americana ao sucesso da campanha em distanciar Obama de homens como Brzezinski e Malley.
Mas, agora que a campanha terminou, parece que, como seus críticos advertiram, os movimentos de Obama para uma posição de centro em questões relacionadas com o Oriente Médio eram pouco mais do que táticas de campanha para obscurecer suas políticas preferidas reais.
Dois dias após sua eleição, o colunista do Washington Post, David Ignatius, deu uma idéia da direção na qual Obama provavelmente conduzirá a política externa dos EUA. E, aparentemente direcionado pela equipe de campanha de Obama, Ignatius baseou muito de sua coluna na convicção de que as opiniões da política externa de Obama foram formadas pelo seu conselheiro "informal", Brzezinski.
Baseado no que Brzezinski e a campanha "oficial" de Obama lhe disseram, Ignatius escreveu que as duas maiores questões onde a política externa de Obama tem probabilidade de divergir da de Bush imediatamente são Israel e Irã. Obama, ele alega, vai querer pressionar duramente para forçar Israel a chegar a um acordo com os palestinos assim que ele for empossado. Quanto ao Irã, Obama planeja agir imediatamente para melhorar as relações americanas com os aiatolás que estão construindo armas nucleares.
Quanto a Malley, um de seus auxiliares disse à revista Frontpage Magazine, esta semana, que agindo de acordo com instruções de Obama, Malley viajou ao Cairo e Damasco após a vitória eleitoral de Obama e disse ao presidente do Egito, Hosni Mubarak e a Assad que "a administração Obama levaria muito mais em conta os interesses do Egito e da Síria."
Em uma história relacionada a este mesmo assunto, Ahmad Youssef, um terrorista do Hamas, disse ao jornal sediado em Londres, Al-Hayat, que nos meses que levaram à sua eleição, os conselheiros de Obama mantiveram firmes contatos com os líderes do grupo terrorista em Gaza, e solicitaram que o Hamas mantivesse estes encontros em segredo para não prejudicar as chances de Obama ser eleito.
Tanto a equipe de transição de Obama quanto os líderes do Hamas foram rápidos em negar as declarações de Youssef. Assim, junto com a história anterior do Times de Londres sobre os contatos de Malley com o Hamas e as novas revelações sobre Malley servindo como enviado não oficial de Obama ao Oriente Médio, o relato da Al-Hayat soa verdadeiro.
Ainda um pior presságio do que estas reportagens são declarações dos conselheiros de política externa de Obama, sobre seus planos de abrir contatos diretos com o Irã. Na quarta feira o The Washington Post informou que Obama tem a intenção de agir rapidamente para obter uma acomodação com o Irã com relação ao Afeganistão. Os conselheiros de Obama afirmam que tal acordo é possível porque, até onde eles saibam, os iranianos xiitas se opõem aos jihadistas (N.T. jihad é a guerra santa islâmica) sunitas tanto quanto os EUA.
Porém, os fatos não corroboram este ponto de vista. Altos comandantes militares ingleses e americanos têm repetidamente afirmado que o Irã é o maior patrocinador do Talibã e da Al-Qaida em sua guerra contra o governo afegão e as forças da OTAN no país. Desde 2006, o Irã tem fornecido armas avançadas, dinheiro e apoio político aos insurgentes do Talibã e da Al-Qaida no país.
A rejeição da equipe de Obama da realidade demonstrada do apoio do Irã ao Talibã e a Al-Qaida, em favor de uma política baseada na fantasia, de que é possível costurar um acordo com os aiatolás, não será indubitavelmente seu último movimento na direção dos mulás. É provável que seja seguida rapidamente por uma oferta para conduzir conversas diretas de alto nível com líderes iranianos sobre seu programa de armas atômicas.
O que é mais perturbador sobre a política externa emergente de Obama não é simplesmente que ele ignora a realidade em campo – uma realidade que demonstra claramente que o Irã e seus representantes sírios, palestinos e libaneses são inimigos implacáveis de Israel e EUA e, portanto, não interessados em conciliação. Também não é apenas o fato de que ele manda um sinal da fraqueza americana ao Irã e seus comandados, justo quando o Irã alcança o limiar nuclear. E a política externa emergente de Obama não é meramente desconcertante porque ao conversar com o Irã e seus comandados Obama estará legitimando o regime genocida em Teerã.
O que é mais alarmante sobre a política externa emergente de Obama com relação ao Irã e seus comandados por um lado e sobre Israel por outro é que ela vai causar um dano real ao estado judeu.
Ao pressionar Israel a ceder terras à Síria e aos palestinos, a política externa autêntica de Obama dará ao Irã ainda mais territórios dos quais poderá atacar Israel, tanto através de seus comandados terroristas quanto por meio de seu arsenal de mísseis balísticos expandido. Ao aceitar o regime sírio apesar de seu apoio ao terrorismo, suas atividades de proliferação nuclear e sua subversão do Líbano, a administração nascente de Obama irá incentivar a Síria a aumentar sua subversão do Líbano e Iraque, ao mesmo tempo em que estreita ainda mais seus laços com o Irã.
Quanto a conversas diretas com o próprio Irã, surge imediatamente uma pergunta, o que Obama poderia oferecer a Teerã em troca de um fim ao seu programa nuclear que Bush ainda não tenha oferecido.
O que ele pode oferecer é Israel.
Nos últimos anos, o mais importante conselheiro de Obama para assuntos de não proliferação nuclear, Joe Cirincione, tem repetidamente defendido a colocação do arsenal nuclear de Israel na mesa de negociações e oferecê-lo em troca de uma promessa iraniana para acabar com seu programa nuclear. O Secretário de Defesa, Robert Gates – que Obama está considerando manter – insinuou em sua audiência de confirmação de 2006 que o Irã está construindo armas nucleares apenas para se defender de Israel. Gates, deve-se lembrar, tem colaborado muito para convencer Bush não apenas a não atacar as instalações nucleares do Irã como também a não dar apoio a um ataque de Israel contra as instalações nucleares do Irã.
O que é profundamente penoso com relação às declarações de homens como Cirincione e Gates é o que elas nos dizem sobre o raciocínio estratégico que está informando a administração nascente de Obama. Seus pontos de vista fazem eco àqueles expressos pelos que advogam que os EUA devem abandonar Israel, tais como os Professores Steve Walt e John Mearshimer. Walt e Mearshimer argumentam que o Irã não é uma ameaça aos interesses americanos ou à segurança global porque, caso os mulás adquiram armas nucleares, eles provavelmente vão vê-las meramente como uma intimidação aos inimigos do Irã. E como resultado, o Irã vai responder como a União Soviética o fez em relação a um modelo intimidador baseado em um poder garantido de destruição mútua.
Esta opinião é contraditória com a defesa aberta do Irã da destruição de Israel, e sua declarada disposição para absorver um ataque nuclear em resposta à destruição de Israel. Porém, assumindo que é assim que a equipe de Obama vê o Irã, eles deveriam ser os últimos a advogar o desarmamento de Israel. Porque se este é seu ponto de vista, então, por seu próprio raciocínio, o arsenal nuclear presumido de Israel é necessário para deter um ataque de Teerã. E, se como Cirincione defende, Obama tem a intenção de colocar o arsenal nuclear de Israel na mesa de negociação, ele estará efetivamente dando sinal verde ao Irã para atacar Israel com armas nucleares.
Todos os sinais da política externa pós-eleição/pré-posse da equipe de Obama colocam o próximo governo de Israel – que será eleito apenas em 10 de fevereiro – em uma posição extraordinariamente difícil.
Não apenas suas posições tornam claro que a administração Obama não fará nada para evitar que o Irã adquira armas nucleares. Os sinais pré-posse da equipe de Obama indicam fortemente que o próximo governo de Israel vai ter que atacar as instalações nucleares do Irã antes de duas datas limites que se aproximam rapidamente.
O ataque deve ocorrer antes que os mulás enriqueçam quantidades suficientes de urânio altamente enriquecido para produzir bombas nucleares. E Israel precisará neutralizar o programa nuclear do Irã antes que a administração Obama comece a implementar a nova política externa dos EUA.
Escrito por: Caroline Glick, Editora-Especial do Jerusalem Post
Publicado no site em: 24/11/2008
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