Sete países do Oriente Médio boicotam o Salon du Livre, a Feira de Livros de Paris
O protesto é contra a escolha de Israel como convidado de honra do evento
15/03/2008
Sete países decidiram boicotar o Salon du Livre, a Feira de Livros de Paris, aberta na última quinta-feira. Argélia, Irã, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Tunísia e Iêmen anunciaram o boicote em protesto contra a escolha de Israel como convidado de honra do evento. O boicote foi convocado pela Islamic Educational, Scientific and Cultural Organization (ISESCO), entidade sediada no Marrocos, em protesto contra as ações de Israel em relação aos palestinos. Em sua comunicação oficial aos 50 países membros, a ISESCO declarou que os "crimes cometidos por Israel nos Territórios Palestinos" o tornam inadequado como convidado de honra e apontaram o 60º aniversário da criação do Estado de Israel como a real motivação para a escolha. Os organizadores da feira negaram que a escolha de Israel tenha sido motivada pelo aniversário de criação do país e reafirmaram que o objetivo da feira é honrar a literatura. Christine de Mazieres, porta-voz da associação de editores que organiza a feira, declarou que os acontecimentos no Oriente Médio são tristes, mas não têm ligação com o evento. Mazieres completou dizendo que os países que decidiram boicotar o evento já sabiam que Israel seria o convidado de honra quando inscreveram-se e que muitos dos autores israelenses presentes à feira são favoráveis à existência de um Estado Palestino. Serge Eyrolles, chefe da organização da feira, disse não ser um ministro de estado e que, portanto, não convida países para o evento, e sim escritores, e que seu trabalho é trazer literatura para os leitores. 39 escritores e editores israelenses, entre eles Amos Oz, David Grossman, A.B. Yehoshua, Aharon Appelfeld e Sayed Kashua, um autor árabe israelense que escreve em hebreu, devem comparecer à feira em Paris. O boicote dos países muçulmanos atraiu a ação do jornalista e intelectual francês Bernard Henri-Lévy, que conclamou o público a comparecer em massa à feira como forma de protesto contra o boicote. À Reuters, Henri-Lévy disse esperar que o povo de Paris demonstre com sua presença que recusa a lógica de organizadores de boicotes e pessoas que queimam livros. Em sua opinião, o boicote é um caso de países tomando escritores como reféns. O jornal Le Monde concordou com o escritor, classificando o boicote de absurdo e chocante. Alguns escritores árabes também se uniram às críticas, garantindo que vão comparecer à feira apesar das instruções de seus governos para que fiquem longe do evento. O escritor marroquino Tahar Ben Jelloun escreveu em seu blog que as pessoas devem criticar a política de um país, mas devem criticar um livro por seu mérito literário e não misturar as duas coisas. Apesar das declarações de que a feira é sobre livros e não política, esta não é a primeira vez que o evento se transforma em teatro para outros assuntos. Em 2002 a Ministra da Cultura da França, Catherine Tasca, ameaçou boicotar a feira se Silvio Berlusconi comparecesse à abertura, o que levou a Itália a se retirar do Salon du Livre em protesto. Novos protestos também são esperados na feira de livros de Londres, quando o convidado de honra será o mundo árabe.
Magal
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