A HISTÓRIA DE YUD-TET KISLEV CHAG HAGUEULÁ E ROSH HASHANÁ DA CHASSIDUT
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Por Rabino Yossef Kolodny
FUNDO HISTÓRICO DO CHASSIDISMO
O fundador do movimento chassídico geral foi Rabi Yisrael Baal Shem Tov. Nascido na Polônia em 1698, ele começou a propagar, pela primeira vez, os conceitos de Chassidut aos judeus poloneses no ano de 1734, com 36 anos de idade. Naquele tempo, os judeus da Polônia, que representavam a maior parte do judaísmo europeu, estavam sendo parcialmente dizimados pelos efeitos conjuntos da Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648), os notórios massacres de Chmielnicki (que começaram em 1648) e um período de perseguição generalizada que durou até o final do século XVII.
Falsos Messias
Foram essas mesmas circunstâncias que deram origem a esperanças messiânicas, aos judeus oprimidos daquele país. Um falso messias, de nome Shabtai Tsvi surgiu e cativou a lealdade de muitos deles que ansiavam por um fim aos severos sofrimentos físicos que lhes eram impostos. Aprisionado pelo Sultão da Turquia, ele preferiu aceitar a conversão ao islamismo, ao invés de ser executado pelas vigorosas proclamações messiânicas. Cinquenta anos depois, outro falso messias, Jacob Frank, também influenciou com esperanças mentirosas aos judeus poloneses. Infelizmente, ele e muitos de sua seita também renunciaram à fé judaica, convertendo-se ao cristianismo.
Esses trágicos acontecimentos contribuíram para um maior declínio na moral da comunidade judaica polonesa sobrevivente. Muitos dos eruditos da Torá atribuíram a infâmia dos movimentos de Shabtai Tsvi e Jacob Frank ao descontrolado mergulho dos membros das seitas em assuntos da Cabalá. O estudo desse ramo esotérico da filosofia judaica, que outrora já fora bastante popular, tornou-se da noite para o dia quase que um tabu.
Apesar dessa proibição do estudo da Cabalá, a condição dos judeus poloneses continuou a se deteriorar, e a vasta pobreza material das comunidades judaicas resultou no término da educação judaica gratuita para um número maior de judeus, o que anteriormente havia sido a norma. Grande parte dos judeus rapidamente se tornou sub-instruída, resultando num grande abismo entre essas massas sub-educadas e a minoria dos eruditos da torá. Os efeitos dessa breve divisão se alastraram por todas as facetas da vida social e religiosa, criando uma situação que só serviu para aumentar ainda mais a miséria dos judeus poloneses.
Anseio por Orientação Espiritual
Assim, sob todos os pontos de vista, quer econômico, social ou cultural, a vida judaica na Polônia atingiu um ponto muito baixo na segunda metade do século XVII. Um manto de desânimo desceu sobre a população judaica e o povo ansiava por uma orientação e um alento espirituais.
O Baal Shem Tov foi enviado por D-us nessa época para oferecer assistência e atender às necessidades dos judeus poloneses. Com os ensinamentos da Chassidut que promulgou, ofereceu às massas de judeus oprimidos na Polônia, a orientação e o alento que tão desesperadamente necessitavam e desejavam.
Um princípio essencial do Baal Shem Tov baseava-se no dever de todo judeu de servir a D-us, responsabilidade essa que englobava cada aspecto da vida cotidiana. Não se restringia apenas àquelas horas de estudo do Talmud. O Baal Shem Tov enfatizava antes a importância da prece séria e devota, e o sincero cumprimento das Mitsvot.
Servindo a D-us com Alegria
O Baal Shem Tov ensinava que o produto final do culto Divino deveria resultar em uma ligação profunda com D-us, conseguida essencialmente através do coração, mais do que pela mente, já que a essência de D-us é incompreensível. Ele (diferentemente de muitos estudiosos da Torá, seus contemporâneos) louvava as virtudes do judeu comum, exaltando qualidades nas massas judaicas, tais como a fé, sinceridade, modéstia, amor e benevolência. E ainda mais importante, enfatizava repetidamente a necessidade de todos os judeus servirem a D-us com alegria.
Com efeito, esses ensinamentos serviram à sua função de elevar o ânimo dos judeus oprimidos. O movimento chassídico espalhou-se rapidamente, a saltos e arrancos. Em um século, abraçava metade dos judeus da Europa Oriental.
Embora não houvesse nada de sacrílego nos ensinamentos da Chassidut, as experiências com Shabtai Tsvi e Jacob Frank tinha deixado um gosto muito amargo entre muitos estudiosos da Torá, resultando daí que um movimento que tivesse qualquer ligação com os ensinamentos esotéricos da Cabalá caía automaticamente em suspeição de possuir conceitos heréticos. E mais, os ensinamentos do Baal Shem Tov, que pregavam o valor do judeu simples, eram vistos por alguns como uma possível ameaça à autoridade do Rabinato.
Alarmados com o crescimento do chassidismo, seus oponentes (os Mitnagdim) recorreram a medidas extremas, num esforço de deter o seu avanço continuado entre os judeus da Europa. Em 1772, o Maguid de Mezritch (sucessor do Baal Shem Tov e líder do movimento chassídico) faleceu em Yud Tet Kislêv. Sua morte infelizmente resultou num esforço incomum dos oponentes do chassidismo, em alcançarem suas metas, procurando deter o movimento iniciado há quase quarenta anos antes, pelo Baal shem Tov.
Mitnagdim Criticam Seguidores Chassídicos
Em sua fúria, os Mitnagdim [oponentes do chassidismo] condenavam todos os Chassidim como sendo heréticos. Declaravam o vinho e a carne dos Chassidim não-Casher, e o casamento com eles era proibido. Rabi Shneur Zalman de Liadi, o autor do Tanya e do Shulchan Aruch e fundador do chassidismo Chabad, assumira com grande relutância, durante esse período, a liderança do movimento chassídico. Também nessa época o centro da luta entre os Chassidim e os Mitnagdim passara para a Rússia, porque grandes partes da Polônia, incluindo a Lituânia, tinham sido cedidas à Rússia nos anos de 1772, 1793 e 1795.
As verdadeiras crises que ameaçaram o futuro do movimento chassídico surgiram quando Rabi Shneur Zalman foi denunciado ao Czar como sendo um perigoso rebelde, no ano de 1798. Isso ocorreu durante o ano seguinte ao falecimento do Gaon de Vilna, que até então tinha sido o principal oponente do chassidismo. Durante sua vida, a luta entre os dois grupos estava confinada nos limites da comunidade judaica.
Acusado de Ajudar os Turcos
Entretanto, após a morte do Gaon de Vilna, alguns Mitnagdim usaram da tática absurda de recorrer aos gentios - o governo czarista em S. Petersburgo - para acusar o Rabi Shneur Zalman de ser um traidor do governo russo. Ele coletara fundos para ajudar os judeus na Terra Santa que naquele período estava sob o governo turco. Entretanto, aqueles Mitnagdim disseram aos russos que o Rebe estava entregando o dinheiro ao governo turco, que naquela época estava em guerra com a Rússia. Imediatamente os oficiais do Czar prenderam o Rebe e começaram uma investigação sobre as acusações.
A prisão do líder chassídico veio depois do término da festa de Sucot 5559 (1798). Uma carruagem preta, usualmente reservada para rebeldes revolucionários, estacionou diante da casa do Rebe. Ele foi levado, sob pesada guarda, para a notória Fortaleza de Pedro e Paulo em S. Petersburgo, onde eram detidos os criminosos mais perigosos de toda a Rússia. Foi encarcerado ali, enquanto o Conselho Secreto Imperial começou a investigar as acusações. Junto com Rabi Shneur Zalman foram presos vinte e cinco dos seus Chassidim mais próximos. De fato, a situação parecia muito negra para o movimento chassídico em geral.
Durante esse período, a investigação contra o Rebe estava sendo conduzida por uma comissão especial do Conselho Secreto Imperial, a qual fez grandes esforços no interrogatório do Rebe sobre várias práticas chassídicas. O prisioneiro respondia a cada pergunta em termos compreensíveis para que seus interrogadores, que basicamente não estavam a par dos profundos conceitos da Chassidut, compreendessem seu sentido.
A Libertação em Yud-Tet Kislêv
O Rebe enfatizou que a doutrina chassídica não era radical, mas estava seguramente dentro dos limites da tradição judaica. Ademais, qualquer inovação que fosse percebida era mais um assunto de ênfase do que a base de qualquer mudança de substância. Essas respostas encontraram favor aos olhos da comissão, e após cinquenta e três dias de prisão, o Rebe foi liberado da cadeia, sendo todo o movimento chassídico inocentado de qualquer ilegalidade. A notícia da liberação do Rebe causou grande júbilo entre os Chassidim. Rabi Shneur Zalman, imediatamente depois de libertado, enviou uma carta a todos os seus seguidores. Exigia que eles exercessem a maior tolerância para com aqueles que denunciaram o seu ensino, das doutrinas do chassidismo, aos russos.
Em consequência da vitória do Rebe sobre os que tentaram sufocar o movimento chassídico (fazendo com que ele fosse preso sob falsas acusações), essa oposição desistiu de outros esforços concentrados contra aqueles que disseminavam a doutrina da filosofia chassídica. Quando os Mitnagdim começaram a perceber que suas suspeitas contra o chassidismo eram infundadas, a paz finalmente prevaleceu.
Dez anos depois da histórica liberação do Rebe em Yud Tet Kislêv (1798), líderes dos dois grupos eram, juntos, os signatários de uma aprovação para uma nova impressão do Talmud. Tal ato de união seria impossível nos dias imediatamente precedentes à liberação, em Yud Tet Kislêv, do Rabi Shneur Zalman. A fissura entre os Chassidim e os Mitnagdim finalmente fora cicatrizada.
Magal
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