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SABEMOS O VALOR DAS COISAS? - PARASHÁ BÔ 5768 (11 de janeiro de 2008)
"João Carlos caminhava pela rua, cabisbaixo e amargurado. Pensava na
pobreza que reinava em sua casa, onde não havia nem mais comida
suficiente para alimentar seus filhos. Deu um grande suspiro enquanto
pensava o quanto era amarga a sua sorte.
De repente, João Carlos olhou para a rua e viu algo brilhando.
Imediatamente foi ver o que era, talvez poderia ser uma moeda que
refletia o brilho do sol. Chegando perto, percebeu que era uma pedra
muito bonita, com um brilho especial. Pegou a pedra e ficou brincando
com ela, jogando de uma mão para outra. Pensou em dar a pedra para seu
filho pequeno brincar, para distraí-lo, para que ele não pensasse na
fome. Quando passava pela loja de seu amigo Henrique, o ourives da
cidade, decidiu mostrar-lhe a pedra. Quem sabe aquela pedra não valia
alguma coisa?
João Carlos entrou na loja de Henrique e mostrou para ele a pedra.
Henrique pegou uma lente de aumento e ficou examinando a pedra
atentamente. De repente, deu um grito emocionado:
- Não acredito. Você encontrou uma pedra preciosa valiosíssima. Acho
inclusive que esta pedra poderia ser colocada na coroa do rei.
Imediatamente avisou o rei que alguém tinha em sua posse uma pedra
magnífica, que ficaria muito bem na coroa real. O rei, interessado,
mandou enviados para trazerem a pedra e o seu dono. Quando o rei olhou
a pedra, imediatamente gostou e decidiu comprá-la, não importava o
preço. Virou-se para João Carlos e perguntou:
- Quanto você está pedindo por esta pedra magnífica?
- Vou ser sincero com Vossa Majestade – respondeu João Carlos. No
momento que encontrei esta pedra, não sabia que ela era valiosa. Para
mim parecia apenas uma bonita pedra brilhante. Portanto, Vossa
Majestade pode me dar a quantia que achar justa, nem que seja penas um
bom prato de comida.
O rei mandou chamar um avaliador, que logo percebeu a preciosidade da
jóia. João Carlos foi muito bem recompensado, com uma enorme
quantidade de ouro, e em sua casa nunca mais houve pobreza."
Explica o rabino Chafetz Chaim que a nossa Torá sagrada é mais valiosa
do que pérolas e barras de ouro, pois por cada palavra que
pronunciamos quando a estudamos receberemos uma recompensa para toda a
eternidade. Mas como somos pobres de conhecimento, muitas vezes a
abandonamos e a trocamos por coisas que, no final, não terão valor
nenhum.
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Na Parashá desta semana, Bô, D'us manda as últimas 3 pragas, e
finalmente o faraó dá permissão ao povo judeu de sair em liberdade.
Porém, antes da última praga, D'us fala para Moshé: "Por favor, diga
aos ouvidos do povo: 'Peçam, cada homem de seu companheiro e cada
mulher de sua companheira, objetos de prata e objetos de ouro' "
(Shemot 11:2). Surgem duas perguntas: Por que D'us pediu para Moshé
"por favor", e simplesmente não ordenou que pedissem as riquezas dos
egípcios? E qual a necessidade dos judeus saírem com riquezas, não era
suficiente a liberdade que D'us estava dando?
Explica Rashi, famoso comentarista da Torá, que D'us pediu "por
favor"' para que Avraham Avinu não reclamasse com Ele. Mas por que
Avraham reclamaria? Muitos anos antes, D'us havia firmado um pacto com
Avraham, e havia lhe profetizado o futuro do povo judeu: "E Ele disse
para Avraham: 'Saiba que seus descendentes serão estrangeiros em uma
terra que não será deles. E eles os servirão, e eles os oprimirão, 400
anos. E também este povo a quem eles servirão, Eu os julgarei, e
depois disso sairão com grande riqueza' " (Bereishit 15:13,14). Se o
povo saísse sem as riquezas, Avraham poderia questionar: "D'us, por
que Você cumpriu a parte da escravidão e da opressão, mas não cumpriu
a parte da grande riqueza?". Mas toda a preocupação de D'us era só com
a reclamação de Avraham Avinu? Não é suficiente problema D'us não
cumprir o que prometeu?
Explicam os nosso sábios que D'us, quando prometeu que os judeus
sairiam com grandes riquezas, não estava se referindo às riquezas
materiais, e sim à maior de todas as nossas riquezas: a Torá, com
todos os seus maravilhosos conhecimentos, que nos ensinam como viver a
vida neste mundo e como construir a nossa eternidade. Porém, D'us
sabia que infelizmente nem todos do povo judeu teriam a claridade para
entender que a verdadeira riqueza neste mundo é a Torá e não as posses
materiais, que são passageiras. Avraham é considerado o protetor do
povo judeu, principalmente daqueles de nível espiritual mais baixo, e
constantemente ele tenta interceder pelo povo judeu, como se fosse
nosso advogado de defesa. Portanto, D'us cumpriria a promessa de
qualquer maneira, pois logo após a saída do Egito D'us nos entregou a
Torá. Mas para que Avraham não precisasse reclamar por aqueles que
preferiam os bens materiais, D'us pediu por favor para Moshé instruir
o povo a pedir riquezas aos seus vizinhos.
Para nós, fica a pergunta: será que sabemos dar o verdadeiro valor
para a nossa Torá? Será que sabemos que ela vale mais do que ouro e
pedras preciosas? Ou será que muitas vezes trocamos momentos de estudo
de Torá por momentos a mais de trabalho, para recebermos um pouco mais
de dinheiro no fim do mês? Por que nos contentamos com pequenos
prazeres materiais, se podemos ter acesso a riquezas e prazeres muito
maiores?
SHABAT SHALOM
Rav. Efraim Birbojm
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