21/10 - Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel
Há dias li no Estadão interessantes observações de Alberto Tamer, sempre original e inteligente colunista. Ele falava, em síntese, da divisão dos brasileiros entre os preocupados com o futuro das instituições e os felizes com a situação econômica. O Brasil tem cerca de 190 milhões de habitantes e cerca de 500 vezes a extensão de Israel, com cerca de sete milhões de habitantes, inserida num mundo de centenas de milhões de indivíduos que lhe são hostis.
Em novembro deve se realizar a Conferência da Paz visando o fim do conflito israelense-palestino que já dura 60 anos e proposta pelo presidente Bush. Ainda não se tem uma data certa nem a lista dos que serão convidados. Não se chegou a um acordo sobre o documento que deve servir de base para a reunião.
Na segunda-feira, divulgou-se que a caravana do primeiro ministro de Israel, Ehud Omert, que deveria viajar a Jericó, cidade palestina a meia hora de Jerusalém, para mais uma reunião com o presidente da Autoridade Palestina, foi adiada. Motivos políticos, foram as explicações oficiais, razões de segurança, foram outras. Souberam os serviços de segurança interna de Israel que estava em preparo um ataque de tocaia por elementos do El Fatah, partido do líder palestino, ao veiculo que transportaria o chefe do estado judeu que está em encontro com o presidente da França em Paris.
Na quarta-feira deverão ocorrer várias cerimônias em memória de Itzhak Rabin, chefe de governo e herói de guerra que foi assassinado há doze anos por um jovem estudante judeu, um fanático determinado a impedir o processo de paz com os palestinos que ele havia iniciado. O assassino foi preso em flagrante e condenado à prisão perpetua, mas o processo foi interrompido. Em ambos os lados, o palestino e o árabe, existem forças decididas a impedirem o entendimento.
O Fatah, que apóia Abu Mazen, foi expulso de Gaza pelo partido palestino fundamentalista, Hamas, que tem alas como os islamitas, que se opõem a um acordo de paz e nunca chegou a declarar que desistia do uso da força e táticas terroristas contra os judeus. O Hamas tem o argumento que onde Maomé pisou é sagrado para os muçulmanos. Pela tradição, o Profeta esteve na colina onde Salomão construiu o Templo para preservar as Rochas dos Mandamentos. A esplanada em frente é chamada de Magnífica Esplanada pelos muçulmanos. E a ela se vinculam todos os territórios nos quais se implantou o estado de Israel, de existência inaceitável, pois sagrados por extensão.
Ehud Olmert e Abu Mazen manifestam confiança em que chegarão a um documento aceitável como ponto de partida para a Conferência. Na versão palestina corrente, a declaração fala de todas as questões que os lados se comprometeriam a resolver depois de aprovado na Conferência. Os países-membros seriam fiadores. Mas Olmert insiste que não há acordo algum até agora. Ele foi a Paris, como irá a Londres para trocar informações sobre o Irã, que estaria se aproximando de ter a sua bomba, e que, alegam americanos, franceses e ingleses, passará a dominar de fato países que controlam 55% do petróleo e gás do quais depende a economia internacional. E não esquecem de lembrar que a Rússia de Putin se infiltra no Oriente Médio e é a principal fornecedora de equipamentos necessários ao desenvolvimento de armas atômicas. A Rússia nacionalista que procura se reafirmar como grande potência e responde por cerca de 15% do petróleo essencial a Europa. E que poderá firmar alianças com o Irã. Então terão o mundo pelo gogô.
Em Israel, agremiações de direita repelem as hipóteses de concessões que Olmert se disporia a realizar em troca de um acordo de paz com os palestinos. São contra dividir Jerusalém em duas municipalidades e soberanias diversas, a israelense e a palestina. Seria o mesmo que ter o Hamas em cada esquina da cidade, argumentam. Abu Mazen, enfatizam, só se sustenta porque a cidade onde vive e tem seu governo, Ramalah, é protegida pelas forças armadas de Israel. Não concordam em retiradas de milímetro algum dos chamados territórios ocupados ou disputados. Nada de concordar com o direito de retorno dos palestinos exilados, pois seria o mesmo que um suicídio do Estado judeu. Ameaçam deixar a coligação de governo. Que, se o fizerem, perderá a maioria e será derrubada.
O grupamento da direita inclui partidos nacionalistas e os partidos religiosos. O líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak, atual ministro da Defesa, rejeita a hipótese das divisão de Jerusalém, o que declara abaixo-assinado contendo as assinaturas de 61 membros do Parlamento, metade mais um, maioria absoluta. O atual primeiro-ministro, portanto, não teria condições de chegar à Conferência com um documento aprovado pelo seu Parlamento e aceitável aos palestinos. E sem um tal documento, cairia o governo de Abu Mazen. E o Hamas ascenderia ao Poder. Ou haverá imediato e violento levante palestino que poderá atrair reforços do mundo muçulmano, como aconteceu no Iraque e Afeganistão. E até mais do que isto.
Está vindo de Washington o principal assessor de segurança nacional de Bush. Logo depois voltará Condoleeza Rice, a secretária de Estado para Relações Exteriores. O governo Bush não desiste do objetivo de uma conferência que possa ser qualificada de bem sucedida. Mas no Oriente Médio ninguém é otimista.
Abbas diz que conflito no Oriente Médio será solucionado até o fim de 2008
22/10 - EFE
Jacarta, 22 out (EFE).- O presidente da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, declarou hoje, em Jacarta, acreditar que o conflito do Oriente Médio chegará a uma solução até o fim de 2008, e apostou em uma reconciliação com o Hamas.
"Antes do final de 2008 teremos encontrado a solução real que estivemos esperando", declarou Abbas depois de se reunir nesta manhã com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, em sua primeira visita oficial a este país.
Sobre a reconciliação com o Hamas, Abbas assegurou que "não é possível avançar se não houver um trabalho conjunto" e insistiu em que esse grupo faz parte do povo palestino.
A viagem de Abbas tem como objeto conseguir o apoio da Indonésia - a nação muçulmana mais povoada do mundo e com um posto no Conselho de Segurança das Nações Unidas - aos palestinos na conferência com Israel promovida pelos EUA.
O chefe da ANP chegou à Indonésia procedente da Malásia, cujo Governo ocupa a Presidência da Organização da Conferência Islâmica (OCI), e posteriormente deve viajar para Brunei.
Revolta em prisão de Israel deixa dezenas de feridos
22/10 - Reuters
JERUSALÉM (Reuters) - Dezenas de pessoas ficaram feridas num confronto entre presos palestinos e carcereiros numa cadeia israelense na segunda-feira, disseram autoridades penitenciárias. Pelo menos 15 presos e 15 carcereiros ficaram feridos no tumulto, que aconteceu de manhã numa prisão do deserto de Negev, disse uma representante do Serviço Penitenciário de Israel. Um dos detentos foi levado para o hospital em estado grave.
Uma autoridade palestina disse que o número estimado de presos feridos chegava aos 250.
O incidente aconteceu num momento em que o premiê israelense, Ehud Olmert, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, tentam reduzir suas divergências nos preparativos para uma conferência sobre o futuro Estado palestino, que está sendo patrocinada pelos Estados Unidos.
A questão dos detentos é delicada para os palestinos, já que há quase 11 mil deles sob custódia israelense.
O gabinete palestino do premiê Salam Fayyad responsabilizou Israel pela violência na cadeia e emitiu uma nota condenando 'veementemente a agressão bárbara' contra os 'heróis prisioneiros'.
A violência estourou quando guardas da prisão conduziam uma busca de rotina por armas no complexo, que abriga 1.000 detentos, disse Eli Gabizon, comandante do distrito sul do Serviço Penitenciário de Israel, à rádio Israel.
Durante o tumulto, que durou cerca de uma hora, os prisioneiros enfrentaram os carcereiros e incendiaram as barracas, disse a porta-voz.
O parlamentar palestino Issa Qaraqe disse à Reuters que os prisioneiros detidos em cadeias israelenses fariam uma greve de fome de um dia na terça-feira em protesto contra a violência.
O grupo islamita Hamas, que assumiu o controle da Faixa de Gaza em junho, também disse que vai organizar passeatas no enclave litorâneo e na cidade de Hebron, na Cisjordânia, para manifestar solidariedade aos presos.
(Por Ari Rabinovitch, Haitham Tamimi e Mohammed Assadi)