Uma análise da conjuntura do Oriente Médio* por José Farhat O "to be or not to be" que dizia Hamlet, o Príncipe da Dinamarca no drama de Shakespeare, lembra a situação atual quando o Hamlet da atualidade tem em suas mãos inábeis guiadas pela cabeça de sanidade randômica, mais uma vez, uma decisão que por ele já estaria tomada; é ele um presidente dos Estados Unidos, em fim de mandato, querendo entrar para a história como o herói da luta pela democracia, da guerra contra o terrorismo. Alguém incapaz de ver que a democracia não é concebida por todos à sua maneira e que ela não se impõe pela força das armas e que o terrorismo não pode ser confundindo com movimentos de libertação nacional ou reação a injustiças sofridas. Na região, tem-se como certo que o conflito ocorrerá dentro em breve, gerado por um acontecimento inesperado: a escalada das tensões oriundas dos Estados Unidos e demais atores ocidentais (a Europa está atualmente a reboque neste particular) e de Israel, contra a Síria, ou até mesmo do desenrolar dos acontecimentos no Líbano. Quem sabe até uma combinação de ambas as situações; a certeza, no entanto, é que se vier, ela será mais uma catástrofe arrasadora para aquela já sofrida região. Venha de onde vier, ela acabará se estendendo para o Irã. Este é, inegavelmente o objetivo final atual da Casa Branca, ou da grande maioria dela, e tudo está sendo manipulado para que aconteça, quer diretamente, quer atiçando os seus cães, ou através de um acontecimento sem valor significativo que sirva de pretexto. O Iraque, apesar de o mundo inteiro estar olhando para lá como se fosse a porta de entrada para o conflito com o Irã, este pode também entrar por uma janela, vindo de qualquer outra direção. A situação no Líbano não mudou muito, com o governo instigado pelos Estados Unidos (fazendo sombra a Israel), e até mesmo pela Europa, a criar uma situação explosiva que possa levar a um conflito aberto de Israel contra a Síria, um passo aquém do conflito com o Irã. As provocações contra a Síria continuam e dá para imaginar que se essa não estivesse com as costas quentes teria reagido desde a primeira provocação. Os salafistas, reformistas ou como queiram chamar aqueles que enfrentaram o Exército libanês em Nahr El-Bared vieram para ficar e não se tem tanta certeza onde irão explodir mais uma batalha. É digno de nota que os Estados Unidos, pelo relacionamento que estabeleceram com os líderes tribais sunitas no Iraque e com o próprio partido Baath, só não voltam a apoiar o seu antigo protegido e depois inimigo Saddam Hussein porque não inventaram ainda uma forma de ressuscitá-lo. Os Estados Unidos estão irmanados com parte do povo iraquiano que prefere viver sob Hussein que na situação atual, " and so are we" devem dizer aqueles que mandam em Washington. Quanto ao Paquistão, Musharraf teve vitórias forjadas a marteladas, mas esta situação não irá muito longe, pois, além do ódio que vem criando em seu próprio povo, quem tem vizinhos como ele não precisa de mais nada: a Índia o pressiona e os talibãs no Afeganistão o perseguem. E por falar em Afeganistão, este não foi mencionado especificamente como uma possível faísca, pois, a qualquer momento, pode ser dito que o Irã está encorajando os talibãs ou contribuindo para desestabilizar o regime afegão de marionetes colocados no poder e que só manda até à porta do palácio presidencial. A Turquia já está atuando no norte do Iraque e seus aliados –Estados Unidos e Israel-fingem estar pressionando-a com o genocídio do povo armênio para camuflar o silêncio a respeito dos ataques ao Curdistão iraquiano. Já há mortes dos dois lados. A Margem Ocidental, eufemismo usado para não dizer Palestina Ocidental, é de fato uma bomba com explosão retardada. A situação é explosiva tanto às margens do Jordão quanto na Palestina ocidental, em Gaza, e Israel está aí para esquentar a situação, cada vez mais apertando o cerco ao povo palestino. Se alguém acredita em milagre, é hora de orar para que este aconteça e nos livre de mais esta aflição. José Farhat, cientista político *O artigo de José Farhat se refere a um diálogo ocorrido entre ex-altos funcionários da administração estadunidense, e revelado no artigo "Tique-taque do relógio e guerra 'acidental'", de Alaistar Crooke, publicado no US / Middle east Policy Brief (leia no site do Icarabe, na seção Saiu na Imprensa). |