A Cigarra e a Formiga - Marcos Wasserman
quarta-feira, outubro 31, 2007
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A Cigarra e a Formiga
Marcos Wasserman, presidente do
Centro Cultural Israel-Brasil em Tel Aviv
Outro dia estive pensando na clássica fábula da formiguinha que trabalha
incansavelmente no verao, para ter o que comer no inverno, enquanto a Dona
Cigarra segue cantando e sambando, e, quando chega a fatídica estaçao, morre
de raiva e inveja da outra. Esta historieta se adapta como uma luva a muitos
aspectos do conflito israelo-palestino.
Há mais de 100 anos, em 1901, sob a inspiraçao de Theodor Hertzl, os judeus
criaram um fundo – o Keren Kayemet LeIsrael - para a redençao das terras da
Palestina, entao parte do Império Turco-Otomano. Os vendedores riam dos
judeus que pagavam qualquer preço por áreas desérticas e até pantanais. Mas
nao bastava ter a propriedade das terras. Nao bastava fincar ali uma
bandeira e com isso proclamar o direito de propriedade. A Revoluçao
Ideológica Sionista transformou toda uma geraçao de jovens judeus em
pioneiros, que foram trabalhar a terra com vistas a concretizaçao de um
sonho milenar. Os pântanos secaram e foram cultivados, e desertos viraram
jardins a custa de muito suor e muito sangue.
"Os árabes venderam suas terras desérticas aos
judeus e agora reivindicam um direito de recompra"
Ficou estabelecido que as terras do Keren Kayemet seriam inalienáveis, mas
poderiam ser arrendadas aos judeus, sendo as rendas reaplicadas a bem da
comunidade. O Keren Kayemet é hoje uma ONG que goza de enorme respeito
internacional. Atuando em inúmeras áreas, plantou mais de 230 milhoes de
árvores em território israelense, construiu mais de 7 mil quilômetros de
estradas e participou da construçao da infra-estrutura de mais de mil
comunidades.
Agora vem o problema. Existe em Israel uma entidade que se chama "Adala",
que pugna pelos direitos de minoria dos árabes-israelenses. Em princípio,
legítimos. Só que esta organizaçao tem uma linha ideológica muito clara,
extremamente controvertida e que chega a ser antagônica a certas
instituiçoes e a estrutura do próprio Estado de Israel. Desta vez "Adala"
está quase que marcando um tento. Abriram fogo contra o Keren Kayemet,
acusando essa entidade de racista por arrendar terras somente aos judeus.
Os ignorantes da história Sionista e das funçoes da supracitada ONG
perguntariam intrigados: que estória é essa de racismo em Israel? Nao é nada
disso. Os árabes venderam suas terras desérticas aos judeus e agora
reivindicam um direito de recompra. Objetivamente falando, poder-se-ia dizer
que o que era válido há 100 anos, deixaria de se-lo na realidade hodierna.
Afinal, os árabes-israelenses sao cidadaos e deveriam ter os mesmos diretos
que os judeus-israelenses. Mas estamos no Oriente Médio e, via de regra, as
coisas nesta conturbada regiao nao estao muito bem definidas. Por outro
lado, em países vizinhos a Israel, um árabe que se atreva a vender uma
propriedade imóvel a um judeu está sujeito a pena de morte.
Mas Israel é uma democracia e os tribunais terao que se manifestar, e a
celeuma já está na ordem do dia do país. E a tese dos árabes-palestinos
encontra a devida repercussao em nao poucos meios políticos e legais. Mas,
ao mesmo tempo, nas circunstâncias em que vivemos neste minúsculo país
chamado Israel, as pretensoes da organizaçao árabe-israelense "Adala" sao
vistas também com muitas suspeitas. Há quem prognostique que, seguindo uma
mesma linha de pensamento, mais cedo ou mais tarde irao eles abrir sua
campanha contra a Lei do Retorno, que também seria "racista".
"Em países vizinhos a Israel, um árabe que se
atreva a vender uma propriedade imóvel a
um judeu está sujeito a pena de morte"
Traduzindo em outras palavras, assistimos aqui a uma inteligente e
suspeitíssima orquestraçao visando a deslegitimaçao de Israel como país dos
judeus. Em determinados círculos israelenses, o modus vivendi da populaçao
árabe dentro de Israel provoca nao poucas dúvidas. Nao pelo fato de
desejarem manter sua cultura, língua e costumes, mas por nao quererem
participar da cidadania. Eles se recusam a participar de qualquer serviço
civil em favor da populaçao geral, isentos que estao, por razoes óbvias, da
prestaçao do serviço militar, obrigatório para o resto da populaçao.
Enquanto isso, os palestinos lá de fora tem em sua própria agenda a
exigencia do reconhecimento de uma Lei do Retorno para eles, nao para a
futura Palestina (que Alá os perdoe), pois querem o direito de viver em
Israel. Os palestinos, como a cigarra, nao aceitaram a realidade,
desprezaram o país que se lhes ofereceu em 1947 numa bandeja de prata.
Durante 60 anos eles se recusaram a construir seu próprio país. Grande será
o dia quando adotarem a marcha das formigas.
Publicado na Tribuna Judaica