Os judeus do Ceará

ZABULON, mestre dos mares: destalhe do estandarte

Amanda Queirós 

Existem judeus no Ceará? A resposta é sim. Eles são poucos, mas se mantêm unidos em sua crença e firmes na manutenção de suas tradições

Dizem que o cearense está para o Brasil assim como o judeu está para o mundo. Seria por conta de uma veia peregrina comum? Tanto um quanto o outro estão espalhados pelas mais diversas localidades.

 Por mais distantes que estejam de seus lugares de origem, ambos também teimam em não abandonar velhos costumes, tradições e comidas típicas. Tudo isso para se manterem perto de onde nunca deveriam ter saído ou para onde pretendem constantemente retornar: suas respectivas terras, sejam elas o próprio Ceará ou o Estado de Israel, a Terra Prometida dos judeus. 

Apesar de se parecerem nestes aspectos, cearenses e judeus ainda convergem pouco. A comunidade judaica presente em Fortaleza agrega apenas 30 famílias - algo em torno de 100 a 120 pessoas - sendo a maior parte delas vindas de outros estados do País. Poucas são as que se construíram no próprio Estado. O que os une, mesmo apesar de poucos, é o mesmo sentimento que os faz um único povo onde quer que estejam. Para além de uma religião, o judaísmo é uma cultura que deixa traços indeléveis em cada um que por ela passa. 

Na semana passada, foi a vez de eles celebrarem sua própria Páscoa. A mesma que, há quase dois mil anos, Jesus Cristo celebrou ao lado de seus doze apóstolos no que mais tarde ficou conhecido, para os cristãos, como a Santa Ceia. Sendo judeu e tendo sido educado sob a lei judaica, ele partilhou o pão ázimo (sem fermento) e o vinho kosher, apropriado para o consumo de seu povo. É dessa mesma forma que os judeus até hoje comemoram o Pessach (pronuncia-se pêssar; significa "passagem"), festa na qual eles celebram a libertação dos hebreus da escravidão do Egito. 

"O faraó mandou o povo embora à noite e logo pela manhã os judeus já deveriam ter saído. Não havia tempo para preparar a fuga nem de levar muita coisa. Só houve tempo de cozinhar um pão que não era fermentado, com massa de farinha de trigo e água. Eram 600 mil almas que deixavam o Egito", apontou o médico Marcus Strozberg, diretor da única sinagoga existente em Fortaleza. A festa dura oito dias e segue o calendário hebraico. Por ser lunar, ele determina que os dias iniciam ao entardecer. O Pessach desse ano teve início na noite da última segunda-feira, o dia 14 de Nissan do ano 5767. 

"Estamos refletindo sobre a possibilidade de sermos homens livres. Esse é o significado mais religioso da festa. A partir daí, podemos tirar muitas referências simbólicas. Dependendo da forma como você usa, a Internet, o celular, o dinheiro, a vaidade, o cigarro, a comida, os remédios... Tudo isso pode te escravizar. Escravo é aquele que não tem vontade; o livre não, pode optar. A partir daí, você pode impor as suas vontades. É isso o que estamos comemorando", completou ele. 

Somente há 13 anos os judeus de Fortaleza puderam começar a celebrar festas como essa em conjunto. Até então, eles se mantinham dispersos exercitando sua crença quase que unicamente restritos ao núcleo familiar. Com a reunião a partir da criação da Sociedade Israelita Cearense (SIC), eles puderam reabilitar a vida em comunidade. Reuniões mensais são programadas além dos tradicionais encontros semanais todas as sextas-feiras à noite. É o shabat, o dia santo dos judeus - para eles, o sétimo dia da semana, quando Deus descansou da feitura do mundo e quando também se deve descansar e orar. 

Neste domingo de Páscoa cristã - o primeiro dia da semana na agenda hebraica - o Vida & Arte Cultura mostra um pouco como essa cultura ainda um tanto desconhecida se manifesta em nosso Estado, seja por meio dos próprios judeus, dos simpatizantes desse modo de vida ou das demais religiões que nela buscam inspiração para si.

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