Fonteles (ex-procurador geral da República) acusa cientista de ter viés judaico

Fonteles (ex-procurador geral da República) acusa cientista de ter viés judaico

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Sábado, Abril 21, 2007

e por falar em anti-semitismo catolico....

Folha de São Paulo, 21/04/2007

Fonteles acusa cientista de ter viés judaico

DA REPORTAGEM LOCAL

O clima de batalha ideológica que se instaurou ontem no STF resvalou para insinuações de natureza religiosa. Cláudio Fonteles -franciscano que recrutou cientistas vinculados à Igreja Católica para deporem na audiência- nega ter sido motivado por sua ligação com a Igreja para mover a ação. "Fiz tudo à luz do Direito", disse.

Questionado sobre o conflito de interesses de sua formação cristã com o mérito da ação, Fonteles rebateu insinuando que uma defensora das pesquisas com embriões tem viés religioso.

"A doutora Mayana Zatz, que é o principal elemento de quem pensa diferentemente da gente, tem também uma ótica religiosa, na medida em que ela é judia e não nega o fato", disse o procurador. "Na religião judaica, a vida começa com o nascimento do ser vivo. Então, ao defender a posição dela, ela defende a posição religiosa dela, que é judia e que a gente tem de respeitar."

Em resposta à Folha, Zatz, brasileira nascida em Israel, afirmou que a argumentação de Fonteles é sectarista. "Desde o início da discussão sobre o uso de células-tronco embrionárias, apesar dos pontos de vista opostos, jamais tinha me defrontado com a tentativa de desqualificar meus argumentos com argumentos anti-semitas", disse. "Estou triste, porque isso contraria a tradição de tolerância e de respeito à diversidade religiosa que caracterizam este país. Posso garantir que minha defesa da pesquisa com células-tronco embrionárias está longe de ser motivada por razões religiosas. É por meus pacientes, para minorar o sofrimento deles." (RAFAEL GARCIA E LAURA CAPRIGLIONE)

Comentário:

Na missa católica dominical, havia uma oração que pedia a Deus o arrependimento dos "pérfidos judeus". Com o Concilio Vaticano 2, e com muita dificuldade, foi retirada aquela súplica do ofício divino. Mas no fundo do coração de muitos católicos, o sentimento e sua expressão verbal continua, surgindo em momentos difíceis como os que se passaram no STF. Converso muito com judeus que, não raro, preferem a esperança enganosa que promete a mudança de consciência católica ao anti-semitismo explícito de outrora. Sempre lhes digo que tenham cuidado, pois algo como a intolerância contra os judeus é milenar e tais hábitos (como demonstram Platão, Montaigne, Maquiavel e outros) estão impressos na cultura, ou melhor, no corpo e na alma dos que se julgam salvos, nadando no verdadeiro. Fiquei mais triste ainda do que a Dra. Zatz, porque na condição de católico, tenho ainda de carregar esta culpa de boa parte dos que vivem na Mater et Magistra.

Seria bom que o Dr. Fonteles relesse a Declaração Nostra Aetate do Concilio. A releitura lhe faria muito bem.

Roberto Romano
Postado por Roberto Romano às 9:57 AM
 
 
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Relembrando

A ciência sob pressão - o desrespeito à liberdade de cátedra



Data: Thu, 15 Feb 2007 17:44:11
De: "Cláudia A.P.Ferreira (FL/UFRJ)"  
Assunto: A ciência sob pressão - o desrespeito à liberdade de cátedra.


B"H
 
 
HOME: REVISTA: CIÊNCIA, TECNOLOGIA & MEIO AMBIENTE 14/02/2007
 
 
 
Joédson Alves  
"Fui ameaçada de morte e precisei de escolta para lançar meu livro" Débora Diniz, especialista em medicina fetal que defende o aborto em casos de má-formação  
No passado...
Hoje...
 

EXCLUSIVO
A ciência sob pressão
Vítimas do conhecimento que acumulam,
pesquisadores são perseguidos no Brasil
e no exterioR, enfrentando uma guerra
contra seus direitos individuais
Por Júlio Wiziack
 
Única brasileira a receber o prêmio Manuel Velasco-Suarez, a mais alta honraria concedida pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), a antropóloga Débora Diniz nem teve tempo para comemorações. Foi demitida da Universidade Católica de Brasília, onde lecionava, no mesmo dia em que colocou a mão no troféu concedido por seu trabalho na área de medicina fetal. O episódio, ocorrido há cinco anos, ganhou repercussão internacional, especialmente depois que a Pró-Vida, uma organização ligada à Igreja Católica, começou uma campanha contra a pesquisadora, a quem chamava de "a abortista". Desde então, Débora teve de trocar quatro vezes o número de seu telefone e perdeu a conta das ameaças que recebeu (uma delas foi de morte). Depois de anos exigindo retratações, a especialista chegou no início deste ano à mais alta instância do Judiciário. Sua ação por danos morais corre no Supremo Tribunal Federal (STF). A justificativa: o desrespeito à liberdade de cátedra.
 
Max G  Pinto
"Tentaram destruir minha reputação porque alertei contra um medicamento" Anthony Wong, infectologista
Criada na Alemanha por volta de 1830, a cátedra é um sistema que garante a um professor universitário autonomia de pesquisa, independentemente do local onde trabalha. Na prática, isso significa que ele não pode ser demitido nem pressionado para mudar sua linha de estudo. "A idéia é preservar a produção do conhecimento, livrando a ciência dos conflitos de interesse", diz Flávio Edler, presidente da Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC).
 
No Brasil, os problemas começaram a surgir em universidades particulares, principalmente as confessionais – nome dado às instituições ligadas a grupos religiosos. Nesses centros são grandes as chances de censura sempre que os dogmas seculares entram em xeque. Foi o que aconteceu com Débora Diniz, cujos estudos comprovaram os benefícios do aborto para as mulheres em casos de má-formação fetal. Consultada por ISTOÉ, a reitoria da Universidade Católica de Brasília não se pronunciou até o fechamento da edição.
 
Epitácio Pessoa/ae
SIGILO O presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva (acima), e o diretor do IPEN, Cláudio Rodrigues (à dir.), são proibidos por lei de revelar os segredos da centrífuga brasileira de enriquecimento de urânio
Mas esse silêncio tem prazo de validade. A ação que chegou ao STF promete abrir uma discussão pioneira. Afinal, universidades e centros de pesquisa confessionais recebem boa parte dos recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para se ter uma idéia, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul recebem juntas 4% das verbas liberadas pelo CNPq. É mais do que ganham a Universidade Federal da Paraíba, a Universidade Federal de Goiás, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, núcleos fundamentais para o desenvolvimento do Norte e do Nordeste.
 
Bio Barreira
SIGILO O presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva (acima), e o diretor do IPEN, Cláudio Rodrigues (à dir.), são proibidos por lei de revelar os segredos da centrífuga brasileira de enriquecimento de urânio
Evidentemente, a solução não é a limitação das verbas para os núcleos religiosos de pesquisa. O crucial é garantir que eles mantenham seus preceitos bem longe dos laboratórios. Além disso, quem decide pagar por um curso universitário nessas escolas está em busca de conhecimento científico, puro e simples. É o que mostra um levantamento da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais segundo o qual menos de 2% dos universitários escolheram a instituição levando em conta a orientação religiosa.
 
A violação da liberdade científica também ocorre em universidades e agências de pesquisa públicas. Chefe do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas de São Paulo, o infectologista Anthony Wong fez um alerta recente aos riscos oferecidos pelos remédios contra dor de cabeça, como o Tylenol. Para ele, o excesso do medicamento aumenta as chances de falência do fígado, podendo levar à morte.
 
Segundo o hospital, o laboratório Aché encaminhou uma carta sugerindo a censura ao especialista devido ao tom alarmista de suas declarações. Wong, cujo trabalho é reconhecido internacionalmente, foi submetido a uma investigação, mas o rigor de seus estudos falou mais alto: "Minhas opiniões foram comprovadas cientificamente por meus colegas."
 
Max G Pinto
"A Anvisa me persegue porque meus estudos comprovam a ineficácia da grande maioria dos remédios aprovados pela agência e que circulam no mercado" Gilberto De Nucci, farmacologista da USP que teve seu laboratório fechado no final de 2006
Na Universidade de São Paulo (USP), o farmacologista Gilberto De Nucci comprou briga ao afirmar que pelo menos 80% dos remédios em circulação são ineficazes: "Eles servem para alguma coisa, mas não exatamente ao que se propõem." Pioneiro na bioequivalência, área que realiza testes de eficiência dos genéricos antes de chegarem às farmácias, De Nucci teve um de seus laboratórios fechado no final do ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo os laudos oficiais a que ISTOÉ teve acesso, normas para a compra de medicamentos não foram seguidas. Mas no centro desse imbróglio residem conflitos de interesse entre a USP, que abrigava o laboratório, empresas farmacêuticas, a Anvisa e o próprio De Nucci.
 
Em Mato Grosso do Sul, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente encomendou a um grupo de especialistas da Universidade Federal e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a análise do relatório de impacto ambiental da siderúrgica EBX, que está sendo instalada pelo empresário Eike Batista em Corumbá. Coordenados pela bióloga Débora Calheiros, os peritos descobriram, em meados de 2006, que o empreendimento, da forma prevista originalmente, causaria acúmulo de mercúrio, um metal pesado e cancerígeno. No dia da audiência pública marcada para a discussão do projeto, uma rádio de Corumbá pediu que os moradores espantassem os ambientalistas à bala. O caso foi parar na Justiça. "Voltamos à era das perseguições inquisitórias", diz Débora.
 
Existem ainda os cientistas que trabalham monitorados em tempo integral porque lidam com áreas estratégicas. No final de 2005, um especialista da Embrapa, que aceitou conversar com ISTOÉ sob condição de sigilo, foi chamado ao Gabinete de Segurança Institucional, em Brasília. Lá, entregaram-lhe uma pasta confidencial contendo uma investigação sobre sua vida pessoal e profissional. "Disseram que poderiam ajudar ou atrapalhar minhas pesquisas", diz. "Fiquei constrangido." Hoje ele trabalha para os militares e não pode dar detalhes do projeto do aeromodelo pilotado via satélite que escapa de radares.
 
Atual presidente da Eletronuclear, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva foi o engenheiro que projetou a centrífuga brasileira de enriquecimento de urânio nos anos 80. Seu maior segredo, ainda mantido sob sete chaves, reside numa tecnologia que usa um campo magnético para fazer as engrenagens da máquina girarem sem atrito, resultando numa economia de energia. Em 1994, ele teve seu telefone residencial grampeado e o apartamento bisbilhotado por um espião americano que se mudou para o prédio onde o engenheiro morava. "Isso quase causou um incidente diplomático", diz. Por isso, Othon passou a adotar a política do isolamento: "Só falo de trabalho com meus funcionários." Essa também é a estratégia de Cláudio Rodrigues, diretor do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Para profissionais como esses, a pena por vazar segredos científicos é a prisão.
 
Nos EUA, a pressão do Estado toma conta dos laboratórios desde julho de 2006, quando o presidente George W. Bush determinou que todos os estudos fossem revisados antes da publicação. Um levantamento feito pela Union of Concerned Scientists (UCS) mostrou que a política do "cala a boca" já afeta oito das agências que fazem estudos ambientais e outras cinco da área de saúde. No FDA, órgão responsável pela liberação de medicamentos, 18,4% dos cientistas afirmaram ter feito "correções" em suas pesquisas. No Congresso americano, os deputados tentam aprovar uma legislação que restabeleça a integridade científica. No Brasil, a comunidade acadêmica ainda aguarda uma lei que acabe de vez com essa pressão
 
 
NO PASSADO...
A IGREJA ERA A VILÃ DOS CIENTISTAS
 
PARACELSO (1493–1541)
Lançado ao ostracismo por seu método de tratamento de doenças à base de fármacos
GALILEU (1564–1642)
Condenado e preso pela Igreja Católica ao defender que a Terra girava ao redor do Sol
KEPLER (1571–1630)
Exilado em Praga pela Igreja por ter provado que os planetas se movem em órbitas elípticas
LAVOISIER (1743–1794)
Pai da química, ele foi decapitado durante a Revolução Francesa acusado de traição
 
 
HOJE...
O ESTADO E AS EMPRESAS TAMBÉM PERSEGUEM
 
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YURI BANDAZHEVSKY
O médico está preso há sete anos por criticar a política estatal de tratamento das vítimas de Chernobyl
ALEXANDR NIKITIN
Processado ao alertar para os riscos ambientais que submarinos naufragados na Noruega podem causar
East  News/contributor
JAMES HANSEN
O pesquisador da Nasa está proibido de dar entrevistas e de falar sobre o aquecimento global
VIL MIRZAYANOV
O russo foi preso ao denunciar o uso de cientistas na fabricação de armas químicas. Hoje vive nos EUA

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