A bonita história de Yarden Fanta-Wagenstein

A bonita história de Yarden Fanta-Wagenstein

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A bonita história de Yarden Fanta-Wagenstein
Por Anat Medan, Yediot Achronot  


Utopia etíope:
Yarden Fanta-Wagenstein, a primeira mulher oriunda da Etiópia a receber um Doutorado em Israel.

Quem poderia acreditar que aquela menina-pastorinha de um vilarejo isolado nos rincões da Etiópia, analfabeta até os 14 anos, se tornaria a primeira mulher etíope a obter Doutorado, com apenas 34 anos, em Israel? Yarden Fanta-Wagenstein concluiu no mês passado seu doutorado " magna cum laude "em Pedagogia, e já está arrumando as malas para continuar seus estudos na prestigiosa Universidade de Harvard, muito embora as pessoas continuem a lhe oferecer serviços de faxina enquanto ela espera nas filas do supermercado. 

Yarden pediu ao marido, Ilan Wagenstein, de origem asquenazita, que lhe presenteasse com uma máquina de costura, para que ela jamais se esquecesse do dia em que chegou a Israel e foi considerada apta para se tornar uma   potencial costureira.

Há um mês, quando Yarden Fanta-Wagenstein recebeu seu doutorado "magna cum laude" em Pedagogia, seu marido lhe perguntou qual era o presente que sonhava ganhar. Sem hesitar um minuto, respondeu: uma máquina de costura. 

Ele levou um susto, mas para ela foi a coisa mais natural. Em 1985, após imigrar para Israel com sua família, Yarden, então chamada pelo nome etíope de Argoya, foi enviada para o internato Mikve Yisrael, quando seu nome foi alterado e onde ficou sob observação pedagógica. Lá seu futuro foi selado: a menina analfabeta de 14 anos estava apta a se tornar uma costureira.

"Eles me tratavam como se eu tivesse acabado de pular de uma árvore, assim precisavam encontrar alguma coisa para eu fazer", recorda, enquanto tenta afogar as lembranças amargas que ainda a corroem por dentro. "Eu recusei. Sabia que não queria fazer algo fácil. Queria mesmo era estudar". Ela teve muita sorte ao obter apoio da esposa do diretor, que reconheceu nela grande potencial e lhe deu um mês para tentar uma classe normal.   "Revele-se", disse à Yarden.  E ela se revelou.
Hoje, já de posse de seu certificado de Doutora e radiante com o senso de vitória, Yarden Fanta-Wagenstein, 34 anos, espera fechar o círculo com sua máquina de costura. Uma grande estilista não será, mas, definitivamente, é a primeira mulher etíope a obter doutorado em Israel. Agora planeja continuar seus estudos de pós-doutorado na prestigiosa Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde pesquisará a justaposição entre cultura e tecnologia e desenvolverá um programa educacional para auxiliar analfabetos.

"Sabia que não ia parar no doutorado, e que se eu quisesse influir na educação teria que continuar. Essa é a razão pela qual quis entrar na melhor e mais renomada universidade. Sei que será difícil me adaptar aos professores de Harvard, mas fico sempre me lembrando que esses professores jamais sofreram o que eu já passei na vida . Portanto, eu chego lá."

CASAMENTO BRANCO

Na sua casa em Givatayim, cercada de pilhas de roupa para lavar, além dos brinquedos de Umma, sua filhinha de um ano e meio, dispersos por todos os cantos da casa, ao lado de artigos sobre Educação, a jovem mãe relata sua história de vida com muita calma e modéstia. Para ela, é importante não ser considerada um fenômeno, com uma história de sucesso. O marido, Ilan Wagenstein, de 36 anos, economista, recém graduado em Direito, trabalhando em um escritório de Relações Públicas, não consegue esconder o orgulho, e vez por outra deixa a esposa encabulada, lançando no ar um elogio a ela.   Yarden jamais esquece, nem por um minuto, suas origens e como tudo começou. Reitera repetidamente o fato de que extraiu sua força interior durante os doze anos em que viveu, quando criança, num vilarejo isolado da Etiópia e, particularmente, de sua viagem a Israel, após o que nada mais poderá amedrontá-la.

Tudo começou quando ela teimou em seguir os estudos universitários e perseguir uma brilhante carreira acadêmica; continuou por ter que lidar com a atitude das pessoas em relação a ela própria, ao seu casamento e agora, à sua filhinha "Quando Ilan e eu íamos ao teatro ou ao cinema, encontrávamos pessoas que não sabiam que eu era casada; sempre perguntavam se eu estava sozinha, mesmo se ele estivesse em pé ao meu lado. Nunca nos relacionavam, como se essa união fosse impossível. Desde essa época sempre andamos de mãos dadas, para que as pessoas não captem a mensagem errada.

"Vocês não têm idéia de quantos empregos me oferecem quando vou fazer compras. Sempre encontro senhoras que me perguntam para quem eu trabalho; ou então me contam que estão procurando uma faxineira e querem saber se tenho um dia livre. No começo ficava chocada, mas agora respondo que eu também estou procurando uma faxineira e que, portanto, talvez ela queira trabalhar para mim. Percebi que esta é a melhor maneira de calar a boca das pessoas. Costumava ficar muito chateada por causa desses incidentes, agora simplesmente os ponho de escanteio. Prefiro acreditar em ações concretas e não em palavras vazias".

Como sua família reagiu ao seu casamento?

Casamentos desse tipo, mistos, já não são tão raros, acaba-se acostumando. Ilan não gosta muito de comida etíope e minha mãe sempre se preocupa com o que ele vai comer quando vamos visitá-los. Ela se esforça muito para agradá-lo. Com os meus cunhados, que são todos etíopes e adoram os pratos que ela prepara, não tem problema algum. Quando todos nós vamos visitar meus pais, dormimos em colchões no chão, é uma grande farra. Ilan, que é um menino mimado natural de Tel Aviv, não dorme no chão como eu. Ele precisa da sua cama. Em geral volta para casa para dormir e eu fico com meus pais; eles entendem. Eles gostam mais dele do que de mim, e qualquer conversa termina com a frase:"Não cause nenhum embaraço ao seu marido, ele é um bom rapaz".

"Em relação à família dele, ainda não é algo natural o fato de uma família israelense simplesmente aceitar uma nora etíope. Acho que deve ser difícil, mas, como sempre, disse que também saberíamos lidar com isso. Mas a família me aceitou de braços abertos, muito embora eu me perguntasse, logo no início, se a família estava apenas tentando ser simpática, ou se realmente era algo sincero. Não creio que a atitude deles seja fora dos padrões, nem tampouco acredito que todos os israelenses veteranos pensem que os etíopes sejam pessoas fracas, hesitantes, mas certamente há uma minoria que dá uma reputação ruim à toda a comunidade. De qualquer maneira, as pessoas tratam com o ser que está por trás da cor, não é verdade?

A pele clara de sua filha deve levantar suspeitas, não?

Quando me casei com Ilan era óbvio que nossos filhos seriam mulatos ou brancos. A verdade é que meus pais ficaram mais surpresos pelo fato de eu ter me casado, do que pelo fato de eu ter uma filha branca. Eles achavam que eu estava muito ocupada com os estudos. Minha mãe a chama de Umma "Adis", que significa "nova", porque uma menina com a pele branca é algo novo na minha família. Ouço os mais absurdos comentários na rua. O melhor de todos foi quando entrei numa loja e alguém disse: "Dá para ver que você realmente adora essa menina. Quantas horas por dia você toma conta dela?" Eu respondi: "24 horas por dia", e a moça continuou "O que? mas ela não tem pais? Disse que nós éramos os pais dela, e ela se sentiu ofendida porque nós lhe pregamos uma peça".

Sua mãe deu à luz ao primeiro filho quando tinha 15 anos. Você esperou até os 32. Sentiu muita pressão de todos os lados?

"No início foi muito difícil para minha mãe o fato de eu me concentrar na minha carreira e não me preocupar com casamento. Ela passou por maus bocados comigo porque eu estudava e viajava e estava sempre correndo de um lado para outro. Certa vez tentei acalmá-la mostrando um artigo em que uma mulher de 67 anos dava à luz a um bebê. Ela ficou muito nervosa e disse que eu era impossível. Em todas as conversas eu mencionava que ela já tinha 21 netos, então por que precisava de mais um neto e, justamente, meu? Quando finalmente casei, com 30 anos, ela não entendia como eu podia estudar, ser uma boa esposa e ter uma filha. Mas mostrei-lhe que é possível e sempre peço que não pressione minhas irmãs mais novas. Meus pais aprenderam comigo que em Israel tudo é possível: trabalhar em diferentes empregos, casar em idade mais avançada, ter sucesso profissional e também ser mãe".

Você se define como feminista?

Sustento direitos gerais e iguais para as mulheres. A mulher não consegue fazer tudo o que o homem faz por causa das diferenças físicas entre os sexos, mas com exceção disso, não deveria haver nenhuma diferença. Acredito que haja sempre um homem entusiasta e admirador por trás de toda mulher de sucesso.   Não poderia viver com alguém que impedisse meu desenvolvimento. É óbvio que para a sociedade etíope, e para a maior parte da sociedade israelense, a mulher é, acima de tudo, mãe, mas pessoalmente acredito que é possível combinar maternidade e carreira profissional. Hoje, com a Umma, faço bem menos do que fazia quando era solteira. Tive que abrir mão de uma série de atividades em que estava envolvida com a comunidade etíope, porque tenho menos tempo. Minhas prioridades mudaram, mas nunca pensei em privar-me de minha carreira em prol da maternidade.

Em 1998 fui enviada pela Agência Judaica a uma convenção de mulheres proeminentes realizada em Washington, e Hillary Clinton foi a convidada de honra. Ela é o meu modelo, meu exemplo de vida quanto à mensagem que transmitiu sobre energia feminina e a capacidade da mulher em provocar mudanças sociais. Hillary afirma que não precisamos dos homens, mas temos o poder de nós mesmas fazermos as mudanças. Creio que seja verdade. Após a palestra aproximei-me dela e disse que concordava com todas as palavras que havia dito, e que ela também me fez sentir mais forte. Hillary é uma das mulheres mais inteligentes e brilhantes que conheci".

A COR NÃO DESBOTA

Ela nasceu no vilarejo de Matza, no norte da Etiópia, a sexta criança dentre dez filhos. Quando completou sete anos decidiu assumir os trabalhos da família e começou a pastorear as ovelhas. "Tinha apenas três irmãos, portanto era óbvio que as meninas tinham que fazer a sua parte. Não encarava isso como castigo, ao contrário, como uma rotina normal. Não era nada agradável sair à noite no inverno com o rebanho, mas ninguém jamais era mimado.   Tinha que acordar muito cedo para pastorear. O que eu mais desejava era ir para a escola, como meus irmãos mais velhos, mas o ônibus não chegava até o nosso vilarejo e metade do caminho era feito no lombo de um burrico.   A escola ficava a três horas de distância, à pé, de nossa casa e meu pai decidiu que eu era muito fraquinha para fazer o trajeto até a escola, portanto ficava em casa para tomar conta das ovelhas".

"Eu era uma criança muito curiosa, e enquanto meus irmãos faziam a lição de casa estava sempre atrás deles.   Eu os amolava para que me ensinassem o que estava nos cadernos e aprendia tudo o que podia, sem mesmo entender do que se tratava. Tinha uma necessidade premente de aprender e me lembro de ter prometido a mim mesmo que quando crescesse, iria embora para estudar. Naquela época era óbvio que eu pertencia à família e tinha que fazer a minha parte cuidando das ovelhas, ajudando minha mãe com as fornadas de pão e a cozinha, além de tomar conta das gêmeas, que nasceram depois de mim.   Apesar de tudo isso, não me sentia frustrada. Queria muito ajudar meus pais, não tinha a sensação de ser forçada a agir daquela forma. Eu me sentia muito importante, pois confiavam em mim para trazer todo o rebanho de ovelhas de volta.   A sensação de ser tratada como um adulto que é capaz de assumir responsabilidades e de ser bem sucedido, me acompanha até hoje.

Estava grávida enquanto redigia a dissertação do meu doutorado e tive que ficar confinada a uma cama; muitas vezes sentia que já havia sofrido bastante e tinha vontade de jogar a minha dissertação pela janela. Nessas horas me lembrava dos dias em que pastoreava as ovelhas e das dificuldades que já havia superado. Essas lembranças funcionavam como um incentivo e me ajudaram a seguir em frente".

Quando a menina tinha 12 anos seus pais lhe contaram, no maior segredo, que todos iriam para Israel. Ela se lembra desses dias com lágrimas nos olhos. "Meu pai comprou dois cavalos, levamos verduras e frutas secas para o dia, e não tínhamos permissão de falar sobre o assunto. Lembro-me bem da nossa excitação. Partimos no meio da noite; eu carregava nas costas uma das minhas irmãs gêmeas, que tinha dois anos à época. Carregava, ainda, uma barrica de água em uma mão, e uma cesta cheia de alimentos na outra. Durante um mês inteiro andamos apenas à noite, para que não fossemos capturados, até que chegássemos no Sudão. Lá esperamos onze meses até partimos para Israel. A viagem foi uma experiência dolorosa. Abandonamos a casa em que crescemos, tínhamos que andar o dia todo e morar num campo de trânsito no Sudão, em condições sub-humanas. As pessoas à nossa volta morriam o tempo todo; uma das minhas irmãs gêmeas também morreu lá, e eu tinha medo de ser desertada, de que meus pais morressem.
"Hoje, já como mãe, admiro meus pais pela coragem de terem embarcado em tal empreitada. Quando cheguei em Israel invejava as crianças daqui que não tinham vivenciado a experiência do medo como eu. Sentia que havia suportado uma carga extremamente pesada e que era muito jovem para já ter passado por essa experiência. Com o tempo as coisas foram se equilibrando, e hoje, retrospectivamente, acredito que foi um privilégio passar por tal provação e ainda estar viva. Lembro-me da viagem como se tivesse sido hoje de manhã; está nas minhas entranhas.   A jornada me ensinou a tirar algum proveito de tudo o que é ruim, e que quando você tem fé e está preparada para enfrentar o que tem pela frente, as coisas acontecem. Meu passado me transformou em uma pessoa mais forte, e nada mais poderá me apavorar.

"Por exemplo, as pessoas me dizem, 'Você já se revelou, mostrou sua capacidade. Para que precisa do doutorado? É a mesma coisa que a escravidão". Eu não antevia os problemas. Para mim, o doutorado era uma outra jornada, nada fácil, mas sem dúvida não tão difícil quanto a minha viagem da Etiópia a Israel. Não creio que qualquer coisa possa chegar perto daquela experiência".

Como outros imigrantes, ela também sofreu humilhações de veteranos israelenses, mas resolveu que não ia perder tempo com insultos.   "A única vez que tive realmente dificuldade em sair da cama foi quando não aceitaram doações de sangue de etíopes, alegando que éramos portadores de AIDS. Não sabia como lidar com esse tipo de racismo e com a degradação de uma comunidade inteira. Senti que tinham nos manchado com uma tinta indelével, que jamais sairia. Foi como uma faca afiada enterrada nas costas, que dilacerou o sentido de pertinência, principalmente daqueles que pensavam estar integrados na sociedade israelense. Desde então, eu nem considero o fato de algum dia doar meu sangue".

ENTRE DOIS MUNDOS

A absorção de Yarden em Israel não foi fácil. A menina que não sabia ler nem escrever e foi enviada ao internato Mikve Yisrael, teve que absorver oito anos de estudos em apenas um. Quando seus amigos saíam para se divertir, ela se sentava com seus livros e revisava o material. Hoje admite que nunca teve infância: apenas nos últimos anos conseguiu preencher essa lacuna ao ler livros infantis. Na décima série suas aptidões tornaram-se patentes e ela foi considerada uma boa aluna. Mas sua ambição foi impulsionada, principalmente, após uma visita ao Instituto Weizman, em Rehovot.

Ela ainda se lembra do pânico que a tomou de assalto antes da viagem. "Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo: era algo totalmente fora desse mundo. Não podia me imaginar, a pastorinha da Etiópia, adentrando o templo das ciências. Depois de me reunir com os professores e alunos de lá, consegui me acalmar. Vi que eram seres humanos exatamente como eu, e jurei que algum dia também cursaria uma universidade. A idéia "não era algo caindo do céu", era algo atingível. Foi uma experiência construtiva que afetou toda a minha vida".

Ela desistiu de servir o exército, já que seus pais faziam objeção por questões religiosas e também porque suas energias seriam desviadas dos estudos acadêmicos. Iniciou os estudos em Criminologia, na Universidade Bar Ilan, sendo a primeira aluna etíope a estudar naquela universidade.   Tinha a intenção de resgatar jovens etíopes que se envolviam na criminalidade, o que a levou a trabalhar com delinqüentes juvenis. Durante esse período percebeu que a questão situava-se no estágio de formação da personalidade, antes da degradação no crime. Isso fez com que ela conseguisse impedir que essas crianças caíssem nessa armadilha.

Fez mestrado em orientação educacional na Universidade de Tel Aviv; sua tese versava sobre o Aproveitamento de Jovens Etíopes em Ciências e Tecnologia, com a qual recebeu notas altíssimas.   "Me dilacerava o coração ouvir os veteranos israelenses afirmar que não importava o quanto de dinheiro se investisse nas crianças etíopes, pois havia pouca chance de aprenderem alguma coisa.  Comecei minhas pesquisas com esse insulto gravado no meu coração, e fui analisar o que estava acontecendo no país. Descobri que os alunos etíopes nem mesmo constavam dos gráficos de aproveitamento de ciências e tecnologia, simplesmente porque eram tão poucos, mas quando recebiam ajuda escolar extra ou estudavam em classes de nível mais elevado obtinham índices semelhantes de sucesso.

"Desenvolvi um programa prático que ajudaria as crianças etíopes a entrar na universidade, expondo-os a experiências de ciências e de laboratório. A auto-confianca deles aumentou tanto que agora compreendem que qualquer coisa que desejarem será possível alcançar. O programa vem sendo realizado há quatro anos. Começamos com 40 alunos e agora já temos 400. Quando os vejo na universidade me lembro da minha visita ao Instituto Weizman e fico muito entusiasmada.   Acredito que se uma pessoa tem habilidades básicas de raciocínio, pode alcançar tudo o que desejar, não importa de onde venha".

Você alguma vez sentiu falta da infância tranqüila que tinha na Etiópia?

"Senti muito. Desejo encontrar algum equilíbrio entre a vida na Etiópia e o estilo de vida ocidental, aprender como tirar proveito do que tenho e relaxar, mas não consigo, o que me deixa louca. Concluí meu doutorado - por que preciso correr para fazer pós-doutorado e querer mais adrenalina? Por outro lado, gosto de testar os limites de minha capacidade".

Em resumo, você desertou a etíope Argoya e se tornou Yarden.

Sim e não. Estou feliz de poder usufruir esses dois mundos. Sinto que meu lugar é mais ou menos no centro, entre a cultura da Etiópia, de amor à bondade, paciência, valores de se doar, de família, e a cultura ocidental que envolve pressa, conquistas, alcançar e conseguir. Tento combinar esses dois mundos, mas às vezes é impossível. Sempre visito meus pais em Natania, nos fins de semana, porque   para mim é importante estar ligada às minhas raízes. Não consigo me desligar do meu passado e da minha cultura, é de lá que extraio minha forças. Vou à universidade usando minhas roupas etíopes e me sinto muito bem. Mesmo em Harvard, e particularmente em ocasiões especiais, usarei meu trajes etíopes. Faz parte da minha pessoa, não importa onde eu viva".
Ela cria sua filha como uma orgulhosa mãe etíope: alimenta a menina com pratos típicos etíopes, fala em amárico e toca música tradicional da Etiópia, não a de Idan Reichel, que não considera autêntica o suficiente. Entre os ursinhos e coelhinhos de pelúcia fez questão de colocar uma boneca negra, chamada Aneish, que significa "vamos ver você" em amárico. "Procurei uma boneca negra antes mesmo de Umma nascer, porque desejava que tivesse uma boneca parecida com que a mãe tinha quando criança. A boneca negra é uma parte natural de sua escolha de bonecas brancas, como qualquer outra menina israelense o faz".

Você visitou a Etiópia desde que chegou a Israel?

Fui há três anos para participar de um congresso sobre países em desenvolvimento. Quando saí da Etiópia não sabia o que era uma universidade, e agora retornei como representante de uma universidade, como uma pesquisadora judia, e que tem algo a dizer. Isso me deu um tremendo orgulho. Em um dos dias viajei ao norte e cheguei próximo do meu vilarejo. Não cheguei até lá porque era necessário andar muitas horas à pé: ainda hoje não há um ônibus para o vilarejo.   Senti muita pena, mas foi o mais próximo que consegui chegar. Vi crianças que eram pastores como eu tinha sido um dia, e adultos que trabalhavam na agricultura como meus pais, e pensei que qualquer um poderia chegar onde eu cheguei, se ao menos tivessem tido uma oportunidade. Não senti pena deles e não creio que suas vidas sejam tão difíceis: são felizes com o que têm e talvez tenham um maior senso de tranqüilidade do que eu.

"Eu sempre relembro que quando era criança nunca achava minha vida ruim. Por outro lado, gostaria que essas crianças fossem expostas às oportunidades que existem no mundo e que pudessem fazer suas próprias escolhas."
Yarden pensa agora sobre o futuro. Harvard, tem certeza, não será a última parada. Ela quer ser a primeira mulher etíope dirigindo a Faculdade de Educação da Universidade de Tel Aviv. Também quer ser a primeira catedrática etíope.  Política está fora de cogitação. Ela está muito mais interessada em viajar para a Lua e ver a terra lá de cima – além de ser mãe de mais três ou quatro filhos.


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