Israel: Estado laico nas măos de um império ortodoxo (Renata Malkes) -ReproduçăoTEL AVIV. Oito anos de estudos do judaísmo com o auxílio de um rabino conservador, uma conversăo ŕ religiăo perante uma corte rabínica, um banho ritual e uma cirurgia de circuncisăo conforme os preceitos da fé judaica năo foram suficientes para tornar o colombiano Carlos Kamcho, de 35 anos, um judeu legítimo. Vivendo em Israel desde 1998 com a esposa israelense e os dois filhos, Kamcho faz parte de um grupo de sete convertidos que há duas semanas apelaram ŕ Suprema Corte israelense para que o Estado reconheça sua conversăo e lhes conceda cidadania. A açăo, movida com auxílio do Movimento para o Judaísmo Progressivo de Israel, é mais uma tentativa de combater o monopólio ortodoxo do rigoroso Rabinato-Chefe sobre a vida religiosa do país. Israel é o único país do mundo que năo reconhece conversőes feitas pelas correntes reformistas e conservadoras do judaísmo. Quem năo se converte de acordo com o ritual ortodoxo năo pode ser considerado judeu, casar-se ou mesmo ser enterrado, tendo que buscar casamentos alternativos no exterior ou, em caso de morte, ser sepultado em cemitérios seculares no interior. ? Quando decidi me casar resolvi me converter para que nossos filhos tivessem uma educaçăo única. Minha esposa é judia. Passei anos estudando, dediquei-me, fiz todo o processo de conversăo, enfrentei o medo de ser circuncidado e me converti segundo o ritual conservador, mas nada adiantou. O Ministério do Interior năo me reconhece como judeu. Aqui sou um cidadăo de classe B. Sinto-me humilhado e discriminado pois nem me casar pude. Casei-me na Colômbia, pois em Israel năo há casamentos civis, só quem é considerado genuinamente judeu pode se casar. Esqueceram os direitos humanos neste país. Os rabinos também esqueceram que acreditamos no mesmo Deus ? diz Kamcho. Temor de que haja uma onda de conversőes De acordo com a advogada Nikole Maor, responsável pela açăo, as conversőes em Israel săo dificultadas por um impasse entre o governo secular e o Rabinato-Chefe, ortodoxo. Enquanto os ortodoxos usam razőes filosóficas e ideológicas para ser contra qualquer modernizaçăo da halacha (a lei judaica), temendo pela manutençăo da secular História do povo judeu, os governos israelenses se vęem de măos atadas devido a pressőes de partidos ortodoxos que sempre tęm alguma representatividade em governos de coalizăo. O medo de uma onda de conversőes motivadas apenas pelo interesse em receber a cidadania israelense e uma série de benefícios financeiros que ela dá aos novos imigrantes também atinge o governo. ? Falta em Israel uma lei que regulamente as conversőes. O governo tem medo de decidir e deixa a questăo nas măos de órgăos religiosos que chegam a fazer exigęncias fundamentalistas aos candidatos ŕ conversăo. A Justiça tenta decidir, mas cai na ineficięncia do governo. Há um vácuo que nos impede de resolver a situaçăo de milhares de convertidos. Já foram propostos comitęs especiais para analisar esses casos, mas estes nunca funcionaram. Acredito que temos boa chance de ganhar a açăo, pois alguém precisa parar de brincar com a religiăo e os sentimentos dessas pessoas. Espero que a Justiça decida e o Ministério do Interior acate a decisăo ? declarou a advogada. A briga pelo reconhecimento das conversőes liberais em Israel se arrasta há anos, mas pressőes políticas dos partidos de minoria religiosa năo permitem o fim do império ortodoxo. Em 2002, a batalha ganhou as manchetes dos jornais quando um grupo de convertidos recebeu na Suprema Corte o direito de ser reconhecido como judeu e de receber cidadania. Indignado com o que considera uma ?ameaça ao povo?, poucos dias após a decisăo do tribunal o deputado e entăo ministro do Interior Eli Yishai, do partido religioso sefaradita Shas, mandou abolir da carteira de identidade israelense o campo ?povo?, onde se registrava a ascendęncia dos diversos grupos étnicos que vivem no país, como judeus, árabes e druzos. Hoje, em vez da antiga classificaçăo, há apenas asteriscos. ? O registro foi abolido somente na identificaçăo, mas no Ministério do Interior sabe-se quem é judeu e quem năo é ? diz Yishai ao GLOBO. ? Eu năo podia deixar que năo-judeus levassem em sua carteira de identidade o título de judeu. Nosso povo tem milęnios de História e tradiçăo. Quem quiser se converter será bem-vindo, mas terá de passar por uma conversăo ortodoxa, de acordo com as leis religiosas, descansar no sábado, seguir as leis de alimentaçăo. Năo há judaísmo liberal ou conservador, apenas um judaísmo, o verdadeiro. As falsas conversőes săo uma ameaça ŕ História e ŕ continuaçăo do judaísmo e vou lutar contra isso até o fim. Erro que compromete demograficamente o Estado O mais recente boletim do Comitę Central de Estatística de Israel mostra que pelo menos 291 mil pessoas vivem no país como cidadăos israelenses sem serem reconhecidas como judias pelo Ministério do Interior. A maioria recebeu a cidadania após imigrar sob a Lei do Retorno, que dá a judeus ou descendentes de judeus até a terceira geraçăo o direito de imigrar para Israel. Nesses casos, apesar de outorgar a cidadania, o Estado reconhece como judeus somente os filhos de uma judia ou os convertidos pela corrente ortodoxa. Segundo Roni Brizon, deputado do partido secular Shinui, o problema das conversőes é um erro absurdo que compromete demograficamente o Estado. Ex-ortodoxo, há mais de 30 anos Brizon deixou de lado suas raízes religiosas para entrar na política defendendo o pluralismo religioso e a separaçăo entre Estado e religiăo. ? O judaísmo deve ser tratado como um tema social, cultural e étnico. Muitos vieram, estudaram História, religiăo, sabem falar o idioma hebraico, optaram por se unir ao povo judeu. É inaceitável que năo sejam considerados judeus ? diz Brizon. ? O governo sabe que está perdendo, mas năo tem coragem de se rebelar contra o império ortodoxo. Enquanto a populaçăo árabe cresce devido ŕ alta taxa de natalidade, o número de cidadăos oficialmente judeus diminui a cada ano e compromete o ideal sionista de um país judaico de maioria judaica. Os rabinos exigem absurdos dos candidatos ŕ conversăo. Imagine se o governo decide também controlar qual muçulmano reza cinco vezes por dia ou cumpre o Ramadă? Decepçőes e alternativas TEL AVIV. Apesar de apenas aproximadamente 20% da populaçăo israelense ser composta de judeus ortodoxos, o Rabinato-Chefe é o único órgăo com poderes para autorizar a realizaçăo de casamentos em Israel. O ritual de casamento segue ŕ risca os preceitos da lei judaica. Os noivos tęm de ser comprovadamente judeus, a noiva tem de se declarar virgem, assistir a aulas de pureza familiar e tomar um banho ritual antes da cerimônia. No dia do casamento, ela năo pode assinar seu contrato de casamento e deve ouvir as bęnçăos do rabino em silęncio. A inexistęncia do casamento civil em Israel faz com que muitos casais comecem e terminem a saga rumo ŕ chupa (a tenda sob a qual acontece o rito do casamento judaico) no escritório do Rabinato-Chefe. A estudante Rivka, de 27 anos, desistiu da cerimônia religiosa quando foi informada pelo rabinato de que precisava apresentar provas de que era mesmo judia. Rivka emigrou para Israel com a família da extinta Uniăo Soviética aos 3 anos. Devido ao regime comunista, sua família năo tinha guardadas em casa as certidőes das bodas dos pais e dos avós, temendo perseguiçőes aos judeus. Rivka e o marido, Alexei, de 31 anos, fazem parte dos pelo menos 12 mil casais que escolheram se casar fora do país para escapar da ortodoxia. ? Fui humilhada. Exigiram documentos que năo tenho. Minha măe, minha avó e minha bisavó săo judias, mas năo temos como comprovar isso. Perguntaram se eu falava ídiche, queriam que eu trouxesse um rabino da Rússia que conhecesse minha família para que ele comprovasse que somos judeus. Depois de idas, vindas e muita decepçăo, conversei com meu noivo e decidimos năo nos submeter a toda essa desconfiança. Levamos um estilo de vida laico e năo gosto da cerimônia machista. Viajamos para Chipre, nos casamos no civil e só registramos nossa uniăo no Ministério do Interior na volta. É triste, mas foi a decisăo certa. Pelo menos escolhemos o casamento que queríamos e năo o que os ortodoxos queriam fazer ? conta a estudante. A ilha de Chipre é o destino mais comum para os casais que tentam driblar as exigęncias do rabinato israelense. Năo é preciso ser cidadăo do país para ter um casamento registrado e săo necessários apenas dois dias ? entre o procedimento na Justiça e a realizaçăo da cerimônia em cartório ? para concretizar o sonho do casório. Nos últimos anos, o aumento da procura de informaçőes sobre casamentos civis na ilha foi tăo grande que já se encontram pacotes turísticos de bodas em anúncios de jornais e revistas do país. ? Pelo menos dez casais nos procuram por męs. Oferecemos aos noivos um pacote de quatro dias com hotel e refeiçőes incluídas, além de um acompanhante que resolve toda a parte burocrática por cerca de US$ 1.400. Os noivos podem escolher se casar e depois fazer um passeio de barco, de jipe ou apenas aproveitar sua lua-de-mel num bom hotel antes de voltar a Israel. É cômodo e barato ? explica Dani Horovitz, gerente de marketing de uma agęncia de turismo em Tel Aviv. (Renata Malkes) Posted Israel: Estado laico nas măos de um império ortodoxo (Renata Malkes) -ReproduçăoTEL AVIV. Oito anos de estudos do judaísmo com o auxílio de um rabino conservador, uma conversăo ŕ religiăo perante uma corte rabínica, um banho ritual e uma cirurgia de circuncisăo conforme os preceitos da fé judaica năo foram suficientes para tornar o colombiano Carlos Kamcho, de 35 anos, um judeu legítimo. Vivendo em Israel desde 1998 com a esposa israelense e os dois filhos, Kamcho faz parte de um grupo de sete convertidos que há duas semanas apelaram ŕ Suprema Corte israelense para que o Estado reconheça sua conversăo e lhes conceda cidadania. A açăo, movida com auxílio do Movimento para o Judaísmo Progressivo de Israel, é mais uma tentativa de combater o monopólio ortodoxo do rigoroso Rabinato-Chefe sobre a vida religiosa do país. Israel é o único país do mundo que năo reconhece conversőes feitas pelas correntes reformistas e conservadoras do judaísmo. Quem năo se converte de acordo com o ritual ortodoxo năo pode ser considerado judeu, casar-se ou mesmo ser enterrado, tendo que buscar casamentos alternativos no exterior ou, em caso de morte, ser sepultado em cemitérios seculares no interior. ? Quando decidi me casar resolvi me converter para que nossos filhos tivessem uma educaçăo única. Minha esposa é judia. Passei anos estudando, dediquei-me, fiz todo o processo de conversăo, enfrentei o medo de ser circuncidado e me converti segundo o ritual conservador, mas nada adiantou. O Ministério do Interior năo me reconhece como judeu. Aqui sou um cidadăo de classe B. Sinto-me humilhado e discriminado pois nem me casar pude. Casei-me na Colômbia, pois em Israel năo há casamentos civis, só quem é considerado genuinamente judeu pode se casar. Esqueceram os direitos humanos neste país. Os rabinos também esqueceram que acreditamos no mesmo Deus ? diz Kamcho. Temor de que haja uma onda de conversőes De acordo com a advogada Nikole Maor, responsável pela açăo, as conversőes em Israel săo dificultadas por um impasse entre o governo secular e o Rabinato-Chefe, ortodoxo. Enquanto os ortodoxos usam razőes filosóficas e ideológicas para ser contra qualquer modernizaçăo da halacha (a lei judaica), temendo pela manutençăo da secular História do povo judeu, os governos israelenses se vęem de măos atadas devido a pressőes de partidos ortodoxos que sempre tęm alguma representatividade em governos de coalizăo. O medo de uma onda de conversőes motivadas apenas pelo interesse em receber a cidadania israelense e uma série de benefícios financeiros que ela dá aos novos imigrantes também atinge o governo. ? Falta em Israel uma lei que regulamente as conversőes. O governo tem medo de decidir e deixa a questăo nas măos de órgăos religiosos que chegam a fazer exigęncias fundamentalistas aos candidatos ŕ conversăo. A Justiça tenta decidir, mas cai na ineficięncia do governo. Há um vácuo que nos impede de resolver a situaçăo de milhares de convertidos. Já foram propostos comitęs especiais para analisar esses casos, mas estes nunca funcionaram. Acredito que temos boa chance de ganhar a açăo, pois alguém precisa parar de brincar com a religiăo e os sentimentos dessas pessoas. Espero que a Justiça decida e o Ministério do Interior acate a decisăo ? declarou a advogada. A briga pelo reconhecimento das conversőes liberais em Israel se arrasta há anos, mas pressőes políticas dos partidos de minoria religiosa năo permitem o fim do império ortodoxo. Em 2002, a batalha ganhou as manchetes dos jornais quando um grupo de convertidos recebeu na Suprema Corte o direito de ser reconhecido como judeu e de receber cidadania. Indignado com o que considera uma ?ameaça ao povo?, poucos dias após a decisăo do tribunal o deputado e entăo ministro do Interior Eli Yishai, do partido religioso sefaradita Shas, mandou abolir da carteira de identidade israelense o campo ?povo?, onde se registrava a ascendęncia dos diversos grupos étnicos que vivem no país, como judeus, árabes e druzos. Hoje, em vez da antiga classificaçăo, há apenas asteriscos. ? O registro foi abolido somente na identificaçăo, mas no Ministério do Interior sabe-se quem é judeu e quem năo é ? diz Yishai ao GLOBO. ? Eu năo podia deixar que năo-judeus levassem em sua carteira de identidade o título de judeu. Nosso povo tem milęnios de História e tradiçăo. Quem quiser se converter será bem-vindo, mas terá de passar por uma conversăo ortodoxa, de acordo com as leis religiosas, descansar no sábado, seguir as leis de alimentaçăo. Năo há judaísmo liberal ou conservador, apenas um judaísmo, o verdadeiro. As falsas conversőes săo uma ameaça ŕ História e ŕ continuaçăo do judaísmo e vou lutar contra isso até o fim. Erro que compromete demograficamente o Estado O mais recente boletim do Comitę Central de Estatística de Israel mostra que pelo menos 291 mil pessoas vivem no país como cidadăos israelenses sem serem reconhecidas como judias pelo Ministério do Interior. A maioria recebeu a cidadania após imigrar sob a Lei do Retorno, que dá a judeus ou descendentes de judeus até a terceira geraçăo o direito de imigrar para Israel. Nesses casos, apesar de outorgar a cidadania, o Estado reconhece como judeus somente os filhos de uma judia ou os convertidos pela corrente ortodoxa. Segundo Roni Brizon, deputado do partido secular Shinui, o problema das conversőes é um erro absurdo que compromete demograficamente o Estado. Ex-ortodoxo, há mais de 30 anos Brizon deixou de lado suas raízes religiosas para entrar na política defendendo o pluralismo religioso e a separaçăo entre Estado e religiăo. ? O judaísmo deve ser tratado como um tema social, cultural e étnico. Muitos vieram, estudaram História, religiăo, sabem falar o idioma hebraico, optaram por se unir ao povo judeu. É inaceitável que năo sejam considerados judeus ? diz Brizon. ? O governo sabe que está perdendo, mas năo tem coragem de se rebelar contra o império ortodoxo. Enquanto a populaçăo árabe cresce devido ŕ alta taxa de natalidade, o número de cidadăos oficialmente judeus diminui a cada ano e compromete o ideal sionista de um país judaico de maioria judaica. Os rabinos exigem absurdos dos candidatos ŕ conversăo. Imagine se o governo decide também controlar qual muçulmano reza cinco vezes por dia ou cumpre o Ramadă? Decepçőes e alternativas TEL AVIV. Apesar de apenas aproximadamente 20% da populaçăo israelense ser composta de judeus ortodoxos, o Rabinato-Chefe é o único órgăo com poderes para autorizar a realizaçăo de casamentos em Israel. O ritual de casamento segue ŕ risca os preceitos da lei judaica. Os noivos tęm de ser comprovadamente judeus, a noiva tem de se declarar virgem, assistir a aulas de pureza familiar e tomar um banho ritual antes da cerimônia. No dia do casamento, ela năo pode assinar seu contrato de casamento e deve ouvir as bęnçăos do rabino em silęncio. A inexistęncia do casamento civil em Israel faz com que muitos casais comecem e terminem a saga rumo ŕ chupa (a tenda sob a qual acontece o rito do casamento judaico) no escritório do Rabinato-Chefe. A estudante Rivka, de 27 anos, desistiu da cerimônia religiosa quando foi informada pelo rabinato de que precisava apresentar provas de que era mesmo judia. Rivka emigrou para Israel com a família da extinta Uniăo Soviética aos 3 anos. Devido ao regime comunista, sua família năo tinha guardadas em casa as certidőes das bodas dos pais e dos avós, temendo perseguiçőes aos judeus. Rivka e o marido, Alexei, de 31 anos, fazem parte dos pelo menos 12 mil casais que escolheram se casar fora do país para escapar da ortodoxia. ? Fui humilhada. Exigiram documentos que năo tenho. Minha măe, minha avó e minha bisavó săo judias, mas năo temos como comprovar isso. Perguntaram se eu falava ídiche, queriam que eu trouxesse um rabino da Rússia que conhecesse minha família para que ele comprovasse que somos judeus. Depois de idas, vindas e muita decepçăo, conversei com meu noivo e decidimos năo nos submeter a toda essa desconfiança. Levamos um estilo de vida laico e năo gosto da cerimônia machista. Viajamos para Chipre, nos casamos no civil e só registramos nossa uniăo no Ministério do Interior na volta. É triste, mas foi a decisăo certa. Pelo menos escolhemos o casamento que queríamos e năo o que os ortodoxos queriam fazer ? conta a estudante. A ilha de Chipre é o destino mais comum para os casais que tentam driblar as exigęncias do rabinato israelense. Năo é preciso ser cidadăo do país para ter um casamento registrado e săo necessários apenas dois dias ? entre o procedimento na Justiça e a realizaçăo da cerimônia em cartório ? para concretizar o sonho do casório. Nos últimos anos, o aumento da procura de informaçőes sobre casamentos civis na ilha foi tăo grande que já se encontram pacotes turísticos de bodas em anúncios de jornais e revistas do país. ? Pelo menos dez casais nos procuram por męs. Oferecemos aos noivos um pacote de quatro dias com hotel e refeiçőes incluídas, além de um acompanhante que resolve toda a parte burocrática por cerca de US$ 1.400. Os noivos podem escolher se casar e depois fazer um passeio de barco, de jipe ou apenas aproveitar sua lua-de-mel num bom hotel antes de voltar a Israel. É cômodo e barato ? explica Dani Horovitz, gerente de marketing de uma agęncia de turismo em Tel Aviv. (Renata Malkes) Posted Israel: Estado laico nas măos de um império ortodoxo (Renata Malkes) -ReproduçăoTEL AVIV. Oito anos de estudos do judaísmo com o auxílio de um rabino conservador, uma conversăo ŕ religiăo perante uma corte rabínica, um banho ritual e uma cirurgia de circuncisăo conforme os preceitos da fé judaica năo foram suficientes para tornar o colombiano Carlos Kamcho, de 35 anos, um judeu legítimo. Vivendo em Israel desde 1998 com a esposa israelense e os dois filhos, Kamcho faz parte de um grupo de sete convertidos que há duas semanas apelaram ŕ Suprema Corte israelense para que o Estado reconheça sua conversăo e lhes conceda cidadania. A açăo, movida com auxílio do Movimento para o Judaísmo Progressivo de Israel, é mais uma tentativa de combater o monopólio ortodoxo do rigoroso Rabinato-Chefe sobre a vida religiosa do país. Israel é o único país do mundo que năo reconhece conversőes feitas pelas correntes reformistas e conservadoras do judaísmo. Quem năo se converte de acordo com o ritual ortodoxo năo pode ser considerado judeu, casar-se ou mesmo ser enterrado, tendo que buscar casamentos alternativos no exterior ou, em caso de morte, ser sepultado em cemitérios seculares no interior. ? Quando decidi me casar resolvi me converter para que nossos filhos tivessem uma educaçăo única. Minha esposa é judia. Passei anos estudando, dediquei-me, fiz todo o processo de conversăo, enfrentei o medo de ser circuncidado e me converti segundo o ritual conservador, mas nada adiantou. O Ministério do Interior năo me reconhece como judeu. Aqui sou um cidadăo de classe B. Sinto-me humilhado e discriminado pois nem me casar pude. Casei-me na Colômbia, pois em Israel năo há casamentos civis, só quem é considerado genuinamente judeu pode se casar. Esqueceram os direitos humanos neste país. Os rabinos também esqueceram que acreditamos no mesmo Deus ? diz Kamcho. Temor de que haja uma onda de conversőes De acordo com a advogada Nikole Maor, responsável pela açăo, as conversőes em Israel săo dificultadas por um impasse entre o governo secular e o Rabinato-Chefe, ortodoxo. Enquanto os ortodoxos usam razőes filosóficas e ideológicas para ser contra qualquer modernizaçăo da halacha (a lei judaica), temendo pela manutençăo da secular História do povo judeu, os governos israelenses se vęem de măos atadas devido a pressőes de partidos ortodoxos que sempre tęm alguma representatividade em governos de coalizăo. O medo de uma onda de conversőes motivadas apenas pelo interesse em receber a cidadania israelense e uma série de benefícios financeiros que ela dá aos novos imigrantes também atinge o governo. ? Falta em Israel uma lei que regulamente as conversőes. O governo tem medo de decidir e deixa a questăo nas măos de órgăos religiosos que chegam a fazer exigęncias fundamentalistas aos candidatos ŕ conversăo. A Justiça tenta decidir, mas cai na ineficięncia do governo. Há um vácuo que nos impede de resolver a situaçăo de milhares de convertidos. Já foram propostos comitęs especiais para analisar esses casos, mas estes nunca funcionaram. Acredito que temos boa chance de ganhar a açăo, pois alguém precisa parar de brincar com a religiăo e os sentimentos dessas pessoas. Espero que a Justiça decida e o Ministério do Interior acate a decisăo ? declarou a advogada. A briga pelo reconhecimento das conversőes liberais em Israel se arrasta há anos, mas pressőes políticas dos partidos de minoria religiosa năo permitem o fim do império ortodoxo. Em 2002, a batalha ganhou as manchetes dos jornais quando um grupo de convertidos recebeu na Suprema Corte o direito de ser reconhecido como judeu e de receber cidadania. Indignado com o que considera uma ?ameaça ao povo?, poucos dias após a decisăo do tribunal o deputado e entăo ministro do Interior Eli Yishai, do partido religioso sefaradita Shas, mandou abolir da carteira de identidade israelense o campo ?povo?, onde se registrava a ascendęncia dos diversos grupos étnicos que vivem no país, como judeus, árabes e druzos. Hoje, em vez da antiga classificaçăo, há apenas asteriscos. ? O registro foi abolido somente na identificaçăo, mas no Ministério do Interior sabe-se quem é judeu e quem năo é ? diz Yishai ao GLOBO. ? Eu năo podia deixar que năo-judeus levassem em sua carteira de identidade o título de judeu. Nosso povo tem milęnios de História e tradiçăo. Quem quiser se converter será bem-vindo, mas terá de passar por uma conversăo ortodoxa, de acordo com as leis religiosas, descansar no sábado, seguir as leis de alimentaçăo. Năo há judaísmo liberal ou conservador, apenas um judaísmo, o verdadeiro. As falsas conversőes săo uma ameaça ŕ História e ŕ continuaçăo do judaísmo e vou lutar contra isso até o fim. Erro que compromete demograficamente o Estado O mais recente boletim do Comitę Central de Estatística de Israel mostra que pelo menos 291 mil pessoas vivem no país como cidadăos israelenses sem serem reconhecidas como judias pelo Ministério do Interior. A maioria recebeu a cidadania após imigrar sob a Lei do Retorno, que dá a judeus ou descendentes de judeus até a terceira geraçăo o direito de imigrar para Israel. Nesses casos, apesar de outorgar a cidadania, o Estado reconhece como judeus somente os filhos de uma judia ou os convertidos pela corrente ortodoxa. Segundo Roni Brizon, deputado do partido secular Shinui, o problema das conversőes é um erro absurdo que compromete demograficamente o Estado. Ex-ortodoxo, há mais de 30 anos Brizon deixou de lado suas raízes religiosas para entrar na política defendendo o pluralismo religioso e a separaçăo entre Estado e religiăo. ? O judaísmo deve ser tratado como um tema social, cultural e étnico. Muitos vieram, estudaram História, religiăo, sabem falar o idioma hebraico, optaram por se unir ao povo judeu. É inaceitável que năo sejam considerados judeus ? diz Brizon. ? O governo sabe que está perdendo, mas năo tem coragem de se rebelar contra o império ortodoxo. Enquanto a populaçăo árabe cresce devido ŕ alta taxa de natalidade, o número de cidadăos oficialmente judeus diminui a cada ano e compromete o ideal sionista de um país judaico de maioria judaica. Os rabinos exigem absurdos dos candidatos ŕ conversăo. Imagine se o governo decide também controlar qual muçulmano reza cinco vezes por dia ou cumpre o Ramadă? Decepçőes e alternativas TEL AVIV. Apesar de apenas aproximadamente 20% da populaçăo israelense ser composta de judeus ortodoxos, o Rabinato-Chefe é o único órgăo com poderes para autorizar a realizaçăo de casamentos em Israel. O ritual de casamento segue ŕ risca os preceitos da lei judaica. Os noivos tęm de ser comprovadamente judeus, a noiva tem de se declarar virgem, assistir a aulas de pureza familiar e tomar um banho ritual antes da cerimônia. No dia do casamento, ela năo pode assinar seu contrato de casamento e deve ouvir as bęnçăos do rabino em silęncio. A inexistęncia do casamento civil em Israel faz com que muitos casais comecem e terminem a saga rumo ŕ chupa (a tenda sob a qual acontece o rito do casamento judaico) no escritório do Rabinato-Chefe. A estudante Rivka, de 27 anos, desistiu da cerimônia religiosa quando foi informada pelo rabinato de que precisava apresentar provas de que era mesmo judia. Rivka emigrou para Israel com a família da extinta Uniăo Soviética aos 3 anos. Devido ao regime comunista, sua família năo tinha guardadas em casa as certidőes das bodas dos pais e dos avós, temendo perseguiçőes aos judeus. Rivka e o marido, Alexei, de 31 anos, fazem parte dos pelo menos 12 mil casais que escolheram se casar fora do país para escapar da ortodoxia. ? Fui humilhada. Exigiram documentos que năo tenho. Minha măe, minha avó e minha bisavó săo judias, mas năo temos como comprovar isso. Perguntaram se eu falava ídiche, queriam que eu trouxesse um rabino da Rússia que conhecesse minha família para que ele comprovasse que somos judeus. Depois de idas, vindas e muita decepçăo, conversei com meu noivo e decidimos năo nos submeter a toda essa desconfiança. Levamos um estilo de vida laico e năo gosto da cerimônia machista. Viajamos para Chipre, nos casamos no civil e só registramos nossa uniăo no Ministério do Interior na volta. É triste, mas foi a decisăo certa. Pelo menos escolhemos o casamento que queríamos e năo o que os ortodoxos queriam fazer ? conta a estudante. A ilha de Chipre é o destino mais comum para os casais que tentam driblar as exigęncias do rabinato israelense. Năo é preciso ser cidadăo do país para ter um casamento registrado e săo necessários apenas dois dias ? entre o procedimento na Justiça e a realizaçăo da cerimônia em cartório ? para concretizar o sonho do casório. Nos últimos anos, o aumento da procura de informaçőes sobre casamentos civis na ilha foi tăo grande que já se encontram pacotes turísticos de bodas em anúncios de jornais e revistas do país. ? Pelo menos dez casais nos procuram por męs. Oferecemos aos noivos um pacote de quatro dias com hotel e refeiçőes incluídas, além de um acompanhante que resolve toda a parte burocrática por cerca de US$ 1.400. Os noivos podem escolher se casar e depois fazer um passeio de barco, de jipe ou apenas aproveitar sua lua-de-mel num bom hotel antes de voltar a Israel. É cômodo e barato ? explica Dani Horovitz, gerente de marketing de uma agęncia de turismo em Tel Aviv. (Renata Malkes) |
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Magal
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