Documentário vai combater os que negam Holocausto, diz Spielberg
Por Ron Popeski
KIEV (Reuters) - Um documentário baseado em depoimentos de sobreviventes do
Holocausto na Ucrânia vai ajudar a combater as versões de ativistas que
procuram desmentir a tentativa de eliminar os judeus da Europa, disse na
quarta-feira o cineasta norte-americano Steven Spielberg.
Spielberg, cujos avós vieram da Ucrânia, co-produziu o documentário "Spell
Your Name" e assistiu a sua estréia depois de fazer uma visita a Babiy Yar,
o local próximo ao centro de Kiev onde, em setembro de 1941, os nazistas
massacraram mais de 33 mil judeus em dois dias.
"Para criar uma visão inegável do Holocausto, é preciso que esses
sobreviventes -- 52 mil deles -- sejam mostrados a estudantes em todo o
mundo", disse Spielberg em coletiva de imprensa.
"A tolerância nasce da educação. Tudo vem daquilo que aprendemos. Tudo
depende de quem são nossos professores. Todo o ódio nasce do medo. Passamos
por um século de medo, e receio que estejamos ingressando em outro século
de medo intensificado."
O filme, co-produzido com o industrial ucraniano Viktor Pinchuk, reúne
depoimentos dilacerantes de judeus que sobreviveram ao Holocausto e de
ucranianos que os protegeram.
Yuri Pinchuk relata como viu sua mãe pela última vez num gueto, depois de
ela ter ajudado a orquestrar sua saída do país em segurança. Polina
Belskaya descreve como emergiu de uma vala comum.
Irina Maksimova estremece ao recordar de um soldado alemão que tirou de um
caminhão um bebê que chorava, esmagou sua cabeça e atirou o cadáver de
volta para dentro do veículo. Ela conta como sua família recebeu em sua
casa 16 judeus e os manteve escondidos.
O diretor do filme, Sergei Bukovsky, intercala os depoimentos com imagens
da vida em cidades e povoados, em diversas estações do ano.
VOLTA PARA CASA
Spielberg, em sua primeira viagem a um Estado ex-soviético, disse que seu
próprio pano de fundo familiar fez com que se sentisse muito em casa na
Ucrânia.
"Esta não é uma cultura que me é estrangeira, de maneira alguma. É uma
cultura muito familiar. Desembarquei do avião hoje e disse 'estou em
casa!"', disse ele.
"Fui criado numa casa em que meus avós só falavam russo e iídiche. Eu
sentia que tinha um pedaço da Ucrânia em minha casa, especialmente na hora
do jantar."
Spielberg disse que a exibição do filme vai ajudar a aumentar a compreensão
do Holocausto na Ucrânia, onde as versões soviéticas da história diminuíram
a escala do que aconteceu. Ele explorou o tema do Holocausto em seu filme
aclamado "A Lista de Schindler".
O diretor disse que se sentiu comovido com a visita a Babiy Yar, um dos
primeiros locais de matanças em massa na guerra, onde os nazistas mandaram
os judeus de Kiev se reunirem, dez dias depois de tomarem a cidade.
Nenhum monumento marcava o local do massacre até a década de 1970, e foi
apenas com o fim do domínio soviético que foi erguido um monumento às
vítimas judias. Ciganos, membros da resistência antinazista e outras
vítimas foram fuziladas no local mais tarde, em número total que se
acredita superar os 100 mil.
"Para ser franco, tenho sentimentos mistos, porque o epicentro de Babiy Yar
é hoje uma estação ferroviária", disse Spielberg.
"Tive muita dificuldade em visualizar a aparência desse lugar 60 anos atrás
e entender por que ele mudou tanto. Então pude ver algumas fotos em livros,
me situar geograficamente e ir aos monumentos."