Haniya, do Hamas, e Abbas, do Fatah, têm visões opostas
O reconhecimento de Israel continua sendo o item da pauta palestina que impede a formação de um governo de unidade nacional.
Sem essa peça-chave no quebra-cabeças palestino, é difícil ver como a ajuda financeira internacional – da qual a região precisa desesperadamente – será retomada.
Para o Hamas, o reconhecimento de Israel é uma questão de teologia.
A carta régia do Hamas afirma: “O Movimento de Resistência Islâmica acredita que a terra da Palestina é um Waqf (dote) Islâmico consagrado a gerações muçulmanas futuras até o dia do Julgamento Final. Ela, ou qualquer parte dela, não deve ser dissipada; ela, ou qualquer parte dela, não deve ser doada.”
Nas Nações Unidas, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, insistiu que o governo palestino de unidade nacional, que ele está tentando construir e que incluiria o Hamas, reconheceria Israel.
É difícil entender no que Abbas se baseou para fazer essa afirmação. Em poucas horas, uma autoridade do primeiro escalão do Hamas repetiu a oposição firme da organização ao reconhecimento de Israel.
Atraso
Por meses, o Fatah, liderado por Abbas, e o Hamas têm tentado achar uma solução para o problema. Na segunda semana de setembro eles anunciaram um acordo sobre o governo de unidade nacional.
Na ocasião, no entanto, a questão sobre Israel não foi discutida. Está claro que se este item não for solucionado, a ajuda financeira não voltará.
Até agora, o governo não foi formado. Pode haver mais algum tema nos bastidores das negociações?
Locais como Gaza sofrem sem ajuda financeira internacional
Nesta semana, o quarteto que negocia a questão do Oriente Médio - Estados Unidos, União Européia, Nações Unidas e Rússia – divulgou uma nota que foi interpretada por alguns como uma mudança de postura.
O Hamas acredita que o quarteto está aliviando a pressão sobre o reconhecimento de Israel. O governo israelense, porém, entende que não houve mudanças.
Condições desesperadoras
Parece claro que muitas autoridades na Europa e nas Nações Unidas estão descontentes com o boicote ocidental ao Hamas.
A maior parte dos salários do governo palestino não é paga há meses, privando a economia do país de recursos. As condições são desesperadoras, sobretudo em Gaza.
Então, palavras poderiam acabar com o bloqueio?
Uma forma seria o reconhecimento de Israel por parte do novo governo, mas não pelo Hamas.
Mas, no estágio atual de negociações, o novo governo seria justamente liderado pelo primeiro-ministro Ismail Haniya, do Hamas. Essa alternativa o colocaria em uma posição impossível.
Outra dúvida que surge é: os europeus estariam preparados para doar dinheiro caso o ministério das Finanças não seja controlado pelo Hamas?
É difícil entender como isso poderia ser compatível com a demanda do governo palestino para que reconheça Israel.
Então, o Hamas concordaria com uma redação mais ambígua sobre o tema?
Uma autoridade do Fatah sugeriu que o Hamas possa concordar em aceitar acordos firmados pela Organização pela Liberação da Palestina (OLP) que reconhecem Israel.
Isso evitaria que o Hamas tivesse que fazer o reconhecimento diretamente.
É o tipo de solução que não agrada nem a israelenses, nem a americanos, mas pode ser suficiente para fazer com que europeus retomem os repasses de dinheiro.
No momento, no entanto, tudo parece ser apenas um desejo distante.