Alemanha diz a Ahmadinejad que Holocausto não é um mito
Berlim - A câmara baixa do Parlamento da Alemanha (Bundestag) disse hoje ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que o Holocausto não foi um mito, condenou seu empenho em questionar o Estado de Israel e alertou que a Alemanha tem a obrigação de defender o direito à sua existência.
Todos os partidos se uniram e aprovaram uma resolução de condenação contra Ahmadinejad.
A declaração do presidente iraniano fere os princípios do Direito Internacional e também "a experiência histórica dos séculos XX e XXI", sustenta a declaração, aprovada por unanimidade.
Os ataques verbais e anti-semitas de Ahmadinejad são "absolutamente inaceitáveis", já que não só questionam "o direito à existência do Estado de Israel", como negam a verdade histórica do Holocausto.
A defesa do Estado de Israel é "uma obrigação da Alemanha", prossegue a resolução, como é dever de todo Governo desse país "responder com energia a toda política que o questione e negue o Holocausto".
Essa foi a resposta do Bundestag ao pronunciamento do presidente iraniano, que nesta semana chamou de "mito" o Holocausto e sugeriu a transferência de Israel para a Europa, já que o Ocidente é responsável pela criação do Estado.
As reações na Alemanha foram dos enérgicos protestos da comunidade judaica ao unânime repúdio expressado nesta semana pela chanceler Angela Merkel, que considerou o ataque inadmissível e pediu uma condenação internacional que se comprometeu a defender na cúpula da União Européia (UE).
Antes e durante a sessão parlamentar de hoje, representantes dos governistas CDU e SPD se pronunciaram a favor de medidas concretas, além da condenação unânime.
A deputada da União Democrata-Cristã (CDU) e presidente da Associação de Expulsos Alemães, Erika Steinbach, que representa os milhões de deportados alemãos do leste da Europa após a II Guerra Mundial, chamou de "intolerável" o propósito de Ahmadinejad.
Entre os Verdes, Volker Beck disse que a resposta deve ser rever as relações diplomáticas e comerciais com o Irã, até que o país se comporte como um membro "normal" da comunidade internacional.
O vice-presidente da comissão de Exteriores do Parlamento, Hans Ulrich Klose, do Partido Social-Democrata (SPD), alertou que as declarações de Ahmadinejad representam um "desafio" para a ONU, já que "o Estado de Israel foi fundado com o apoio de uma resolução" das Nações Unidas.
Ontem, o ministro de Exteriores, Frank-Walter Steinmeier aproveitou um discurso no Parlamento para advertir Teerã de que as declarações do presidente "dificultam as negociações sobre o programa nuclear". "A paciência da comunidade internacional não é ilimitada", acrescentou Steinmeier.
A Alemanha forma, com a França e o Reino Unido, o grupo de países que vem negociando há anos com o Irã uma solução para o conflito sobre o programa nuclear do país.
Além da resolução parlamentar, as palavras do ultraconservador presidente iraniano inspiraram manchetes alarmistas da imprensa popular, que vislumbra uma ameaça atômica concreta contra a Europa e Israel.
A médio prazo, o Irã disporá de mísseis atômicos preparados para alcançar a Europa, informava hoje o jornal alemão Bild, que citou um relatório interno dos serviços secretos alemães.
De acordo com a publicação, o regime de Teerã teria adquirido da Coréia do Norte 18 unidades de mísseis móveis do tipo BM-25 com raio de ação de 2.500 quilômetros.
Os projéteis poderiam ser usados para alcançar Israel, Alemanha e outras partes da Europa, destaca o jornal, que lembra os planos atômicos do Irã.