2º Tenente R/2 da Infantaria Brasileira - Herói da II Guerra Mundial
Israel Blajberg - 15/04/05
2005 é um ano jubilar para o mundo, marcando 60 anos do Dia V-E (Vitória Aliada na Europa). No Brasil, entre muitas solenidades haverá em 1º de maio uma homenagem no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro aos Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial.
O numero exato jamais será conhecido. D_us sabe os seus nomes. Uma Comissão se formou para levantar os brasileiros de fé judaica que participaram das operações bélicas contra a Alemanha Nazista.
Até agora (março de 2005) quase 40 nomes foram arrolados, representando um percentual elevado para a comunidade judaica da época, nucleada em imigrantes, portanto dispensados do Serviço Militar.
Assim, foram os filhos desta geração de imigrantes que voluntariamente acorreram ao chamado da Pátria que acolhera seus pais e avós.
Durante a cerimônia no Grande Templo haverá uma nominata de todos os ex-combatentes judeus, ao mesmo tempo em que uma Banda Militar executará a Canção do Expedicionário.
Como forma de divulgar para as novas gerações quem foram aqueles bravos soldados, seus principais dados biográficos se recordam em pequenos textos como este, abordando um dos nossos bravos Soldados Brasileiros de fé judaica.
Salomão Malina nasceu aos 16-5-1922 no Rio de Janeiro. Em princípios do séc.XX, seus pais emigraram de Lodz, cidade industrial na Polônia, onde florescia importante comunidade judaica, que poucos anos depois seria exterminada pelo ódio.
Na longa viagem de navio jamais poderiam eles sequer imaginar, mas um dia a chegada de um menino viria alegrar a casa humilde, e estava escrito que este menino seria um pensador, e mais que isso, unindo a ação às palavras e fazendo o caminho inverso dos imigrantes, por vontade própria iria lutar de arma na mão contra aqueles mesmos nazi-fascistas inimigos da Humanidade que tentavam destruir as raízes do seu povo.
A família foi morar na Praça XI, a rua judaica humilde da época. Ali perto, Salomão estudou no Colégio Pedro II e cursou o CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, de onde saiu Aspirante-a-Oficial da Arma de Infantaria.
Na FEB foi incorporado ao 11º. Regimento de Infantaria de São João dEl Rey, hoje o 11º. Batalhão de Infantaria de Montanha, tendo comandado o Pelotão de Minas, função natural para quem havia sido mandado fazer um curso de especialização nos Estados Unidos antes da Guerra nesta área.
As minas alemãs custaram à FEB um grande número de vítimas, entre mortos e mutilados. Em atividade extremamente perigosa, detectando e desativando artefatos e boby-traps, Salomão Malina e seus comandados contribuíram para evitar maior perda de preciosas vidas brasileiras. Em reconhecimento, o Presidente da Republica outorgou-lhe a Medalha da Cruz de Combate de 1a. Classe, com a qual apenas poucos integrantes da FEB foram agraciados, por atos individuais de bravura. Malina recebeu ainda a Medalha de Guerra e a Medalha de Campanha.
Em extensa citação no diploma, Malina é louvado pela coragem com que comandou seu pelotão, abrindo caminho para a passagem da Infantaria no eixo de ataque através de terreno minado, sob pesado fogo da artilharia e de morteiros alemães, durante o avanço do Regimento para a conquista de Montese, uma das maiores glórias da FEB.
Salomão Malina estudou na então Escola Politécnica do Largo de São Francisco, depois Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, transferida para a Ilha do Fundão.
Na época, trabalhava em uma das maiores indústrias eletrônicas brasileiras, a Standard Electric, subsidiária da multinacional americana ITT International Telephone & Telegraph, que fabricava televisores e outros aparelhos no subúrbio carioca de Vicente de Carvalho. Planta que chegou a empregar milhares, esteve fechada durante 2 décadas até dar lugar a um moderno centro de compras, o Carioca Shopping próximo a estação do metrô.
A Associação dos Antigos Alunos da Politécnica inaugurou em dez/2004 em sua sede, no mesmo tradicional e centenário prédio da Politécnica no Largo de São Francisco, Alma Mater da Engenharia Brasileira, uma estatueta representando os expedicionários alunos da casa, de autoria de Da. Silvia Vaccani, antiga Professora da Casa, e esposa do eminente e também Professor Ernani da Motta Rezende.
Na singela peça escultórica, um soldado de arma na mão representa os nobres ideais daqueles estudantes, que em passeatas pediam ao Governo de Getulio Vargas que declarasse guerra ao Eixo, após o torpedeamento de tantos navios com perda de centenas de vidas de brasileiros inocentes.
Uma placa na parede recorda os nomes de nove bravos, onde figura Salomão Malina.
Os desígnios da vida impediram que Malina terminasse o curso de Engenharia. Ativista político, ele e sua família levaram uma vida atribulada, onde não raro foi perseguido, tendo que mudar de bairro, de cidade, ocultar-se, mudar de identidade.
Não fossem os inúmeros recortes de jornais que descrevem a sua trajetória, e cópias de documentos das autoridades policiais da época, judiciosamente colecionados pelo Arquivo Publico do Estado do Rio de Janeiro, teria sido difícil obter detalhes ou fotos da sua vida militar, de vez que as circunstâncias exigiam que fotos e documentos seus não ficassem guardados em casa.
Salomão Malina foi militante histórico, último Presidente do PCB e ao final da vida Presidente Honorário do PPS.
Antes de partir, vitimado por doença incurável de que padecia há longos anos, manifestou a vontade de ser enterrado como judeu. Toda vida conservou o Talit (Manto Ritual) com que cumpriu a cerimônia do Bar Mitzvah (maioridade religiosa aos 13 anos). A tradicional foto de Kipá (solidéu) e Talit que todo menino judeu tira neste dia consta do livro de memórias, lançado às vésperas de seu passamento.
Teve enterro judaico com velório na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde compareceram inúmeros representantes dos setores políticos e culturais da sociedade. Frisava que suas raízes eram autênticas, e não uma volta às origens, de vez que sempre viveu como israelita, jamais ocultando sua fé.
Este Soldado Brasileiro de fé judaica, incompreendido por uns, enaltecido por outros, mas sem dúvida um homem fiel às suas idéias, nos deixou em 2002 aos 80 anos.
Israel Blajberg é integrante da equipe que levanta os Heróis Brasileiros Judeus da II Guerra Mundial. Agradece a dedicação de muitos voluntários, como Fanny Lewin, Nelson Menda, Rosita Naidin, Silvia Gali e tantos outros que colaboraram fornecendo dados e informações.
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