Em quebra de tradição, EUA mantêm negociação direta com Hamas sobre reféns em Gaza, dizem autoridades
Grupo palestino é designado como organização terrorista por Washington há décadas
Combatentes do Hamas durante a entrega de reféns israelenses no mês passado — Foto: Saher Alghorra / The New York Times
A Casa Branca confirmou, nesta quarta-feira, que o enviado especial dos Estados Unidos Adam Boehler negociou diretamente com o Hamas sobre os reféns americanos em Gaza — rompendo uma tradicional política de Washington de se recusar a dialogar com grupos designados pelo país como organização terrorista. Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, "Israel foi consultado sobre essa questão".
— Procurar e conversar com pessoas ao redor do mundo para fazer o que é melhor para o povo americano é algo que o presidente acredita ser correto — disse Leavitt a repórteres.
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Adam Boehler, indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, como enviado especial para assuntos de reféns, participou das conversas esta semana com autoridades do Hamas, disse um diplomata familiarizado com as conversações, que falou ao New York Times sob anonimato.
O escopo das discussões não ficou claro, mas os mediadores têm procurado estender a atual trégua entre Israel e o Hamas e libertar os reféns restantes em Gaza. Acredita-se que cerca de 24 reféns vivos — incluindo Edan Alexander, um cidadão americano — e os corpos de pelo menos 35 outros ainda estejam presos em Gaza, de acordo com Israel.
As conversas secretas, confirmadas pela primeira vez pelo portal americano Axios, marcam um contraste significativo das negociações anteriores envolvendo os Estados Unidos e o Hamas, designado há décadas como grupo terrorista pelos EUA. Autoridades americanas, assim como suas contrapartes israelenses, geralmente confiam em mediadores para transmitir mensagens ao grupo, em vez de se sentarem com os líderes do Hamas.
Autoridades americanas e europeias acreditavam que a política de não contato com o Hamas isolasse e enfraquecesse o grupo depois que ele assumiu o controle da Faixa de Gaza, em 2007. Críticos frequentemente questionaram a eficácia do boicote, que continuou durante anos de impasse e pouca mudança aparente nas posições do Hamas.
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Desde que o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra em Gaza, mediadores, incluindo o Catar e o Egito, têm desempenhado papéis importantes na intermediação de esforços para acabar com os combates e libertar israelenses e outros reféns capturados pelos combatentes palestinos.
O Hamas e seus aliados sequestraram cerca de 250 pessoas durante o ataque ao sul de Israel, de acordo com o governo israelense. Mais de 100 foram libertados durante uma trégua de uma semana no final de 2023, enquanto outros 30 — e os corpos de mais oito — foram libertados no atual cessar-fogo, iniciado em janeiro.
Israel e o Hamas estão atualmente em um impasse sobre os termos da segunda fase do acordo atual: uma trégua abrangente que encerraria a guerra e libertaria os reféns vivos restantes ainda mantidos em Gaza.
Trump nomeou Boehler para atuar como enviado especial para assuntos de reféns no início de dezembro. Executivo do setor de saúde que ocupou cargos no seu primeiro governo, Boehler ainda não foi confirmado para o cargo pelo Senado dos EUA.
Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou ter sido consultado pela Casa Branca.
O Departamento de Estado se recusou comentar, e o Hamas não respondeu aos pedidos de comentários do Times.
Com New York Times e AFP