Sites falsos e enredo de cinema: investigação mostra detalhes de como Israel enganou o Hezbollah com um pager 'gordinho'
Foto de 18 de setembro de 2024 mostra restos de pagers que explodiram em Beirute, no Líbano — Foto: AFP
Inteligência articulou história para que produto ganhasse confiança no mercado, incluindo comentários de usuários na internet. Operação aproximou o Oriente Médio de uma guerra regional.
A discreta criação da bomba disfarçada de pager e a cobertura cuidadosamente elaborada para a bateria, ambas descritas aqui pela primeira vez, revelam detalhes de uma operação que durou anos. O resultado foram golpes sem precedentes contra o grupo extremista apoiado e na aproximação do Oriente Médio de uma guerra regional.
Israel conseguiu enganar Hezbollah para implantar pagers — Foto: Juan Silva/g1
Uma folha fina e quadrada com seis gramas de explosivo plástico pentaeritritol tetranitrato (PETN) foi espremida entre duas células retangulares de bateria, segundo a fonte libanesa e fotos.
O espaço restante entre as células da bateria não podia ser visto nas fotos, mas estava ocupado por uma tira de material altamente inflamável que atuava como detonador, disse a fonte.
Esse "sanduíche" de três camadas foi inserido em um bolso de plástico preto e encapsulado em uma carcaça de metal com aproximadamente o tamanho de uma caixa de fósforos, mostraram as fotos.
A montagem era incomum porque não dependia de um detonador miniaturizado padrão, normalmente um cilindro metálico, segundo a fonte e dois especialistas em bombas. Todos os três falaram sob condição de anonimato.
Sem componentes metálicos, o material usado para desencadear a detonação tinha uma vantagem: como os explosivos plásticos, não era detectado por raio-X.
Ao receber os pagers em fevereiro, o Hezbollah procurou a presença de explosivos, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto, colocando-os em scanners de segurança de aeroportos para ver se disparavam alarmes. Nada suspeito foi relatado.
Os dispositivos provavelmente foram configurados para gerar uma faísca dentro do compartimento de baterias, o suficiente para ativar o detonador e desencadear a explosão, disseram os dois especialistas em bombas, aos quais a Reuters mostrou o design da bomba-pager.
Como os explosivos e o invólucro ocupavam cerca de um terço do volume, o conjunto de baterias carregava uma fração da potência condizente com seu peso de 35 gramas, segundo dois especialistas em baterias.
"Há uma quantidade significativa de massa não contabilizada", disse Paul Christensen, especialista em baterias de lítio da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
Infográfico mostra bateria usada em pagers do Hezbollah — Foto: Juan Silva/g1
Em algum momento, o Hezbollah percebeu que a bateria estava se esgotando mais rápido do que o esperado, disse a fonte libanesa. No entanto, o problema não pareceu levantar grandes preocupações de segurança — o grupo ainda estava entregando os pagers a seus membros horas antes do ataque.
Em 17 de setembro, milhares de pagers explodiram simultaneamente nos subúrbios ao sul de Beirute e em outras fortalezas do Hezbollah. Na maioria dos casos, os dispositivos emitiram um sinal sonoro, indicando uma mensagem recebida.