A Torá afirma: "Estes são os animais que comereis de todo o quadrúpede que se acha sobre a Terra: todo o que tem o casco fendido e rachado ao meio e que rumina, entre os quadrúpedes, esse comereis. Mas estes não comereis dos que ruminam e tem o casco fendido: o camelo que rumina e não tem o casco fendido - impuro é ele para vós; e o coelho que rumina e não tem casco fendido - impuro é ele para vós; e a lebre que rumina e não tem casco fendido - impura é ela para vós; e o porco que tem casco e é fendido, mas não rumina - impuro é ele para vós" (Vayikra XI:2-7).

A Torá nos adverte claramente para quatro espécies de animais que contenham um ou outro dos itens relativos (ser ruminantes e ter o casco fendido) para não nos enganarmos e pensar que eles são casher. São eles o camelo (rumina mas não tem o casco fendido), o coelho (que rumina mas não tem o casco fendido), a lebre (que rumina mas não tem o casco fendido) e o porco (que tem casco fendido, mas não rumina)

É notável que, embora a Torá tenha sido outorgada há mais de 3300 anos, muito antes que os homens descobrissem novos continentes habitados por animais desconhecidos e criaturas estranhas de que nunca ouvira falar, a Torá já havia declarado que existem somente quatro animais com apenas uma das duas características! Novas espécies de animais foram descobertas que não possuíam nenhuma dessas características, mas nenhuma só espécie nova foi encontrada com apenas uma ou outra dessas duas características. Isto se explica pelo fato da Torá ter sido dada por D'us, que conhece todas as espécies de animais que criou.

Porque os ruminantes?

Ao se entreter demais com os prazeres terrenos e o cotidiano, em vez do homem elevar o mundo material e transformá-lo em santidade, a matéria pode rebaixá-lo a um nível inferior, fazendo com que deixe de cumprir momentaneamente a função da qual foi incumbido.

Portanto, a Torá ensina que, antes de desfrutar deste mundo, o homem deve pensar se, com seu ato, estará ou não cumprindo a vontade Divina. Por exemplo, antes de comer, deve recitar uma berachá; ao ingerir o alimento deve ter em mente que está comendo para ter forças suficientes para servir o Criador; e, finalmente, não esquecer a bênção posterior.

Isto é simbolizado pelo fato de que um animal casher deve ser ruminante, ou seja, antes de se aproveitar do alimento, o mastiga várias vezes. Assim, o homem deve "mastigar" dentro de si para saber como tirar proveito do alimento da forma mais digna.

Animais ruminantes são aqueles que mastigam o alimento e o fazem voltar do estômago para a boca. Bois, vacas, carneiros, cabras, antílopes, búfalos, veados e outros fazem parte deste grupo. Também pertencem a esta classificação o camelo, o coelho e a girafa.

Estes mamíferos herbívoros são caracterizados por uma espécie de estômago especial: em vez de um só compartimento, o estômago é duplo, com quatro cavidades: pança, barrete, folhoso e coagulador ou nas formas alatinadas: rúmen (razão pela qual são denominados ruminantes), retículo, saltério e abomaso. Digerem em duas fases: na primeira, depositam as ervas na pança e no barrete; na segunda, após algumas horas, fazem voltar alimento, mediante contrações semelhantes às do vômito, às partes altas do tubo digestivo, para então ser novamente deglutido, seguindo para o folhoso e o coagulador.

Estes possuem vantagens sobre os outros animais, pois o ruminante é capaz de engolir grandes quantidades de alimentos rapidamente e armazená-los no rúmen. Mais tarde, quando está à vontade, traz o alimento de volta à boca para mastigá-lo bem e, dessa forma, o digere melhor.

O Criador, em Sua infinita sabedoria, deu a eles essa vantagem por um motivo peculiar. Eles são herbívoros e precisam consumir grandes porções. Embora a maioria possua chifres, são quase indefesos diante de animais ferozes e predadores como o lobo, o tigre, o leão e outros. Por isso, precisam engolir o alimento rapidamente e estar prontos para fugir tão depressa quanto as suas patas possam levá-los, sempre que surgir algum perigo.

Naturalmente, os animais domésticos estão mais protegidos; porém, eles também precisam ingerir muita comida e engolem o alimento sem mastigar. Este entra no primeiro estômago e depois passa para o segundo. Quando o animal está em repouso traz de volta o alimento. agora já misturado e amaciado, à sua boca em forma de "pelotas" e o mastiga adequadamente. Cada bocado então, é engolido mais uma vez, e o alimento passa para o terceiro e o quarto compartimentos do seu estômago, onde o processo de digestão é concluído.

Casco fendido

Um animal é constantemente ligado ao mundo material por seus pés. Um animal casher, porém, tem o casco que o separa do chão e, por ser fendido, demonstra que sua ligação com o chão onde pisa não é demasiada. O mesmo ocorre com o peixe que, para ser casher, deve ter escamas envolvendo o corpo, separando-o do mundo exterior. Isto simboliza o acima dito, de que o comportamento ideal de um judeu é não se preocupar demais com o mundo material que o cerca.

O porco é um dos animais não-casher mais conhecidos. Possui um dos sinais de cashrut - o casco fendido - mas não é ruminante. Diz o Talmud que, sempre que se deita, o porco estica as patas para a frente, querendo mostrar que é casher; mas não é ruminante, deixando por isso de ser casher.

Também daqui podemos tirar uma lição de comportamento. Um dos piores defeitos do homem é o cinismo, ou seja, demonstrar exteriormente o que realmente não é. Isto pode ocorrer no meio judaico, quando a pessoa apresenta em público um comportamento que não é o seu verdadeiro, por vergonha ou orgulho. Tal comportamento deve ser completamente repelido.

Vários sábios contemporâneos apontam como principal causa da decadência espiritual e moral das últimas gerações justamente o fato de as leis de cashrut deixarem de ser observadas à risca por grande parte de nosso povo. Porém, ultimamente, com as facilidades que o mercado casher vem oferecendo e com o grande movimento de retorno desta geração, muitos voltaram a suas raízes, dando mais valor à dieta casher. Com certeza, isto acarretará a transformação benigna de nosso povo, preparando-nos para a época especial que tanto aguardamos.