Por Avraham Kushelevsky

Acredita-se geralmente que ciências naturais como física e química, que lidam com fenômenos materiais, estão baseadas em observações objetivas de experimentos controlados, ao passo que a religião, que lida com fenômenos espirituais, é inteiramente subjetiva e baseada somente na fé. Não admira, portanto, que qualquer aparente contradição entre religião e ciência seja resolvida num debate racional a favor da ciência e suas “provas”.

Esta atitude é muito superficial. A ciência não é menos uma questão de fé que de religião. A ciência presume que existem associações internas entre fenômenos sucessivos e, além disso, que a seqüência dos fenômenos é significativa. A ciência supõe que estas associações são regulares, constantes no tempo, e passíveis de serem descobertas através de uma série de observações durante um breve período. Similarmente, a ciência presume que estas associações têm validade universal, obtenível não apenas no laboratório mas em qualquer local do universo – o mesmo em nossa galáxia como em uma galáxia no outro lado do cosmos, o mesmo no passado recente e distante como em qualquer ponto no futuro infinito.

Aquele que diz: “Acredito somente naquilo que pode ser medido, e não confio na fé” é culpado de uma contradição fundamental em lógica

A ciência postula que determinadas leis definidas para massas de pontos sem dimensões, linhas sem largura, e intervalos de tempo infinitamente curtos incorporam a verdade objetiva sobre um mundo externo real. A ciência defende que as leis têm uma forma simples e se lhes for dado escolher, selecionam arbitrariamente a explicação simples, ao invés da complexa. Por exemplo, embora seja experimentalmente impossível distinguir entre uma lei operando de acordo com 1/r2 ou de acordo com 11/r200000025, a fórmula anterior é aceita como correta, por causa de sua simplicidade e apelo estético. Sem aceitar estes pressupostos, as ciências naturais como as conhecemos atualmente seriam impossíveis.

Estas são presunções razoáveis, mas não necessariamente verdadeiras a priori. Também não podem ser experimentalmente verificadas, pois o método experimental pressupõe sua verdade. Não estou criticando estas presunções. Estou apenas tentando enfatizar que sua aceitação é baseada na fé. Não é surpresa que tão recentemente quanto há cem anos na Inglaterra e Escócia as ciências naturais ainda fossem chamadas de filosofia. Aquele que diz: “Acredito somente naquilo que pode ser medido, e não confio na fé” é culpado de uma contradição fundamental em lógica. Ele não tem nada.

Por outro lado, o cientista religioso aceita estes pressupostos como uma parte integrante de seu modo religioso de ver o mundo. Considera a natureza como uma manifestação da sabedoria do Criador, e a ciência um meio de chegar mais perto d’Ele. Desde o primeiro olhar, a natureza mostra diferenciação, variedade e uma multiplicidade de fenômenos. A ciência, quando presume simplicidade e integração, na verdade aproxima mais o homem de D’us.

O indivíduo religioso espera encontrar leis, lógica, unidade e harmonia interna na natureza, refletindo a unidade do Criador e Sua sabedoria. Assim, ele acredita na existência de leis universais de movimento que governam tanto o movimento dos planetas quanto a queda de maçãs na Terra, antes mesmo de começar a pesquisar estas leis por observação e experimentação. A unidade da Criação leva a uma aceitação de uma profunda uniformidade interior na estrutura da matéria e na existência das leis de campo uniformes, embora tenham fracassado suas tentativas de descobri-las nas últimas décadas. Ele acredita que não há nada aleatório na natureza, e que todo fenômeno tem uma causa e um propósito.

Para aquele que crê, e especialmente para o judeu religioso, fé em D’us e fé na ciência são complementares. Mas para o cientista descrente, a ciência é um enigma sem solução.