“Em vĆ”rios momentos da histĆ³ria, inclusive agora, as pessoas pensaram que havia um conflito entre religiĆ£o e ciĆŖncia. Na Ć©poca de Galileu, quando a religiĆ£o era a mais forte das duas, a crenƧa religiosa era usada para rejeitar a ciĆŖncia. Hoje, quando a ciĆŖncia Ć© mais forte, Ć s vezes Ć© usada para rejeitar a religiĆ£o.
Na verdade, porĆ©m, toda essa ideia estĆ” equivocada.”

Em vĆ”rios momentos da histĆ³ria, inclusive agora, as pessoas pensaram que havia um conflito entre religiĆ£o e ciĆŖncia.

Na Ć©poca de Galileu, quando a religiĆ£o era a mais forte das duas, a crenƧa religiosa era usada para rejeitar a ciĆŖncia. Hoje, quando a ciĆŖncia Ć© mais forte, Ć s vezes costumava rejeitar a religiĆ£o.

Na verdade, porĆ©m, toda essa ideia estĆ” equivocada. ReligiĆ£o e ciĆŖncia sĆ£o coisas completamente diferentes, e nenhuma nega a outra. Elas sĆ£o tĆ£o diferentes quanto poesia e prosa, ou mĆŗsica e discurso, ou um retrato de uma pessoa e uma ressonĆ¢ncia magnĆ©tica.

A mente humana Ć© capaz de fazer duas coisas bem diferentes. Uma Ć© a capacidade de dividir as coisas em suas partes constituintes e ver como elas se entrelaƧam e interagem. Isso geralmente Ć© chamado de pensamento do “cĆ©rebro esquerdo”, e o melhor exemplo Ć© a ciĆŖncia.

A outra, muitas vezes chamada de “pensamento do lado direito do cĆ©rebro”, Ć© a capacidade de unir eventos para que eles contem uma histĆ³ria, ou de unir pessoas para que formem relacionamentos. O melhor exemplo disso Ć© a religiĆ£o.

Para simplificar: a ciĆŖncia desmonta as coisas para ver como elas funcionam. A religiĆ£o junta as coisas para ver o que elas significam. E precisamos dos dois, da mesma forma que precisamos dos dois hemisfĆ©rios do cĆ©rebro.

A ciĆŖncia Ć© sobre explicaĆ§Ć£o, religiĆ£o Ć© sobre interpretaĆ§Ć£o. A ciĆŖncia analisa, a religiĆ£o integra. A ciĆŖncia decompƵe as coisas em suas partes componentes; a religiĆ£o une as pessoas em relaƧƵes de confianƧa. A ciĆŖncia nos diz o que Ć©, a religiĆ£o nos diz o que deveria ser. A ciĆŖncia descreve; a religiĆ£o inspira, acena, chama.

Desapego das prĆ”ticas cientĆ­ficas; a religiĆ£o Ć© a arte do apego, de alma para alma. A ciĆŖncia vĆŖ a ordem subjacente do mundo fĆ­sico. A religiĆ£o ouve a mĆŗsica sob o barulho. A ciĆŖncia Ć© a conquista da ignorĆ¢ncia. A religiĆ£o Ć© a redenĆ§Ć£o da solidĆ£o.

Uma maneira de ver a diferenƧa Ć© pensar em sua relaĆ§Ć£o com o tempo. A ciĆŖncia procura as causas dos eventos, e uma causa sempre vem antes de seu efeito. Como a janela quebrou? Porque eu joguei uma pedra nela. Primeiro veio o arremesso da pedra, depois veio a quebra da janela. A ciĆŖncia olha para trĆ”s do efeito para a causa.

No entanto, a aĆ§Ć£o humana estĆ” sempre olhando para frente. Por que eu joguei a pedra? Porque eu queria acordar alguĆ©m que estava dormindo para avisar que o prĆ©dio ao lado estĆ” pegando fogo. Uma aĆ§Ć£o sempre procura trazer algo no futuro.

E Ć© aĆ­ que a religiĆ£o entra como nosso guia mais profundo para o futuro: a terra prometida, a era messiĆ¢nica, a visĆ£o dos profetas para os quais viajamos quando trabalhamos por um mundo em que as pessoas finalmente reconheƧam a imagem de D’us nas pessoas nĆ£o como eles, e assim pĆ“r fim Ć  violĆŖncia e Ć  guerra. Ou Ć s vezes Ć© sobre a vida eterna e o destino da alma apĆ³s a morte. De qualquer forma, a religiĆ£o nĆ£o Ć© sobre causas, mas sobre propĆ³sitos.

Por que entĆ£o precisamos de ciĆŖncia? Porque precisamos entender o mundo, se quisermos honrar os propĆ³sitos de D’us dentro dele. Precisamos entender a doenƧa para curĆ”-la. Precisamos entender as causas da pobreza se quisermos aliviĆ”-la. Precisamos entender nossos impulsos destrutivos se quisermos superĆ”-los.

E por que precisamos de religiĆ£o? Porque Ć© o que dĆ” sentido e propĆ³sito Ć  vida humana. O universo Ć© mais do que o resultado de uma flutuaĆ§Ć£o acidental no campo quĆ¢ntico no inĆ­cio dos tempos. A vida humana Ć© mais do que a consequĆŖncia nĆ£o intencional de mutaƧƵes genĆ©ticas aleatĆ³rias peneiradas cegamente pela seleĆ§Ć£o natural.

Assim como hĆ” algo dentro de nĆ³s que estĆ” alĆ©m do puramente fĆ­sico, tambĆ©m hĆ” algo dentro do universo – nĆ³s o chamamos de presenƧa Divina – que estĆ” alĆ©m do meramente material. E assim como D’us criou o universo em amor, justiƧa e compaixĆ£o, Ele nos convida a criar relacionamentos de amor, justiƧa e compaixĆ£o.

Ou, em outras palavras: a diferenƧa entre religiĆ£o e ciĆŖncia Ć© a diferenƧa entre o impessoal e o pessoal.

Quando vocĆŖ trata fenĆ“menos impessoais como se fossem pessoas, o resultado Ć© mito: a luz Ć© do deus sol, a chuva do deus cĆ©u, desastres naturais de batalhas entre os deuses e assim por diante. A ciĆŖncia nasceu quando as pessoas pararam de contar histĆ³rias sobre a natureza e, em vez disso, a observaram; em outras palavras, quando abandonaram o mito.

E quando vocĆŖ trata as pessoas de forma impessoal, como se fossem objetos, o resultado Ć© a desumanizaĆ§Ć£o: pessoas categorizadas por cor, classe ou credo e tratadas de forma diferente como resultado. A religiĆ£o da BĆ­blia nasceu quando as pessoas deixaram de ver as pessoas como objetos Ćŗteis ou inĆŗteis e passaram a ver cada indivĆ­duo como Ćŗnico, sacrossanto, a imagem de D’us.

Portanto, precisamos tanto da religiĆ£o quanto da ciĆŖncia. Albert Einstein declarou isso em uma frase famosa:

“A ciĆŖncia sem religiĆ£o Ć© manca. A religiĆ£o sem ciĆŖncia Ć© cega.”

Precisamos de ambos: ciĆŖncia para entender o universo e religiĆ£o para guiar nosso caminho dentro dele, do mundo como ele Ć© para o mundo como deveria ser: um mundo de paz, justiƧa, compaixĆ£o e amor, quando nĆ³s, as criaƧƵes de D’us , honramos a D’us, nosso Criador.


Assista Ć  animaĆ§Ć£o do Rabino Sacks

Para os interessados a versĆ£o do YouTube deste vĆ­deo contĆ©m legendas em diversos idiomas.