Nilton Bonder diz que pandemia ensina o ser humano a viver
Crise aguçou sentimentos e estimulou a valorização do relacionamento com o outro, diz o escritor, que lança o livro 'Cabala e a arte de apreciação do afeto'
Nilton Bonder
Nilton Bonder usa elementos da cabala para discutir o viver e existir neste momento de crise
(foto: Leo Martins/divulgação )
"Se por um lado a existência ficou muito fragilizada e limitada, pois não podÃamos sair de casa, encontrar pessoas e até o sustento para alguns ficou muito difÃcil, do ponto de vista dos afetos aconteceu o contrário. O ser humano passou a ter outra valorização para experiências da vida"
Nilton Bonder, rabino e escritor
Viver e existir, eis a questão? Bem, depende. Vivemos e existimos, não necessariamente nesta ordem, como explica o rabino e escritor Nilton Bonder.
“A dimensão da existência é a da sobrevivência. É quando a gente está sempre preocupado em garantir o sustento, ter saúde, são aspectos muito perceptÃveis a todos. Agora, nem só de pão vive o ser humano. Há outra categoria tão importante que é o que chamo viver: é a maneira pela qual impacto o mundo e o mundo me impacta. Tem a ver com projetos e expectativas que, muitas vezes, não existem no mundo concreto.”
É a partir desta reflexão que Bonder dá inÃcio a seu novo livro. Com lançamento nesta segunda (28/2) pela editora Rocco, “Cabala e a arte de apreciação do afeto” é o quinto tÃtulo dos sete previstos para a coleção “Reflexos e refrações”. É também seu 26º livro desde a estreia, em 1989, com “A dieta do rabino: A cabala da comida”.
“Me vejo muito misturado com os dois (o rabino e o escritor). Mas neste momento da vida, tenho propositalmente buscado menos a rotina do rabino, que tive por muitas décadas, e me colocado mais no trabalho da escrita da arte e da cultura”, diz Bonder, de 64 anos, 35 deles dedicados ao rabinato.
Gaúcho radicado no Rio de Janeiro, ele está à frente da Congregação Judaica do Brasil. É conhecido pelo pensamento progressista e pela intensa atividade no meio cultural.
Bonder já foi premiado com o Jabuti na categoria religião e tem volumes lançados na Holanda, Itália, Alemanha, China, Rússia, Coreia do Sul, Espanha, República Tcheca e nos Estados Unidos.
NO TEATRO COM CLARICE
A adaptação teatral de “A alma imoral”, com Clarice Niskier, é apresentada há 15 anos – em setembro de 2021, a atriz, comemorando 40 anos de carreira, fez uma sessão do monólogo no Cine-Theatro Brasil Vallourec, em BH. O livro acabou gerando um documentário e uma série homônima, com cinco episódios, lançados em 2018 pelo Canal Curta! – ambos dirigidos pelo cineasta Silvio Tendler.