Gabriel Bach, 93 anos, que era assistente da Promotoria no momento da captura de Adolf Eichmann e ex-juiz da Suprema Corte Suprema. Foto de 3 de maio de 2020 em JerusalƩm
Blog Judaico
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Poucos dias depois da espetacular captura na Argentina do nazista Adolf Eichmann, uma ligaĆ§Ć£o mudou a vida de Gabriel Bach, quando ele recebeu a missĆ£o de comandar a investigaĆ§Ć£o para o julgamento em Israel de um dos arquitetos da "soluĆ§Ć£o final".
Bach era assistente da Promotoria quando o ex-tenente-coronel das SS Adolf Eichmann foi sequestrado em 11 de maio de 1960 por agentes do Mossad perto de Buenos Aires, e depois drogado e transportado para Israel em um voo da companhia El Al.
A captura de Eichmann, anunciada 12 dias depois pelo primeiro-ministro Ben Gurion, teve o efeito de um terremoto em Israel e no exterior. Aos 33 anos, Bach foi convocado pelo ministro da JustiƧa, Pinhas Rosen.
"El disse: 'Senhor Bach, imagino que serĆ” um dos promotores do caso, mas tenho um pedido especial para vocĆŖ: Pode ficar responsĆ”vel pela investigaĆ§Ć£o de Eichmann?'", recorda Ć AFP o aposentado, de 93 anos, que mora em JerusalĆ©m, atualmente em confinamento devido Ć pandemia do novo coronavĆrus.
- Um postal de Auschwitz -
Em abril de 1961, o procurador-geral Gideon Hausner comandou os procedimentos legais contra Eichmann, julgado por seu papel no Holocausto, o extermĆnio de judeus pela Alemanha nazista, durante o julgamento em JerusalĆ©m diante das cĆ¢meras de todo o mundo e de enviados especiais famosos, como Joseph Kessel e Hannah Arendt.
Mas foi Bach que, durante meses, dirigiu a investigaĆ§Ć£o preliminar, liderando uma equipe de 40 policiais em uma prisĆ£o do norte de Israel, onde Eichmann ficou detido.
Seis dĆ©cadas depois, Bach nĆ£o esqueceu de nada: "NĆ£o passa um dia sem que eu recorde um elemento em particular, uma prova ou um momento especĆfico no julgamento de Eichmann", comenta.
Antes de conhecer o nazista, vĆ”rias histĆ³rias de suas vĆtimas marcaram o promotor, como a forma como Eichmann obrigava os prisioneiros dos campos de extermĆnio a escrever postais a seus parentes para exaltar a "beleza" de Auschwitz. Desta maneira, o criminoso pensava que mais judeus embarcariam nos trens que os transportavam para sua prĆ³pria morte.
Em seu primeiro encontro com Eichmann, Bach informou que estava coordenando a investigaĆ§Ć£o. "Eu disse a ele que, se tivesse um problema especĆfico, fĆsico ou de outro tipo, ou relacionado a sua famĆlia, eu estaria disposto a conversar com ele", disse.
Mas depois restringiu o contato direto, para assegurar que nĆ£o divulgaria elementos da investigaĆ§Ć£o.
Bach recorda um raro momento em que Eichmann perdeu a paciĆŖncia, por um motivo inesperado. O acusado foi levado ao tribunal para ver imagens dos campos de extermĆnio. Durante a projeĆ§Ć£o, Eichmann parecia agitado e Bach depois perguntou o que o incomodava.
"Apesar da promessa de que sempre me levariam ao tribunal com um terno azul, me deram um terno cinza", respondeu Eichmann, segundo Bach.
- MissĆ£o cumprida -
Eichmann nĆ£o foi o primeiro contato de Bach com os nazistas. Quando era crianƧa, ele morou em Berlim e frequentou uma escola prĆ³xima de praƧa que na Ć©poca se chamava Adolf Hitler.
Diante do aumento do antissemitismo, sua famĆlia abandonou Berlim em 1938, duas semanas antes da "Noite dos Cristais", em 9 de novembro, durante a qual foram incendiadas sinagogas e dezenas de judeus foram assassinados na Alemanha.
Na estaĆ§Ć£o de Berlim, correndo para entrar no trem com destino Ć Holanda, Bach ainda recorda de um chute que recebeu de um oficial nazista na plataforma de embarque. "Literalmente me expulsaram aos chutes da Alemanha", conta.
Depois de passar pela Holanda, a famĆlia seguiu para a Palestina.
Em 1948, uma parte da Palestina, sob mandato britĆ¢nico, se tornou Israel. No mesmo perĆodo, Eichmann obteve autorizaĆ§Ć£o para viajar Ć Argentina, onde chegou em agosto de 1950 e trabalhou em uma empresa de construĆ§Ć£o. Mais tarde atuou como capataz nas fĆ”bricas Mercedes-Benz com uma identidade falsa.
Em 15 de dezembro de 1961 a sentenƧa foi anunciada: morte por enforcamento. Eichmann apresentou uma apelaĆ§Ć£o, mas o recurso foi rejeitado. A Ćŗnica esperanƧa que restava era a clemĆŖncia do presidente Itzhak Ben-Zvi.
No fim de maio 1962, os promotores souberam que o presidente estava a ponto de toma uma decisĆ£o. Surgiu entĆ£o uma nova pergunta que dividiu os magistrados: quando executar Eichmann em caso de confirmaĆ§Ć£o da sentenƧa?
Alguns afirmaram que a pressa nĆ£o era necessĆ”ria, recorda Bach, que nĆ£o concordava: o jovem promotor temia que um simpatizante nazista no exterior sequestrasse uma crianƧa judia e ameaƧasse matar o refĆ©m em uma tentativa de cancelar a possĆvel execuĆ§Ć£o.
Se o pedido de clemĆŖncia "for rejeitado Ć s 23H00, devemos executar (Eichmann) Ć meia-noite", argumentou. "E foi isto que aconteceu na noite de 31 de maio.
"A polĆcia me convidou, mas eu nĆ£o queria estar ali (na execuĆ§Ć£o). Nosso trabalho jĆ” estava feito", disse.
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