Nova temporada da série 'Fauda' mostra o inferno na Faixa de Gaza
Cidadãos inocentes pagam o preço da crescente escalada da violência no conflito entre israelenses e palestinos. Episódios vão ar nesta quinta-feira (16), na Netflix.
Não há vencedores em Fauda, série que acompanha uma unidade secreta israelense operando nos territórios palestinos. A terceira temporada, que estreia nesta quinta-feira(16), na Netflix, dá um passo além. Coloca no centro da trama cidadãos inocentes que nada têm a ver com o conflito israelo-palestino, mas se veem envolvidos, contra a vontade, na disputa. É um caminho sem volta e o preço a ser pago é muito alto.
Fauda (caos, em árabe) é a primeira série israelense de destaque falada em árabe e hebraico. Lançada localmente em 2015, a atração ganhou o mundo, no ano seguinte, ao chegar ao catálogo da Netflix. O jornal The New York Times a colocou em oitavo lugar em uma lista publicada no final de 2019, que elencou os 30 melhores seriados internacionais da última década.
Produzida pelo canal israelense Yes, a terceira temporada estreou naquele país em dezembro de 2019. Nas 48 horas seguintes à exibição na TV, o primeiro episódio teve 1 milhão de acessos via streaming – vale lembrar que a população de Israel é de 9 milhões de habitantes.
Para quem está chegando agora, Fauda tem como protagonista Doron Kavillio (Lior Raz, cocriador da série em parceria com Avi Issacharoff). Experiente integrante da unidade secreta israelense, o personagem encabeçou, na primeira temporada, a caça a um terrorista do Hamas. No segundo ano, ele se viu envolvido em vendeta pessoal com um novo inimigo, que pretendia levantar a bandeira do Estado Islâmico nos territórios palestinos.
Hebron
A nova temporada tem cenário diferente. Os primeiros episódios são ambientados em Hebron, a maior cidade da Cisjordânia. Mas logo a ação se transfere para um território ainda não explorado: a Faixa de Gaza.
O enclave palestino vive sob o bloqueio imposto por Israel desde 2007, ano em que o Hamas assumiu o poder na faixa costeira. Desde então, Israel e Hamas travaram três guerras. Por razões mais do que óbvias, as cenas em Gaza foram rodadas em outros locais: as cidades árabe-israelenses de Kfar Kassem e Jisr al-Zarqa, no Centro e no Norte do estado judeu.
Passional, ousado e sempre envolvido pessoalmente nas missões, Doron, ao longo dos anos, vem colecionando sucessivas perdas. No início da temporada, ele está infiltrado em Hebron. Há seis meses sob nova identidade, é o treinador de um jovem pugilista em ascensão, Bashar Hamdan (Ala Dakka). O rapaz é de uma ingenuidade irritante. Nunca se envolveu em qualquer conflito, só pensa na carreira e em deixar a Cisjordânia com a namorada beduína. Porém, laços familiares o impedem de seguir esse caminho.
Bashar é filho de um importante integrante de uma organização paramilitar recém-libertado, depois de passar 20 anos na prisão. Doron é o pai que o rapaz nunca teve. O retorno do patriarca da cadeia abala a vida do jovem. Em meio a isso, há também o primo envolvido com terrorismo. Sem culpa, pelo menos no momento inicial, Bashar entra numa roda viva de mortes, sequestros e traições. Como nas temporadas anteriores, um terrorista do primeiro escalão é perseguido pelos israelenses.
BERLINDA
A escalada de violência tem Gaza – “o inferno na terra”, não se cansam de dizer os agentes infiltrados – como principal cenário. Numa ação incessante, acompanhamos o grupo de Doron agindo pela primeira vez sem apoio. Erros sucessivos colocam os agentes na berlinda e novamente nos perguntamos se eles não foram longe demais.
Fauda é israelense e já foi acusada, mais uma vez, de unilateral. A principal crítica à série é a de colocar agentes israelenses sempre acima dos personagens palestinos. Nem tanto ao céu nem tanto à terra, é o que os novos episódios mostram.
Doron vai carregar uma tonelada de culpa a cada novo episódio. Fica claro que a trilha involuntária de Bashar para ações consideradas terroristas foram consequência dos erros que o agente cometeu.
Mocinhos e bandidos não se encaixam bem no conceito dos novos episódios. Não há como não sentir empatia pela família palestina que busca vingança depois de ter, literalmente, a casa implodida pelo Exército israelense. Ou então entender por que o funcionário de um sheik resolve se tornar colaborador de Israel.
AÇÃO
Não há problema para quem quiser assistir a Fauda sem se aprofundar em tais questões. As cenas de ação – e há muitas, em todos os episódios – são seu maior mérito. A câmera está sempre em constante movimento e a edição é muito ágil. Boa parte das sequências foi rodada em locações sempre com muita gente e barulho. É esse realismo que prende o espectador, motivando-o a ir de um episódio a outro sem parar. O suspense deixado ao fim de cada capítulo vem da escola da TV convencional, já que Fauda é exibida semanalmente em Israel.
Quanto à caracterização, não há aquele ar higienizado de boa parte da produção americana. Os personagens são o que são: fumam e bebem demais (como aguentar a vida de agente infiltrado se não dessa maneira?); passam horas entediados à espera da ação; choram e se descabelam quando se veem no fundo do poço. Enfim, seja de que lado estejam, são pessoas comuns que tiveram a vida transformada por causa de um conflito histórico sem previsão de terminar.
Na nova temporada, especificamente, há ênfase na vida pessoal dos companheiros de Doron na unidade secreta. Se a vida do protagonista é sempre um caos – agora ele está não apenas separado dos filhos, mas só pode vê-los em visitas controladas –, a dos colegas não fica atrás. Tem o agente que sofre um bocado com o filho recém-nascido e a mulher em depressão pós-parto; o outro que tenta se curar da dor de cotovelo porque a namorada o trocou por outro; um terceiro que se fecha com a família por causa do erro que cometeu. É banal, como a vida. A diferença está no instrumento de trabalho dos personagens: a submetralhadora Uzi.
NO FRONT
Lior Raz e Avi Issacharoff levaram para Fauda o mundo que conhecem. No passado, os dois serviram em unidade semelhante àquela representada na série. Também jornalista, Issacharoff cobriu de perto o conflito israelo-palestino.
Com a consagração de Fauda, a dupla está dando outros passos. Está prevista para chegar este ano à Netflix nova série escrita pelos dois. Hit and run, protagonizada por Lior, é um drama rodado nos Estados Unidos e em Israel. O ator vai interpretar Segev Azulay, homem casado e feliz cuja vida vira do avesso quando a mulher é morta em um misterioso acidente de carro.
FAUDA
Terceira temporada
12 episódios
Netflix
Estreia nesta quinta-feira (16)
Tags: Fauda Fauda terceira temporada Fauda Netflix Lior Raz Ala Dakka Israel Palestina série
Blog Judaico
Receba nossa newsletter
Cidadãos inocentes pagam o preço da crescente escalada da violência no conflito entre israelenses e palestinos. Episódios vão ar nesta quinta-feira (16), na Netflix.
O jovem lutador Bashar Hamdan (Ala Dakka) tenta, sem sucesso, escapar do mundo violento do qual seu mentor, Doron Kavillio (Lior Raz), faz parte (foto: Fotos: NETFLIX/DIVULGAÇÃO) |
Fauda (caos, em árabe) é a primeira série israelense de destaque falada em árabe e hebraico. Lançada localmente em 2015, a atração ganhou o mundo, no ano seguinte, ao chegar ao catálogo da Netflix. O jornal The New York Times a colocou em oitavo lugar em uma lista publicada no final de 2019, que elencou os 30 melhores seriados internacionais da última década.
Produzida pelo canal israelense Yes, a terceira temporada estreou naquele país em dezembro de 2019. Nas 48 horas seguintes à exibição na TV, o primeiro episódio teve 1 milhão de acessos via streaming – vale lembrar que a população de Israel é de 9 milhões de habitantes.
Para quem está chegando agora, Fauda tem como protagonista Doron Kavillio (Lior Raz, cocriador da série em parceria com Avi Issacharoff). Experiente integrante da unidade secreta israelense, o personagem encabeçou, na primeira temporada, a caça a um terrorista do Hamas. No segundo ano, ele se viu envolvido em vendeta pessoal com um novo inimigo, que pretendia levantar a bandeira do Estado Islâmico nos territórios palestinos.
A vida pessoal de Doron Kavillio (Lior Raz) e Hila Bashan (Marina Blumin) é destroçada em meio ao conflito político no Oriente Médio |
Hebron
A nova temporada tem cenário diferente. Os primeiros episódios são ambientados em Hebron, a maior cidade da Cisjordânia. Mas logo a ação se transfere para um território ainda não explorado: a Faixa de Gaza.
O enclave palestino vive sob o bloqueio imposto por Israel desde 2007, ano em que o Hamas assumiu o poder na faixa costeira. Desde então, Israel e Hamas travaram três guerras. Por razões mais do que óbvias, as cenas em Gaza foram rodadas em outros locais: as cidades árabe-israelenses de Kfar Kassem e Jisr al-Zarqa, no Centro e no Norte do estado judeu.
Passional, ousado e sempre envolvido pessoalmente nas missões, Doron, ao longo dos anos, vem colecionando sucessivas perdas. No início da temporada, ele está infiltrado em Hebron. Há seis meses sob nova identidade, é o treinador de um jovem pugilista em ascensão, Bashar Hamdan (Ala Dakka). O rapaz é de uma ingenuidade irritante. Nunca se envolveu em qualquer conflito, só pensa na carreira e em deixar a Cisjordânia com a namorada beduína. Porém, laços familiares o impedem de seguir esse caminho.
Bashar é filho de um importante integrante de uma organização paramilitar recém-libertado, depois de passar 20 anos na prisão. Doron é o pai que o rapaz nunca teve. O retorno do patriarca da cadeia abala a vida do jovem. Em meio a isso, há também o primo envolvido com terrorismo. Sem culpa, pelo menos no momento inicial, Bashar entra numa roda viva de mortes, sequestros e traições. Como nas temporadas anteriores, um terrorista do primeiro escalão é perseguido pelos israelenses.
BERLINDA
A escalada de violência tem Gaza – “o inferno na terra”, não se cansam de dizer os agentes infiltrados – como principal cenário. Numa ação incessante, acompanhamos o grupo de Doron agindo pela primeira vez sem apoio. Erros sucessivos colocam os agentes na berlinda e novamente nos perguntamos se eles não foram longe demais.
Fauda é israelense e já foi acusada, mais uma vez, de unilateral. A principal crítica à série é a de colocar agentes israelenses sempre acima dos personagens palestinos. Nem tanto ao céu nem tanto à terra, é o que os novos episódios mostram.
Doron vai carregar uma tonelada de culpa a cada novo episódio. Fica claro que a trilha involuntária de Bashar para ações consideradas terroristas foram consequência dos erros que o agente cometeu.
Mocinhos e bandidos não se encaixam bem no conceito dos novos episódios. Não há como não sentir empatia pela família palestina que busca vingança depois de ter, literalmente, a casa implodida pelo Exército israelense. Ou então entender por que o funcionário de um sheik resolve se tornar colaborador de Israel.
AÇÃO
Não há problema para quem quiser assistir a Fauda sem se aprofundar em tais questões. As cenas de ação – e há muitas, em todos os episódios – são seu maior mérito. A câmera está sempre em constante movimento e a edição é muito ágil. Boa parte das sequências foi rodada em locações sempre com muita gente e barulho. É esse realismo que prende o espectador, motivando-o a ir de um episódio a outro sem parar. O suspense deixado ao fim de cada capítulo vem da escola da TV convencional, já que Fauda é exibida semanalmente em Israel.
Quanto à caracterização, não há aquele ar higienizado de boa parte da produção americana. Os personagens são o que são: fumam e bebem demais (como aguentar a vida de agente infiltrado se não dessa maneira?); passam horas entediados à espera da ação; choram e se descabelam quando se veem no fundo do poço. Enfim, seja de que lado estejam, são pessoas comuns que tiveram a vida transformada por causa de um conflito histórico sem previsão de terminar.
Na nova temporada, especificamente, há ênfase na vida pessoal dos companheiros de Doron na unidade secreta. Se a vida do protagonista é sempre um caos – agora ele está não apenas separado dos filhos, mas só pode vê-los em visitas controladas –, a dos colegas não fica atrás. Tem o agente que sofre um bocado com o filho recém-nascido e a mulher em depressão pós-parto; o outro que tenta se curar da dor de cotovelo porque a namorada o trocou por outro; um terceiro que se fecha com a família por causa do erro que cometeu. É banal, como a vida. A diferença está no instrumento de trabalho dos personagens: a submetralhadora Uzi.
NO FRONT
Lior Raz e Avi Issacharoff levaram para Fauda o mundo que conhecem. No passado, os dois serviram em unidade semelhante àquela representada na série. Também jornalista, Issacharoff cobriu de perto o conflito israelo-palestino.
Com a consagração de Fauda, a dupla está dando outros passos. Está prevista para chegar este ano à Netflix nova série escrita pelos dois. Hit and run, protagonizada por Lior, é um drama rodado nos Estados Unidos e em Israel. O ator vai interpretar Segev Azulay, homem casado e feliz cuja vida vira do avesso quando a mulher é morta em um misterioso acidente de carro.
FAUDA
Terceira temporada
12 episódios
Netflix
Estreia nesta quinta-feira (16)
Tags: Fauda Fauda terceira temporada Fauda Netflix Lior Raz Ala Dakka Israel Palestina série