
Israel pode estar perante o mais complexo caso de fuga de informação da
sua breve história enquanto país. Os dados de 6,5 milhões de eleitores - nomes
completos, números de bilhete de identidade, cartas de condução, moradias, etc -
poderão ter ido parar às mãos de agências de informações inimigas, em
particular dos serviços secretos iranianos.
De acordo com o Haaretz, os serviços de informações da Mossad e das operações especiais são
pontos sensíveis da organização israelense que poderão agora estar expostos a
interesses inimigos nesta fuga de dados de 6,5 milhões de cidadãos.
O jornal escreve que os serviços de
informações da Mossad e das operações especiais são pontos sensíveis da
organização israelense que poderão agora estar expostos a interesses inimigos
nesta fuga de dados de 6,5 milhões de cidadãos.
O deslize ocorre a escassas três
semanas de um ato eleitoral crucial para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
e envolve a Elector Software, uma
pequena empresa que desenvolveu uma app para os celulares com vista às
campanhas e que estão a ser usadas pelo Likud de Netanyahu e outros partidos. O cruzamento de dados poderá permitir
identificar pessoas vivas ou falecidas cujas identidades estão a ser usadas em
missões secretas para ocultar ou dar credibilidade a cenários de encobrimento.
Esta app permite aceder a todo o caderno
eleitoral e é usada para pôr as eleições em andamento e manter o contacto com
vai votar. É neste contexto que são revelados
todos os dados sobre os eleitores: nomes completos, número dos bilhetes de
identidade, gênero, números de telefone e moradas.
O Haaretz refere
aqui o problema que esta violação de sigilo representa para milhares de
funcionários da Mossad e do Shin Bet, os principais serviços de informações israelenses.
Em causa igualmente departamentos como a comissão israelense da
energia atômica ou as forças armadas (IDF – Israel Defense Forces), em
particular pilotos, pessoal dos serviços secretos, forças especiais e
cientistas nucleares.
Trata-se aqui de uma falha de segurança
que poderá, em última instância, obrigar o aparelho israelense a chamar a casa
agentes infiltrados em outros países e reconfigurar toda a rede de espionagem
no estrangeiro. Os receios serão os de terem sido
queimados agentes através da revelação de dados que poderão levar – uma vez que
muitas das vezes os espiões recorrem a identidades que não as suas – à sua
identificação através do cruzamento com outros dados.Elector Software. A questão faz
lembrar o escândalo com a britânica Cambridge Analytica, que interferiu em
vários processos eleitorais, sendo o mais célebre o norte-americano que
resultou na eleição de Donald Trump.
O site israelense
sugere mesmo que este leak constitui
uma mina de ouro para inimigos como os serviços de informações iranianos e o
Hezbollah, não desprezando a valia que têm igualmente para agências com
relações mais ou menos amistosas com Israel.
O Haaretz lembra
que “nas últimas três décadas agentes da Mossad ficaram expostos enquanto
viajavam com passaportes falsos” de várias nacionalidades que não a de Israel.
No quadro desta fuga em massa de dados,
a questão que mais parece preocupar é a possibilidade de ligar as identidades
do registro eleitoral com atividades levadas a cabo por israelenses no
estrangeiro. Em causa ficam as operações e a
segurança dos agentes envolvidos.
O referido cruzamento de dados pode
levar agências hostis a identificar não apenas pessoas vivas como também
pessoas falecidas cujas identidades estão a ser usadas em missões secretas para
ocultar ou dar credibilidade a cenários de encobrimento.
No imediato, poderá verificar-se
desde logo uma intromissão no processo eleitoral israelense, crucial para o
primeiro-ministro Netayahu, que enfrenta várias acusações que poderiam levá-lo
a prisão efetiva em caso de condenação. Mas, claro, para enfrentar o
julgamento, Benjamin Netanyahu terá, antes de tudo, perder a proteção da sua
imunidade enquanto chefe do Governo.
Numa dimensão que não a da segurança israelense,
a questão da app da Elector Software faz ainda lembrar o escândalo Cambridge
Analytica, a empresa britânica que durante anos interferiu de forma decisiva em
vários processos eleitorais, o mais célebre a eleição de Donald Trump nos
Estados Unidos.
E tudo começava para a Cambridge
Analytica com o aproveitamento de dados pessoais, provenientes de fugas, de
recolhas, de compra ou de roubo informático. A fase seguinte era manipulação
e a fabricação de receitas personalizadas para reverter o sentido de voto na direção
dos candidatos que recorriam aos seus serviços de consultoria.
A empresa enfrentou processos legais que levaram ao seu encerramento.
Alguns dos seus principais colaboradores reconheceram o caráter ilegal da sua ação
durante os processos eleitorais em que estiveram envolvidos e o perigo que a
Cambridge Analytica representava para a democracia.