
Por Yuval Karni - Publicado no Ynet em 30/1/20
Apesar de que ninguém está discutindo se a israelense presa na Rússia deveria ser trazida de volta para casa, a tentativa de Netanyahu de desfilar com ela por aí na esperança de ganhar votos nas próximas eleições não é menos do que uma vergonha.
Comecemos pelo final: Naama Issachar merece retornar para casa, para Israel. Ele foi detida por possuir uma quantidade relativamente pequena de maconha enquanto estava em uma conexão no caminho da Índia para Israel, acusada de tentativa de contrabando e recebeu um castigo extremo e desproporcional de sete anos e meio de prisão.
O Estado de Israel é um dos poucos países do mundo que trabalha incansavelmente para ajudar seus cidadãos em momentos de dificuldades no exterior, mesmo quando o problema em questão é de natureza criminal. Alguns podem discordar dessa política, mas ela é um fato.
A luta de Naama e sua mãe Yafa é mais que justificada. A assistência prestada pelo governo de Israel também é justificada. A atmosfera aparentemente de festival em torno da sua libertação, entretanto, é nada menos que ridícula e fora de proporção.
As conversações que precederam seu perdão e subsequente libertação poderiam facilmente ter sido feitas em segredo, através de diplomacia silenciosa, e o resultado provavelmente seria o mesmo.
É completamente inacreditável que um evento internacional destinado a marcar os 75 anos da liberação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau será lembrado pelas negociações sobre a libertação de Issachar da prisão.
De toda a transmissão do histórico evento, um vídeo enganoso ficou gravado na minha memória. O presidente russo Vladimir Putin, Benjamin e Sarah Netaniahu, bem como Yafa Issachar, todos desconfortáveis compartilhando o palco. Putin, em particular, parecia um peão num tabuleiro de xadrez, que não podia entender o que todo mundo queria dele. Pela glória do Estado de Israel.
O auge dessa coisa ridícula viria na tarde de quinta-feira. Netaniahu decidiu voltar de Washington - onde o plano de paz do Presidente Trump foi finalmente revelado - para Israel, via Moscou, para “consultar” com Putin sobre o “Negócio do Século”.
“Coincidentemente”, apenas algumas horas antes da visita do primeiro-ministro, Putin perdoou oficialmente a mulher israelense.
Trazer uma israelense envolvida em infrações penais a bordo do avião do primeiro-ministro como se fosse uma prisioneira de guerra não é menos do que vergonhoso.
Netanyahu tem o direito de alegar crédito por fazer um negócio para a sua libertação (e é um negócio, porque em troca entregou valiosos imóveis em Jerusalém), mas transformar essa tragédia humana em uma jogada política é terrivelmente cínico.
Como um à parte, não estou seguro de que a chegada de Naama em Israel e sua descida do avião num tapete vermelho, vai trazer um único voto para Netaniahu nas eleições do dia 2 de março.
Apesar de que ninguém está questionando se Naama deveria ser trazida para casa, há milhares de israelenses com problemas no mundo inteiro. Alguns sofreram injustiças, outros perseguição de natureza política e nunca ninguém ouviu falar deles.
Na Tailândia e na Ucrânia, israelenses têm sido presos por ofensas similares. Então, por que Naama? Porque nos é conveniente fazer negócios com Putin? Porque há eleições se aproximando em Israel? Talvez seja uma combinação de tudo isso junto.
Tradução: Jose Menasseh Zagury